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Tokenização: ativos estão a saltar para o virtual (e Portugal começa a dar passos)

A tokenização, ou seja, a transação de ativos financeiros e reais para o universo virtual, está a crescer por regiões e setores diversos. Até 2030, as oportunidades de negócio podem representar 10% do PIB.
Fábio Carvalho da Silva 23 de Setembro de 2023 às 11:00

A transição de ativos para o universo virtual está a tornar-se uma tendência. Dos "agrotokens" (ou seja, a representação digital e titularizada de matérias-primas agrícolas), às ações ou imobiliário, quase tudo é tokenizável.

"O que a tokenização vai fazer é reduzir os custos de transação da economia, criando valor económico através da liquidez", diz Paulo Amaral, professor da Católica Lisbon Business and Economics. Assim este será "o maior fator de vantagem competitiva desde o aparecimento da web", defende o académico.

Uma vez chegados a 2030, a tokenização de ativos ilíquidos deverá representar cerca de 10% do PIB mundial em termos de oportunidade de negócio, de acordo com as estimativas da Schroders. Mas afinal o que é a tokenização?

"A tokenização de ativos é uma representação digital de ativos , desde financeiros a imobiliários, através de criptoativos numa base de dados descentralizada", explica Miguel Dinis Lucas, advogado associado da Taylor Wessing.

Há exemplos por várias geografias e classes de ativos. Na América Latina, a empresa Agrotokens decidiu replicar para o virtual soja produzida na Argentina, Brasil e Paraguai. Neste caso, cada criptoativo corresponde a uma tonelada de grãos, sendo batizado de "criptogrão". Passando do assento do trator para o balcão do banco, a tokenização pode ser aplicada às transações e aos centros de dados. No segmento da banca de investimento, este movimento pode ainda ser aplicado à oferta de produtos financeiros.

Em termos de transferências, a tokenização "poderá tornar as transações mais eficientes e transparentes, registando as informações num formato imutável, tornando-as acessíveis a todos os participantes do mercado", indica Arnaud Boyer, "chief digital officer" no BNP Paribas CIB.

Da banca para o setor energético, é ainda exemplo desta nova tendência a tokenização de ativos como os projetos de energias renováveis, o que "poderá abrir oportunidades de investimento em setores ESG [ambientais, sociais e de governo corporativo], promover a liquidez e fomentar um ecossistema de investimento mais inclusivo e sustentável", esclarece o responsável do BNP Paribas. A tokenização na energia pode ser usada "para facilitar o comércio de certificados de energia renovável ou créditos de carbono", acrescenta.

Outra das áreas em que a tokenização poderá encaixar é a gestão de cadeias de abastecimento, segundo o BNP Paribas, que defende que esta "pode aumentar a transparência e a rastreabilidade nas cadeias de abastecimento".

Como explicam Vishal Gaur, professor na Cornell University, e Abhinav Gaiha, gestor de produto na Google, num artigo publicado na Harvard Business Review, as cadeias de abastecimento sofrem, atualmente, de "erros de execução", sobretudo no que diz respeito aos inventários e aos pagamentos duplicados. Além da dificuldade de detetar estes erros previamente, há ainda de ter em conta que "quando o problema é descoberto ‘a posteriori’ é difícil e dispendioso verificar a sua origem ou corrigi-lo", alertam.

Ora, recorrendo à blockchain, a falta de rastreabilidade deixa de ser um problema, já que utilizando esta tecnologia "os ativos, como os pontos de inventário, encomendas e empréstimos recebem identificadores únicos, que funcionam como ‘tokens’ digitais (semelhantes à bitcoin)", explicam Vishal Gaur e Abhinav Gaiha. Além disso, os "players" na blockchain recebem "‘tokens’ únicos ou assinaturas digitais". Assim, cada passo da transação "é registado na blockchain como uma transferência de um ‘token’ de um ‘player’ para outro", acrescentam os dois especialistas.



 

Explicador
Cinco respostas para perceber a "tokenização"

Apesar de a tendência estar a crescer um pouco por todo o mundo, a tokenização ainda não é conhecida de todos. O Negócios explica o conceito e o que implica esta nova realidade tecnológica.

O que é a tokenização?
A tokenização é o processo pelo qual os ativos são sujeitos a uma representação digital, através de criptoativos numa base de dados descentralizada.

Todos os ativos são tokenizáveis?
Em teoria sim, na prática depende da regulação de cada jurisdição. Tecnicamente tanto ativos líquidos ou ilíquidos e, portanto, desde financeiros até imobiliários podem ser alvo de representações virtuais.

Qual o potencial?
Uma vez chegados a 2030, a tokenização de ativos ilíquidos deve representar 16,1 biliões de dólares (equivalente a 14,91 biliões de euros) e a 10% do PIB mundial em termos de oportunidade de negócio, de acordo a Schroders.

A tokenização é regulada?
Em algumas jurisdições, como na União Europeia (UE), esta matéria já está regulada. O novo regulamento do bloco sobre este tema - também conhecido como "DLT Pilot" - já está em vigor. Em Portugal, há um diploma de execução nacional (apesar de os regulamentos europeus não necessitarem de transposição), que confere poderes de supervisão sobre mercados tokenizados à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Como investir em ativos tokenizados?
Se detiver, por exemplo, "tokens" de ações pode detê-las na sua carteira digital, sem necessidade terceiros. O investimento poderá ser feito através de plataformas e fundos tokenizados e até diretamente entre destinatário e oferente, em alguns casos, caso a legislação de cada Estado assim o permita.

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