Notícia
Proibição de Pequim leva criptomoedas a cair mais de 5%
As principais criptomoedas do mercado estão a ser negociadas com quedas de mais de 5%, após a China ter declarado na sexta-feira ilegais todas as transações de moedas virtuais no seu território, medida considerada “ditatorial” por alguns especialistas.
O Banco Popular da China publicou sexta-feira um comunicado em que explica que as "criptomoedas não têm curso legal" e declarou que as transações através de moeda virtual são "ilegais" por "alterarem a ordem económica e financeira", o que os especialistas atribuem a uma medida de maior controlo estatal sobre a economia e as finanças da população.
A Bitcoin caiu 5,8% às 19:30 (18:30, em Lisboa) e estava a valer 42.115 dólares (cerca de 35.948 euros), enquanto o Ether perdeu 8,2%, tendo ficado próximo dos 8.900 dólares (cerca de 7.596 euros).
Em relação às causas que levaram o banco central chinês a agir contra as criptomoedas, os especialistas, contactados pela agência de notícias EFE, apontaram várias, entre as quais o controlo da economia pelo governo da China, a ausência de liberdade no país e a implementação da moeda digital pelos bancos centrais.
Para a sócia-gerente da Blockchain Intelligence, Almudena de la Mata, não é surpreendente que as criptomoedas provoquem uma reação adversa de alguns bancos centrais, uma vez que "’blockchains’ públicas e as suas criptomoedas são sistemas alternativos de troca de valor que fogem em grande parte do controlo das estruturas de poder tradicionais".
Reação que, na opinião do diretor-executivo da plataforma de negociação de criptomoedas Bit2Me, Leif Ferreira, é mais uma etapa do processo de censura do governo chinês para impedir a liberdade financeira dos cidadãos.
O cofundador da Onyze, empresa de guarda de ativos digitais, Álvaro Alcañiz, expressou o mesmo sentimento, que acredita que a medida provavelmente não ser a última a ser aplicada pelo executivo chinês contra ativos criptográficos, porque "há muitos anos vem aplicando um forte controlo sobre a sua economia, através de políticas muitas vezes restritivas".
"A isso ainda se acrescenta que a bitcoin, junto com o resto de criptoativos, está no outro extremo, pois defende uma liberdade e uma independência monetária" contrária aos seus interesses, explicou.
Almudena de la Mata avaliou ainda uma potencial relação entre a medida e o desenvolvimento das moedas digitais dos bancos centrais e alertou que uma batalha geopolítica interessante, devido à evolução das criptomoedas, uma vez que se perspetiva "uma competição pela hegemonia monetária na era das moedas digitais emitidas por bancos centrais".
Atualmente, a China está a desenvolver um projeto de yuan digital, uma versão digital renmimbi (denominação oficial da moeda chinesa), apoiada pelo Banco Popular da China e que vai ter o mesmo valor que yuan físico, projeto que, para Leif Ferreira, pretende submeter a população e eliminar qualquer alternativa de ser gratuito, como as criptomoedas.
"O yuan digital nada mais é do que uma medida contra a liberdade, é uma forma de manter a população controlada", afirmou.
Para Ferreira, se os bancos centrais aplicassem normas semelhantes, tornar-se-iam "ditatoriais", porque "um banco central não pode obrigar os cidadãos escolherem não utilizar bitcoin ou outras criptomoedas como dinheiro", sustentou.
Os especialistas consideraram que a medida da administração chinesa está a afetar o mercado global de criptomoedas, devido ao peso económico, político e demográfico deste país no mundo.
O diretor-executivo da Bit2me apontou que decisão do Banco Popular da China mostra incompetência das pessoas que trabalham nessas instituições bancárias e que se justificam para evitar a lavagem de dinheiro ou financiar o terrorismo, coisa que poderiam aplicar-se a qualquer banco central.
"Acho que o governo chinês tenta confundir a população com mensagens absurdas e enganosas", disse.