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Musk: tudo e o seu contrário. Como o líder da Tesla mudou de opinião sobre bitcoin em menos de um mês
No final de abril, Musk defendia que a bitcoin promovia o crescimento das energias renováveis. Ontem, disse que tinha uma pegada ecológica demasiado grande. O que levou o líder da Tesla a rejeitar esta criptomoeda como forma de pagamento?
A moeda digital depende dos chamados mineradores, que correm milhares de milhões de computadores ultra-potentes 24 horas por dia, fazendo disparar o consumo energético. Por ano, a bitcoin consome cerca de 130 terawatts por hora (TWh), calcula o Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
E como quase dois terços da mineração ocorre na China, onde o carvão é a maior fonte de eletricidade, isso significa mais emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. Depois, também as transações na rede "blockchain" gastam muita energia, através de todos os computadores espalhados pelo mundo, que garantem também a segurança e transparência de todo este sistema. Quantos mais descentralizada a rede (leia-se, quantos mais computadores) mais segura ela é.
Mas o impacto ambiental da bitcoin não é novo e não impediu a Tesla de comprar 1,5 mil milhões de dólares em bitcoins, como parte do seu investimento. Também não impediu o facto de a empresa ter registado uma venda de 100 milhões de dólares em bitcoins, nos resultados trimestrais deste ano.
Desde a data em que foi feito o anúncio da compra, por parte da Tesla, até ao dia 31 de março, altura em que fechou o trimestre, o preço da bitcoin valorizou 21,5%. Assim, o investimento inicial da Tesla - tendo em conta o dia em que anunciou a compra de bitcoins e o último dia do trimestre - poderá ter valorizado 322 milhões de euros.
"O facto de a Tesla aceitar transações com bitcoins foi visto como um passo importante para o mercado de criptomoedas e agora a reversão de Musk terá um impacto negativo, a curto-prazo, na bitcoin", diz Daniel Ives, analista da Wedbush, acrescentando que, ainda assim, "a Tesla não venderá o seu investimento em bitcoin, uma vez que até agora tem-se revelado uma compra muito lucrativa".
Musk muda de opinião em menos de um mês
Há menos de três semanas, o dono do Twitter e também um grande entusiasta da bitcoin, Jack Dorsey, escrevia na mesma rede social que a bitcoin "incentivava a energia renovável". Um comentário que teve um apoiante de peso: Elon Musk. Agora, a sua opinião mudou drasticamente.
True
— Elon Musk (@elonmusk) April 22, 2021
Também através desta rede social, o líder da Tesla fez uma publicação a dizer que a sua empresa "suspendeu as compras de veículos através de bitcoin", justificando esta escolha da seguinte forma: "estamos preocupados com o rápido aumento do uso de combustíveis fósseis para a mineração e transações, especialmente carvão, que é o combustível com mais emissões de todos".
Ainda assim, Musk não descartou o apoio às criptomoedas, uma vez que, na mesma publicação, diz que estas moedas digitais "são uma boa ideia a muitos níveis e acreditamos que terão um futuro promissor, mas isso não pode ser feito com um tão grande custo para o ambiente".
Mas esta semana, Musk já tinha "atacado" outra criptomoeda que tem vindo a dispararar, precisamente, graças ao seu apoio. No fim de semana, durante o popular programa "Saturday Night Live" (SNL), Musk disse que a dogecoin, uma moeda digital criada como um "meme", não é mais do que um "esquema".
O preço da moeda afundou 30% de seguida, depois de ter sido o próprio Musk - que ainda há poucas semanas se mostrava um grande fã da moeda - a impulsionar a sua cotação através de mensagens de apoio no Twitter. Musk chegou ao ponto de ponderar aceitar também dogecoin como forma de pagamento na Tesla, numa opção que teve o imediato apoio da comunidade nesta rede social.
Do you want Tesla to accept Doge?
— Elon Musk (@elonmusk) May 11, 2021
No mesmo comunicado, o líder da Tesla indicou que está a avaliar outras criptomoedas que não gastem tantos recursos energéticos, argumentando que a sua próxima opção, dentro deste mundo, terá de consumir menos de 1% da energia que a bitcoin consome, numa altura em que existem várias opções mais amigas do ambiente.
Algumas criptomoedas não necessitam de recorrer à mineração, mas antes a um outro sistema chamado "staking", onde os proprietários das moedas são recompensados por mantê-la no seu portefólio, através de uma espécie de juro. É o caso, por exemplo, da ethereum 2.0, da tezos, da icon ou da algorand.
Mesmo na mineração de bitcoin, tem existido uma tentativa de alterar o impacto ambiental da sua mineração, através da transferência destes centros de mineração para outras regiões, abundantes em sistemas hidroelétricos, como é o caso da Islândia, da Noruega ou do Canadá. A participação da China neste processo diminuiu para 65%, no segundo trimestre do ano passado, segundo o Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index.
Do lado dos apoiantes desta criptomoeda, os argumentos normalmente usados são os de que a pegada ecológica da bitcoin depende do uso e da importância que lhe é dada. Por exemplo, o seu impacto é bastante inferior (corresponde apenas a um terço) da indústria dos videojogos, só nos EUA, de acordo com a Bloomberg.