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O otimismo em Wall Street é justificado? E porque está o número de cotadas a encolher?

Nos últimos 30 anos, as bolsas norte-americanas perderam mais de metade das suas cotadas. E há razões para isso. Também há motivos para o atual otimismo na negociação bolsista?

Kim Kyung-Hoon / Reuters
18 de Junho de 2023 às 15:00
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O índice bolsista norte-americano Standard & Poor’s 500, que é uma referência mundial, entrou no dia 8 de junho em "bull market", ao ganhar mais de 20% face ao seu último mínimo – que tinha sido atingido a 12 de outubro. Os outros dois grandes índices do país já tinham feito a festa mais cedo: o Nasdaq já estava em mercado touro desde 8 de maio e o Dow Jones desde 30 de novembro. Mas com a economia dos EUA ainda debilitada, e sem se descartar que possa mesmo vir a entrar em recessão, há motivos para este otimismo nas bolsas?

 

Na passada quarta-feira, 15 de junho, a Reserva Federal norte-americana atualizou as projeções macroeconómicas para o país, tendo-se mostrado mais otimista para o curto prazo, já que espera que o PIB real dos EUA cresça 1% este ano – quando nas anteriores estimativas, em março passado, apontava para uma expansão de 0,4%. No entanto, para os próximos dois anos apresentou ligeiras revisões em baixa: um crescimento de 1,1% em 2024 (contra os anteriores 1,2% esperados) e de 1,8% no ano seguinte (em comparação com 1,9%). Por isso, tudo está em aberto – e apesar de a inflação se estar a moderar, há ainda um longo caminho a percorrer até chegar à meta dos 2% definida pela Fed.

"A Zona Euro entrou em recessão técnica e alguns economistas receiam que os Estados Unidos sejam os próximos. Estamos preocupados com subidas dos juros pelos bancos centrais, com a inflação, diminuição das despesas, despedimentos, aumento dos custos do crédito à habitação e uma guerra na Europa. É um contexto estranho para encontrar um bull market", sublinha a CNN Business. Mas o certo é que ele aí está – e muito à conta das tecnológicas, que têm um grande peso e que acabam por marcar a direção dos mercados.

 

Com efeito, os grandes ganhos que levaram os índices a negociar em mercado touro provêm em grande medida de umas quantas empresas da área tecnológica, com a inteligência artificial a dar um grande impulso. São estas chamadas cotadas mega-cap (com elevadas capitalizaões bolsistas) que estão a puxar os mercados acionistas norte-americanos para patamares mais risonhos, aponta a CNN.

 

Já as empresas com menor valor de mercado e os chamados títulos dos setores cíclicos (mais vulneráveis a determinadas variáveis, como a inflação, taxas de juro e evolução da atividade económica – como é o caso dos setores financeiro, industrial e energético, que são beneficiados quando há expectativa de retoma da economia) têm revelado dificuldades em manter-se com saldo positivo na bolsa.

 

Metade das empresas saiu de bolsa nos últimos 30 anos

 

"Este poder consolidado, que permite que um pequeno número de empresas faça mudar a direção dos mercados, faz parte de uma estranha tendência que se tem observado no panorama financeiro norte-americano: o número de empresas cotadas está a encolher", explica a CNN.

 

Segundo os dados do Center for Research in Security Prices, o número de empresas cotadas nas bolsas norte-americanas caiu substancialmente desde o seu pico em 1996. Nessa altura, o número ascendia a mais de 8.000. Agora, são apenas 3.700, pelo que a queda foi superior a 50%.

 

"Não é que a América tenha metade das empresas que tinha há 30 anos. O que acontece é que as empresas estão cada vez mais a querer ficar fora de bolsa – ficando assim, em grande medida, fora do escrutínio público", aponta a CNN.

O certo é que as atuais cotadas estão a navegar num mar altista - com as ondas de subida a serem surfadas sobretudo pelo setor tecnológico. Será que a tendência se vai manter? Com a Fed a prever mais subidas dos juros de referência este ano - para então inverter o ciclo a partir de 2024 -, a cautela junto dos investidores pode voltar a imperar, até porque no resto do mundo ainda se observa turbulência suficiente para justificar uma política monetária dura por parte dos bancos centrais. É esperar para ver.
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