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Musk: tudo e o seu contrário. Como o líder da Tesla mudou de opinião sobre bitcoin em menos de um mês

No final de abril, Musk defendia que a bitcoin promovia o crescimento das energias renováveis. Ontem, disse que tinha uma pegada ecológica demasiado grande. O que levou o líder da Tesla a rejeitar esta criptomoeda como forma de pagamento?

13 de Maio de 2021 às 12:10
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A questão do impacto ambiental da bitcoin é antiga, mas parece nunca ter sido um problema para Elon Musk. Nunca, até ontem, quando o líder da Tesla optou por deixar de aceitar esta criptomoeda como forma de pagamento na fabricante automóvel, apenas três semanas depois de lhe ter dado "luz verde". Afinal, poderá alguém ser entusiasta de bitcoin e amigo do ambiente, ao mesmo tempo?

A moeda digital depende dos chamados mineradores, que correm milhares de milhões de computadores ultra-potentes 24 horas por dia, fazendo disparar o consumo energético. Por ano, a bitcoin consome cerca de 130 terawatts por hora (TWh), calcula o Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Um valor que ganha significado quando a comparação são os consumos de vários países num ano: é quase tanto como os 131 TWh que a Suécia exigiu em 2019, mais que os cerca de 125 TWh da Noruega e da Argentina, e quase o triplo dos 48 TWh de Portugal, utilizando os dados por país publicados pela Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos.

E como quase dois terços da mineração ocorre na China, onde o carvão é a maior fonte de eletricidade, isso significa mais emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. Depois, também as transações na rede "blockchain" gastam muita energia, através de todos os computadores espalhados pelo mundo, que garantem também a segurança e transparência de todo este sistema. Quantos mais descentralizada a rede (leia-se, quantos mais computadores) mais segura ela é.

Mas o impacto ambiental da bitcoin não é novo e não impediu a Tesla de comprar 1,5 mil milhões de dólares em bitcoins, como parte do seu investimento. Também não impediu o facto de a empresa ter registado uma venda de 100 milhões de dólares em bitcoins, nos resultados trimestrais deste ano.

Desde a data em que foi feito o anúncio da compra, por parte da Tesla, até ao dia 31 de março, altura em que fechou o trimestre, o preço da bitcoin valorizou 21,5%. Assim, o investimento inicial da Tesla - tendo em conta o dia em que anunciou a compra de bitcoins e o último dia do trimestre - poderá ter valorizado 322 milhões de euros.

"O facto de a Tesla aceitar transações com bitcoins foi visto como um passo importante para o mercado de criptomoedas e agora a reversão de Musk terá um impacto negativo, a curto-prazo, na bitcoin", diz Daniel Ives, analista da Wedbush, acrescentando que, ainda assim, "a Tesla não venderá o seu investimento em bitcoin, uma vez que até agora tem-se revelado uma compra muito lucrativa".

Musk muda de opinião em menos de um mês
Há menos de três semanas, o dono do Twitter e também um grande entusiasta da bitcoin, Jack Dorsey, escrevia na mesma rede social que a bitcoin "incentivava a energia renovável". Um comentário que teve um apoiante de peso: Elon Musk. Agora, a sua opinião mudou drasticamente.


Também através desta rede social, o líder da Tesla fez uma publicação a dizer que a sua empresa "suspendeu as compras de veículos através de bitcoin", justificando esta escolha da seguinte forma: "estamos preocupados com o rápido aumento do uso de combustíveis fósseis para a mineração e transações, especialmente carvão, que é o combustível com mais emissões de todos".

Ainda assim, 
Musk não descartou o apoio às criptomoedas, uma vez que, na mesma publicação, diz que estas moedas digitais "são uma boa ideia a muitos níveis e acreditamos que terão um futuro promissor, mas isso não pode ser feito com um tão grande custo para o ambiente".

Mas esta semana, Musk já tinha "atacado" outra criptomoeda que tem vindo a dispararar, precisamente, graças ao seu apoio. No fim de semana, durante o popular programa "Saturday Night Live" (SNL), Musk disse que a dogecoin, uma moeda digital criada como um "meme", não é mais do que um "esquema".

O preço da moeda afundou 30% de seguida, depois de ter sido o próprio Musk - que ainda há poucas semanas se mostrava um grande fã da moeda - a impulsionar a sua cotação através de mensagens de apoio no Twitter. Musk chegou ao ponto de ponderar aceitar também dogecoin como forma de pagamento na Tesla, numa opção que teve o imediato apoio da comunidade nesta rede social.


No mesmo comunicado, o líder da Tesla indicou que está a avaliar outras criptomoedas que não gastem tantos recursos energéticos, argumentando que a sua próxima opção, dentro deste mundo, terá de consumir menos de 1% da energia que a bitcoin consome, numa altura em que existem várias opções mais amigas do ambiente.

Algumas criptomoedas não necessitam de recorrer à mineração, mas antes a um outro sistema chamado "staking", onde os proprietários das moedas são recompensados por mantê-la no seu portefólio, através de uma espécie de juro. É o caso, por exemplo, da ethereum 2.0, da tezos, da icon ou da algorand. 

Mesmo na mineração de bitcoin, tem existido uma tentativa de alterar o impacto ambiental da sua mineração, através da transferência destes centros de mineração para outras regiões, abundantes em sistemas hidroelétricos, como é o caso da Islândia, da Noruega ou do Canadá. A participação da China neste processo diminuiu para 65%, no segundo trimestre do ano passado, segundo o Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index.

Do lado dos apoiantes desta criptomoeda, os argumentos normalmente usados são os de que a pegada ecológica da bitcoin depende do uso e da importância que lhe é dada. Por exemplo, o seu impacto é bastante inferior (corresponde apenas a um terço) da indústria dos videojogos, só nos EUA, de acordo com a Bloomberg.

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