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A nova esquerda em Wall Street: jovens olham para a política para além do lucro

Durante 65 horas por semana, Zack Truelson trabalha para os hipercapitalistas de Wall Street. Aos sábados e domingos, trabalha pelos socialistas dos EUA.

Bloomberg
14 de Outubro de 2018 às 15:00
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Zack Truelson (na foto), 27 anos, faz parte de uma nova geração do sector financeiro que tem adoptado políticas progressistas de braços abertos. Até em Wall Street, profissionais na casa dos 20 e 30 anos migraram para a esquerda desde que o candidato Bernie Sanders injectou a social democracia na eleição presidencial em 2016.

 

Pode não fazer muito sentido num sector em que o dinheiro é a régua de tudo. Mas as pretensões antiquadas começam a escassear em Wall Street. Embora ainda exista muito conservadorismo no sector financeiro – que, afinal de contas, acredita no mercado livre -, as suas instituições e visões políticas estão em constante evolução.

 

Bancos e firmas de investimento disputam talentos com Silicon Valley. Todos querem contratar profissionais de elite, com credenciais globais e habilidade com tecnologia — e muitos deles são de esquerda. Para os chamados millennials, mudanças climáticas, desigualdade social e saúde pública estão no topo da lista de preocupações.

 

Ir de porta em porta

"Entre os mais jovens no sector financeiro, há mais gente aberta ao lado económico da social democracia", disse Truelson, coordenador de tecnologia da S-Network Global Indexes, que calcula índices do mercado accionista e processa dados de fusões e aquisições que movimentam milhares de milhões de dólares.

 

Com a proximidade das eleições parlamentares em Novembro, Truelson é voluntário da candidata Alexandria Ocasio-Cortez, que organizou a campanha de Sanders e tem entre as suas propostas taxar Wall Street para financiar a universidade pública gratuita e proteger os consumidores de riscos criados por bancos de investimento.

 

Candidatos como Ocasio-Cortez, Beto O’Rourke (democrata que pretende ficar com a vaga deixada pelo senador Ted Cruz, outro presidenciável, no Texas) e Ayanna Pressley (democrata que tenta eleger-se deputada por Boston) têm atraído muita gente que trabalha com acções e tendências de mercado e não com políticas públicas.

 

Banqueiros incomodados

Gus Christensen, de 46 anos, já trabalhou em bancos de investimento e concorreu sem sucesso pelo Partido Democrata à Assembleia Legislativa de Nova Iorque. Christensen conta que o partido está a ser transformado por pessoas de até 30 e poucos anos.

 

"Eles estão a trazer uma posição mais de esquerda à economia e é isso que gera polémica em Wall Street", disse Christensen, que já foi funcionário de JPMorgan Chase e Goldman Sachs Group e hoje é sócio de uma firma de investimentos imobiliários.

 

Há décadas, banqueiros engravatados concentravam-se em polos republicanos como Greenwich, no Estado de Connecticut. O sector financeiro expandiu-se e atraiu formandos de universidades de primeira linha com opiniões cosmopolitas e apreço saudável pelo dinheiro.

Os ex-presidentes democratas Bill Clinton e Barack Obama cultivaram doadores em bancos. E a tecnologia abriu as portas dos bancos a trabalhadores interessados em finanças e matemática avançada.

 

Recrutamento

Wall Street precisa de acomodar as opiniões destes funcionários porque as suas instituições disputam funcionários com empresas liberais de Silicon Valley, explica Jeff Hauser, do Centro de Pesquisa em Economia e Política, em Washington.

 

"Wall Street tem ficado para trás", realçou. "Silicon Valley é o lugar divertido para as pessoas mais novas. Se as firmas tentassem conter os funcionários mais jovens, o recrutamento ficaria ainda mais difícil."

 

A migração dos jovens financeiros na direcção do Partido Democrata não acontece em massa, mas reflecte a tendência da geração. Segundo o Centro de Pesquisas Pew, 59% dos eleitores americanos registados com idade entre 22 e 37 anos identificam-se como democratas. Entre quem tem 38 e 72 anos, a parcela de democratas é de 48%.

 

(Texto original: Wall Street's New Left: Millennials See a Politics Beyond Profit)

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