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Desenhe o seu estruturado em casa

Uma das áreas de mais sucesso dos bancos portugueses é a emissão de produtos financeiros complexos, apesar de, em muitos casos, esse êxito não se reflectir em ganhos para os clientes.

Desenhe o seu estruturado em casa
07 de Julho de 2010 às 13:49
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Ao desenhar um produto estruturado à medida das suas expectativas, pode investir com capital garantido e ganhar mais de 4% por ano. Saiba como fazê-lo.

Uma das áreas de mais sucesso dos bancos portugueses é a emissão de produtos financeiros complexos, apesar de, em muitos casos, esse êxito não se reflectir em ganhos para os clientes. Ao ritmo da primeira metade de 2010, chega ao mercado um novo produto financeiro complexo todos os dias úteis, normalmente sob a forma de um depósito indexado ou dual ou de uma obrigação.

É por isso que o volume de negócio destes produtos, também conhecidos por "estruturados" por combinarem a "performance" de vários instrumentos financeiros, é calculado nas centenas de milhões de euros anuais. "São, na maioria dos casos, produtos que associam elevadas taxas de rendibilidade a alguns cenários como factor de atracção de investidores", explicou Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, numa apresentação sobre literacia financeira em Novembro passado.

Carlos Tavares referia-se a casos como o BPI Farmacêuticas 24% 2010-2013, comercializado entre Março e Abril: apesar de apenas pagar um juro de 24 por cento caso cinco acções valorizem em cerca de três anos, os responsáveis do Banco BPI usaram a percentagem na designação do produto. Basta uma das cinco acções não valorizar para o rendimento ser nulo. "Frequentemente, a probabilidade de sucesso associada a esses cenários é baixa e a rendibilidade esperada dos produtos é usualmente inferior à rendibilidade de aplicações de menor risco", acrescentou o presidente da CMVM, a entidade que regula e supervisiona estes produtos quando a estrutura de base não é um depósito.

Fique com a comissão para si
O que leva a maioria dos aforradores a constituir produtos financeiros complexos é a garantia de capital. São poucas as soluções que não garantem que, no final do prazo, o investidor não recebe pelo menos o dinheiro que aplicou. Segundo fontes do mercado, embora os estruturados não cobrem comissões às claras, os preços e as rendibilidades dos produtos tendem a incluir uma comissão implícita que ronda os dois por cento anuais. Por isso, se pudesse montar o seu próprio estruturado em casa, conseguiria, desde logo, poupar essas comissões implícitas.

Não é muito difícil criar o seu estruturado: basta que tenha algum dinheiro, acesso a um depósito a prazo generoso e um instrumento no qual quer apostar com garantia de capital.

Imagine que tem 100 mil euros, confia na subida das acções da Portugal Telecom e tem a sorte de conseguir uma depósito a prazo a um ano à taxa líquida de dois por cento. Se quer apostar com capital garantido nas acções da PT, divida o capital por um mais a taxa de juro para encontrar o montante que deve aplicar no depósito a prazo. Neste caso, dá 98.039,22 euros, que resulta de 100.000 ÷ 1,02. Com o restante (1.960,78 euros) compra acções da PT.

Daqui a um ano, o depósito a prazo transformou-se em 100 mil euros, graças aos juros. Tudo o que vier das acções da PT é ganho acima da garantia de capital. Se os títulos valerem perto de zero, então ficou com pouco mais do que seu capital inicial. Se as acções ganharem 50 por cento, a sua aposta accionista transforma-se em 2.941,17 euros, o que representa uma rendibilidade de 2,94 por cento sobre a aplicação total de início. Se as acções duplicarem, o ganho é de 3,92 por cento.

A estratégia da PT exemplifica o ponto de partida para o seu estruturado. Mudando os instrumentos envolvidos é possível encontrar apostas mais interessantes. Veja alguns exemplos na página seguinte.


Três receitas para um produto caseiro

Se quer investir o seu dinheiro, assumindo algum risco mas com a garantia de que não perderá o capital investido, não precisa de recorrer a um dos produtos estruturados comercializados pelas instituições financeiras. Faça o seu próprio produto e poupe nas comissões que teria de pagar ao banco. Conheça três receitas caseiras.

1. Apostar na subida da bolsa na próxima década
Prazo 10 anos
Investimento mínimo 1.460 euros
Ingredientes Certificados do Tesouro, BPI Reestruturações
Ganhos anuais potenciais 4,41%, se o fundo ganhar 6% por ano

Todos gostariam de investir na bolsa com capital garantido. E todos podem fazê-lo. Sabendo que a taxa de juro anual líquida dos Certificados do Tesouro está em cerca de 4,32 por cento num aforro a 10 anos, então o investidor que tenha 10 mil euros deve aplicar cerca de 6.983 euros neste instrumento de dívida. Esse valor resulta de 10.000 / (1 + 4,32% × 10). Assim, o investidor sabe que esses 6.983 euros darão origem faseadamente aos 10 mil euros de capital garantido. Os restantes 3.017 euros devem ser aplicados no BPI Reestruturações, o melhor fundo de acções globais segundo a Morningstar, ou noutro fundo accionista. No final da década, se o fundo render seis por cento por ano (o que deu nos últimos cinco anos), a rendibilidade anual da estratégia será de 4,41 por cento. Se o desempenho do fundo for nulo, a rendibilidade descerá para 2,67 por cento. Mesmo que o gestor perca 10 por cento por ano, graças à garantia de capital, a rendibilidade anual da estratégia ficará em um por cento.

2. Use alavancagem para chegar mais rápido ao destino
Prazo 1 ano
Investimento mínimo recomendado 100 mil euros Ingredientes Depósito Ouro Plus 12 meses, Lyxor ETF Leverage Euro Stoxx 50
Ganhos potenciais 4,60%, se acções europeias ganharem 50% por ano

Seleccionando um fundo com uma maior exposição às acções, é possível chegar mais depressa à rendibilidade esperada sem prejudicar a garantia de capital. Este exemplo usa o Depósito Ouro Plus 12 meses, em que o Banco Popular paga um juro anual de três por cento (isto é, 2,36 por cento líquidos) e o Lyxor ETF Leverage Euro Stoxx 50, um fundo cotado em Paris que tem uma exposição de 200 por cento ao índice Euro Stoxx 50. Assim, quando o índice sobre um por cento, espera-se que o fundo renda dois por cento. Esta estratégia é desenhada para quem acredita muito na valorização das acções europeias, mas não tem estômago para investir directamente no mercado.

Feitas as contas (100.000 / 1,0236),o aforrador deve aplicar 97.699,18 euros no depósito, enquanto os restantes 2.300,82 euros são investidos no fundo alavancado. Dentro de um ano, o depósito gera os 100 mil euros, enquanto o fundo rendeu o dobro do índice, se tudo correu bem. Se o índice tiver subido 50 por cento, o fundo terá duplicado, elevando a rendibilidade final da táctica para 4,60 por cento. Mesmo que o índice desvalorize 50 por cento, o que se traduz teoricamente na perda total da aplicação no fundo, o investidor não perde dinheiro.

3. Apostar na queda generalizada das acções chinesas
Prazo 6 meses
Investimento mínimo recomendado 125 mil euros
Ingredientes Depósito a prazo PrivatBank, Proshares Ultrashort FTSE/Xinhua China 25
Ganhos potenciais 2,78% em 6 meses, se acções chinesas perderem 40%

Depois de analisar a decisão do banco central de Pequim de flexibilizar a sua divisa, um investidor pode ter deduzido que as acções chinesas vão ter um semestre de fraqueza. Assim, para apostar com capital garantido na queda desses títulos é preciso encontrar um depósito a prazo generoso e um fundo que invista na queda da bolsa da China. Isso é possível com o depósito a prazo a seis meses da sucursal portuguesa do PrivatBank, que paga uma taxa anual bruta de quatro por cento (1,57 por cento líquidos efectivos nos seis meses), e o fundo Proshares Ultrashort FTSE/Xinhua China 25, cotado na bolsa de Nova Iorque. Este fundo pretende render duas vezes o oposto do índice, logo uma queda de 40 por cento transforma-se num ganho de cerca de 80 por cento.

Fazendo as contas, 123.067,83 euros (125.000 / 1,0157) devem ir para o depósito e os restantes 1932,17 euros para o fundo. Se as acções chinesas caírem 40 por cento no semestre seguinte, é de esperar uma rendibilidade efectiva de 2,78 por cento em seis meses. Contudo, se as acções se valorizarem, ao contrário
do que era esperado, graças à protecção do capital o investidor
não perde dinheiro.







Complexos por natureza

Os produtos financeiros complexos são, como o nome indica, complicados. Embora as entidades financeiros os vendam como alternativas a produtos de aforro conservadores, como depósitos a prazo, a verdade é que são necessários muitos conhecimentos de finanças para os entender. Saiba até onde pode ir a complexidade conhecendo quatro produtos lançados recentemente no mercado nacional.


EUR Notes BES 3 Anos Telecoms
Tipo Obrigações seniores
Emitente
Banco Espírito Santo
Rendibilidade anual mínima
0%
Rendibilidade anual máxima
6,65%

Quem adquiriu estas obrigações terá direito a receber um juro de 4,25 por cento no final do primeiro ano se as acções da Telefónica, da France Télécom, da Deutsche Telekom e da Vodafone se valorizarem. Se alguma não se valorizar, não recebe juros. No segundo ano, o juro pode ser de 8,5 por cento se as mesmas acções se valorizarem face à data inicial. Se isso não acontecer, é pago um juro de 4,25 por cento se já tiver sido pago no primeiro ano ou, então, não há juros. No terceiro e último ano, o juro pode subir a 12,75 por cento se as quatro acções se tiverem valorizado desde o início. Se isso não tiver acontecido, o juro pode ser igual ao pago no ano anterior ou nulo.

Invest Range Accrual WTI Crude - 3M
Tipo Depósito indexado
Emitente
Banco Invest
Rendibilidade mínima 3 meses
0%
Rendibilidade máxima 3 meses
0,40%

Por cada dia até 24 de Setembro de 2010 que o contrato de futuro do "crude" de Novembro de 2010 cotar dentro de um intervalo determinado, os investidores deste produto têm direito a receber um juro líquido de 0,0044 por cento. Assim, nos cerca de três meses do depósito indexado, é possível receber um rendimento máximo líquido de impostos de 0,40 por cento.

Euroinvest Fevereiro 2012
Tipo Depósito indexado
Emitente
Caixa Geral de Depósitos
Rendibilidade anual mínima
0%
Rendibilidade anual máxima
9,85%

Este depósito paga um juro após 18 meses indexado ao desempenho do índice accionistas Euro Stoxx 50. Se nesse período, o índice se valorizar até 19 por cento, os investidores recebem esse valor. Se o Euro Stoxx 50 perder, então é devolvido o capital, não havendo juros. Porém, se em algum momento o índice se valorizar mais de 19 por cento face ao valor inicial, então os depositantes recebem um magro juro de 1 por cento.

Selecção Rendimento Mundial
Tipo Depósito indexado
Emitente
Santander Totta
Rendibilidade anual mínima
0,4%
Rendibilidade anual máxima
Não aplicável

Ao fim dos quatro anos do produto, o Santander Totta pagará 65 por cento da diferença entre as rendibilidades de um cabaz de oito acções (Telefónica, Total, Siemens, Unilever, ENI, Vale, HSBC, PT) e de um cabaz de dois índices (Euro Stoxx 50, S&P500). Quanto maior a valorização das acções face aos índices, mais paga. Teoricamente, não há limite para a rendibilidade deste produto.



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