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Bolsa nacional recupera mais de 10% desde mínimos da crise
A crise acabou? Há quem o afirme, mas são poucos os que se atrevem. Timidamente, os especialistas começam a falar de recuperação, ainda que lembrem que certo é o incerto e que a volatilidade vai continuar. O mercado nacional registou o pior primeiro trime
A crise acabou? Há quem o afirme, mas são poucos os que se atrevem. Timidamente, os especialistas começam a falar de recuperação, ainda que lembrem que certo é o incerto e que a volatilidade vai continuar. O mercado nacional registou o pior primeiro trimestre de sempre e chegou a negociar em mínimos de quase dois anos.
Mas, desde então, Lisboa tem vivido melhores dias. O PSI-20 somou mais de 10% em 10 sessões.
"É cedo para dizer que vamos ter uma tendência positiva. Há uma recuperação e o PSI-20 acompanha essa melhoria do sentimento", afirma Pedro Pintassilgo, gestor de fundos da F&C. A bolsa nacional continua a ser uma das mais penalizadas da Europa e do Mundo, acumulando uma quebra de 16,5%. As últimas semanas têm sido pautadas por movimentos de correcção altista, que levaram o índice principal a avançar 10,77% desde o mínimo de Agosto de 2006 atingido a 17 de Março. Na opinião de Luís Bravo, responsável pela equipa de análise do Barclays, "há suporte positivo para estar nas acções nacionais", para quem tem uma estratégia a mais longo prazo.
Mas como se explica esta movimentação? A volatilidade está lá, a aversão ao risco também e a liquidez tarda em ser folgada, como mostra a subida das taxas interbancárias, as Euribor, que ontem voltaram a valorizar e atingir novos máximos do ano. Há, no entanto, a percepção, no mercado, de que o pior da crise que estalou no Verão já passou.
Bill Miller, gestor de fundos da Legg Mason, é um dos que acredita no fim da crise de crédito. Para o especialista, a operação de salvamento da Bear Stearns, protagonizada pela Reserva Federal e o JPMorgan, colocou um ponto final no período de grande turbulência e veio restabelecer parte da confiança.
Esta operação, em conjunto com os cortes de juros, as injecções de liquidez, os resultados acima do esperado na banca e os aumentos de capital anunciados animaram os investidores. Ontem o presidente da Fed, Ben Bernanke, deu mais um sinal positivo, ao afirmar que a contracção na economia americana será ligeira e que não prevê novos episódios como o da Bear Stearns.
"Acreditando que a Fed consegue restabelecer a confiança nos investidores" há margem para valorizações, defende Luís Bravo para quem em termos fundamentais não houve grandes alterações. Houve sim uma "fuga dos investidores para a qualidade", ou seja, para títulos que oferecem maior capacidade de geração de "cash flows" (fundos libertos).
O responsável do "research" do Barclays defende a exposição a títulos com historial de pagamento de dividendos e, também, de maior dimensão que, em Portugal, são escassos. O mercado accionista nacional é rico em pequenas capitalizações e foram estas que mais se evidenciaram nas últimas semanas, ainda que a banca, que tanto penalizou a bolsa de Lisboa, tenha sido preponderante para a subida do índice.
As construtoras encabeçam a lista das subidas, com a regressada Teixeira Duarte a avançar mais de 30%, ganhos aos quais a Mota-Engil, Soares da Costa e Cimpor não foram indiferentes. Estes títulos "recuperaram ainda muito pouco daquilo que perderam. Os níveis que atingiram foram muito baixos", afirma Pedro Pintassilgo.
Nas telecomunicações, a Zon e a PT foram as estrelas, depois de somarem mais de 5%, cada, na sessão de ontem, sendo que a Galp voltou a brilhar com uma subida de dois dígitos desde meados de Março. A Brisa, um título defensivo, avançou 1,78%, mas também é dos que menos perde no ano (-8,86%), enquanto a Sonae SGPS foi a única excepção. Acrescentou às perdas de 2008 uma quebra de 1,27%.