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Bolsas estão a avisar que mão-de-obra é um problema para as ações

Ao descreverem o desempenho ambíguo do mercado acionista dos EUA este ano, os especialistas tendem a rotular em vez de explicar.

EPA
30 de Agosto de 2020 às 11:00
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As ações das tecnológicas estão em alta enquanto os títulos dos bancos caem. Ações focadas no crescimento sobem enquanto ações voltadas para o valor fazem marcha atrás. As grandes empresas prosperam enquanto as pequenas empresas lutam pela sobrevivência.

Tudo isto é verdade. Mas nada disto especifica o princípio que organiza esses movimentos.

Agora, um estrategista diz que decifrou o código: o problema das empresas são as pessoas.

"Eu resumiria 2020 como o mercado pessimista em relação às pessoas", diz Vincent Deluard, diretor de estratégia macroeconómica global da corretora StoneX Group. "Como muitas coisas, a covid apenas acelera a transformação social, a concentração de riqueza nas mãos de poucos, enormes desigualdades, questões de concorrência e muito mais."

O coronavírus impulsionou companhias algoritmicamente capacitadas enquanto empresas da velha economia estão a fechar e as pessoas a ser obrigadas a ficar em casa. Assim, empresas que dependem menos dos funcionários superaram as companhias com uso intensivo de mão-de-obra em 37 pontos percentuais em 2020, segundo a análise de Deluard.

Num ano em que diferentes formas de desigualdade estão sob ataque — género, raça, rendimentos —, o mercado acionista é criticado como uma instituição que reflete e amplifica disparidades, onde os ricos ficam mais ricos quando eliminam outros seres humanos do processo. Gigantes da tecnologia são foco de críticas e os seus líderes foram convocados pelo Congresso americano para tentar justificar o seu tamanho e influência.

Aposta no futuro

Neste ano em que tanto as bolsas como o desemprego dispararam, ouve-se muito que "o mercado acionista não é a economia". Pela lógica de Deluard, isso não é verdade. O mercado será um reflexo da economia e aposta nas empresas que irão prosperar no futuro.

É fácil ver o sucesso das apostas em empresas de tecnologia. O índice Nasdaq 100 subiu 33% este ano. Mais a fundo, o entendimento é que empresas que dependem menos dos funcionários estarão em melhor posição também.

Deluard dividiu o S&P 500 em decis com base numa métrica que chama de "valor de mercado dos ativos intangíveis por funcionário", ou seja, o preço da propriedade intelectual de uma empresa e do reconhecimento da marca comparado com o número de empregados. O grupo com um pequeno número de funcionários em relação ao valor total da empresa gerou um retorno de 18% este ano. O grupo mais intensivo em mão-de-obra sofreu uma perda de 19%.

Um exemplo é a MarketAxess Holdings, corretora de negociação automatizada de títulos de renda fixa que viu as suas ações subirem 29% em 2020, ou cinco vezes o ganho do S&P 500. A empresa emprega cerca de 530 pessoas, segundo dados compilados pela Bloomberg, mas o seu valor de mercado está próximo dos 19 mil milhões de dólares. Pelos cálculos de Deluard, a MarketAxess está no topo do ranking das empresas do S&P 500 em que a propriedade intelectual tem mais peso do que as pessoas para o valor de mercado.

A Netflix, que acumula uma subida de 51% este ano, ocupa a segunda posição. Aproximadamente 8.600 pessoas trabalham para o serviço de streaming de vídeo e a empresa tem um valor de mercado de 215 mil milhões de dólares. Outras gigantes da tecnologia — Facebook, Apple e Microsoft — também têm uma classificação elevada. A exceção é a Amazon.com, que é uma das maiores empregadoras no S&P 500.

Embora todas as empresas com um gigantesco valor de mercado tenham um grande número de funcionários — e muitas megacaps até estão a contratar —, a tendência aparece em várias comparações. Neste momento, as cinco maiores empresas no S&P 500 representam 5% da força de trabalho do índice.

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