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“Rally” do Ano Novo está ameaçado
Fevereiro está a preparar-se para ser muito menos amigo dos investidores do que janeiro, com o entusiasmo que levou ao “rally” dos mercados bolsistas mundiais no mês passado – o maior em mais de sete anos – a dissipar-se devido a uma nuvem de desenvolvimentos negativos.
O responsável mais óbvio para a queda acentuada das ações na quinta e sexta-feira foi as novas dúvidas sobre a evolução das negociações entre os EUA e a China para evitarem uma escalada nas tarifas comerciais, a 1 de março, quando faltam apenas três semanas para o fim das tréguas. Os comentários do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre não ser provável que se reúna com o presidente da China, Xi Jinping, aumentaram as dúvidas sobre a proximidade de um acordo.
Mas uma panóplia de outras preocupações começa também a ganhar terreno, deixando os investidores com pouco apetite para dobrarem as apostas feitas em janeiro. A queda superior a 2% do Hang Seng China Enterprises na sexta-feira antecipa um regresso à negociação da China – cujos mercados têm estado encerrados devido às comemorações do ano chinês – em queda. O índice MSCI Ásia-Pacífico registou mesmo a maior queda num mês.
"Os mercados de ações fizeram uma grande recuperação desde as condições adversas de dezembro e enfrentam agora resistências técnicas", explicou Shane Oliver, estratega na AMP Capital. "Entretanto, uma série de balas ainda estão no ar, relacionadas com a guerra comercial, a paralisação federal dos EUA e o abrandamento económico mundial. Por isso, há um risco elevado a partir daqui", acrescentou.
Quais as maiores preocupações dos investidores a ter em conta:
Perspectivas de crescimento
Os dados sobre o mercado de trabalho e indústria dos EUA revelam-se mais fortes, a 1 de fevereiro, mas há muitas outras evidências de que apontam para que um abrandamento mundial esteja a ganhar lastro. O Banco Central da Austrália reviu em baixa as suas previsões de crescimento para o ano terminado em junho, em 0,75 pontos percentuais, para 2,5%. De realçar que a Austrália tem fortes laços com a economia chinesa, graças às exportações de ferro e carvão.
As preocupações europeias são mais profundas, e não é apenas com a recessão italiana ou a quebra da indústria alemã. As autoridades da União Europeia veem agora riscos "substanciais". A Comissão Europeia cortou as previsões para todas as grandes economias da Zona Euro na quinta-feira. Mesmo antes de Trump comentar sobre a improbabilidade de se reunir com XI Jinping este mês, o Stoxx600 caiu, e continuou a cair na sexta. Os futuros do S&P500 apontam para o terceiro dia de quedas. E já só falta uma semana para os EUA aprovarem o orçamento e evitarem uma nova paralisação do Governo.
Mercado de obrigações
Quando o "rally" nos ativos de risco começou no início de janeiro, as "yields" do Tesouro dos EUA subiram, acompanhando o mercado de ações. Mas isso mudou. É verdade que os custos de financiamento mais baixos deviam ajudar às perspetivas de crescimento e, teoricamente, significariam uma taxa de desconto mais baixa aplicada aos resultados das empresas. Mas a queda das "yields" pode também sugerir que os investidores nas obrigações estão a antever riscos maiores do que os investidores em ações nas últimas semanas.
Não foram apenas as "yields" do Tesouro dos EUA que caíram, mas o universo das obrigações com yields negativas aumentou novamente. A taxa de juro implícita na dívida do Japão a 10 anos caiu para -0,035% na sexta-feira. Os juros australianos a 10 anos caíram mais de 10 pontos base na semana passada. A taxa a 10 anos da Nova Zelândia recuou para mínimos históricos, um dia depois de serem conhecidos dados fracos do mercado de trabalho.
Uma ressalva no mercado de dívida: as entradas na dívida dos EUA dispararam.
Resultados desapontantes
Esta época de apresentação de resultados das cotadas está a ser muito menos robusta do que nos trimestres anteriores. Com 73% dos membros do S&P500 a já terem revelado os números, os analistas do Bank of America estimam que a proporção de empresas que superou as estimativas é a mais baixa em quatro anos. E isto já depois de os analistas terem "cortado as suas previsões mais do que o habitual", salientam os analistas Jull Carey Hall e Savita Subramanian.
A recompra de ações próprias ajudou em algumas situações, incluindo anúncios do Softbank e da Sony na semana passada, mas parece não ter sido suficiente. Claramente não foi suficiente para travar a queda de cerca de 2% do índice japonês Topix na sexta, a maior desde a saga de dezembro.
Avaliação
Avaliações mais baratas depois da queda histórica das ações no final de 2018 foram a grande razão para o início dourado de 2019. Mas, para alguns analistas, agora estes ativos parecem menos atrativos depois de o índice que agrega ações de todo o mundo, o MSCI ACWI, ter registado, em janeiro, o melhor mês desde 2011.
"A recuperação de Ano Novo nos ativos de risco tem sido impressionante, no mínimo", realçou George Davis, estratega na RBC Capital. "Contudo, nas nossas discussões recentes com os clientes, temos realçado que o que sentimos é um aumento da probabilidade de existir uma correção."
Davis cita as métricas de avaliação para mostrar a aproximação do rico.
Comércio
Por ultimo, mas não menos importante, a próxima semana será marcada pela viagem de uma comitiva americana a Pequim para que continuem as negociações comerciais. O conselheiro económico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse, na quinta-feira, que continua a persistir uma "distância grande" para se fechar um acordo, ainda que tenha uma boa sensação sobre o desfecho das negociações. Com pouca visibilidade sobre o fim desta questão, os investidores vão precisar de estar atentos aos desenvolvimentos.
(Texto original: All of a Sudden, the New Year Market Rally Is Under Threat)