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Os desafios do PRR na transição digital

“Um relatório recente da UE identificou que cerca de 44 % dos europeus na faixa etária do 16 aos 74 anos (ou seja 169 milhões de cidadãos!) não têm competências digitais. Ao mesmo tempo, o referido relatório refere que, num futuro próximo, nove em cada dez empregos na Europa vão exigir literacia digital, o que torna evidente o imenso déficit que detemos nesta área”

20 de Março de 2021 às 19:00
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É necessário reiterar a importância de estado, da aposta na educação e formação na área digital no nosso país, não por mero "modismo" ou por sofisticação do tema, mas por sincera convicção de que uma aposta séria em tecnologia digital que sirva um propósito verdadeiramente humanista (a TD é fundamentalmente sobre Pessoas, não sobre Tecnologia!) pode efetivamente reposicionar Portugal. Que seja desta feita que apanhamos a "onda de progresso" e consigamos tirar partido de todo o potencial de talento humano de que dispomos para contribuímos coletivamente para um futuro promissor para a geração atual e vindouras


Chegados com (muito) sacríficio, ao que se espera ser o "rescaldo da 3.ª vaga pandémica", já com renovada esperança de uma normalidade crescente mas gradual, cumpre agora às forças vivas da sociedade portuguesa darem início à regeneração do tecido económico nacional.

Nesta senda, um dos elementos que se tornou incontornável nas discussões, um pouco por todo o panorama empresarial em Portugal, nos fóruns online, nas reuniões internas de brainstorming no famigerado "Zoom" e nas redes sociais, foi o documento de "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030" [1], designado de forma sucinta por Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), entretanto já apelidado de "a bazuca".

Com efeito, no início de 2020, o executivo em vigor mandatou um civil, independente e com ampla experiência de gestão em setores estratégicos – eng.º António Costa Silva, para dirigir o esforço de desenvolvimento de um documento abrangente, que pudesse congregar várias perspetivas e, sobretudo, orientar as opções estratégicas de investimento de regeneração económica.

Em traços gerais, o documento almejou a formulação de uma visão de médio-longo prazo mas com algum impacto no imediato, que reposicionasse o país ao longo de três dimensões fundamentais de actuação: a Resiliência económica, a Transição Climática e a Transição Digital. No geral, as prioridades do PRR assentaram na criação de condições estruturais e conjunturais para se enfrentar as vulnerabilidades sociais do país (reforçar o Serviço Nacional de Saúde, habitação e outras vertentes de índole social), aumentar o potencial produtivo (melhorando a qualificação e competências e o investimento em inovação) e reforçar a competitividade e a coesão nacionais (apostando em infraesturas com elevado potencial de alavancagem da economia bem como em fatores essenciais de sustentabilidade como a floresta e a água).

É sobre a terceira dimensão do PRR, i.e. a Transição Digital (TD), que importa debruçarmo-nos, desde logo para se aferir o status quo nacional nessa realidade no espaço europeu, e a partir daí reunirmos condições para elaborar sobre a bondade (ou não) do referido PRR no que respeita às áreas de intervenção elegidas e respetivas dotações orçamentais. Para se entender o posicionamento atual de Portugal face ao tema da TD, numa óptica comparativa (não absoluta), é de extrema utilidade analisarmos o documento "Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade (IDES) de 2020 – PORTUGAL" [2], publicado pela "All Digital", um organismo pan-europeu, baseado em Bruxelas, que representa mais de 25.000 centros de competências digitais, apoiado pela Comissão Europeia que publica anualmente o IDES[1] (Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade, formado por cinco dimensões de desenvolvimento digital) para cada um dos 28 países da união, com base em dados do EUROSTAT, para além de outros relatórios sectoriais.

Munidos do IDES, que providencia um proxy interessante para se avaliar a maturidade digital das economias e sociedades europeias, estamos em condições de avaliar as cinco dimensões de desenvolvimento digital, a saber: Conectividade, Capital Humano, Utilização de Serviços Internet, Integração das Tecnologias Digitais e, por fim, Serviços Públicos Digitais. Importa agora analisarmos a posição nacional, sob dois pontos de vista, um estático, i.e. comparando a posição absoluta de Portugal face aos congéneres europeus, e outro de cariz mais dinâmico, onde se acompanha a evolução do desempenho nacional no tempo em cada uma das 5 dimensões atrás mencionadas. Iniciando a análise estática numa abordagem "top-down", e de acordo com a Figura 1, pode verificar-se que Portugal apresenta uma posição com "elevado potencial de melhoria" em termos de scoring global face aos congéneres europeus, ocupando o 19.º lugar entre os 28, ou seja figurando no "pelotão" situado na metade inferior do ranking relativamente à média da UE, tendo, inclusivamente, descido um lugar, desde 2018.

(Fonte: Relatório IDES2020 – Portugal com elaboração própria do autor)

Fig. 1  Ranking IDES 2020 no âmbito da UE28


Na Figura 2, apresenta-se a perspetiva dinâmica,  onde se pode constatar que o nosso país se encontra atualmente no chamado quadrante dos países "Falling Behind", denotando um menor desempenho em termos de convergência "digital" com líderes digitais europeus. Em suma, e em termos "macro", Portugal não se encontra numa posição de destaque no panorama digital europeu, nem em termos conjunturais, nem em termos de dinâmicas de evolução positiva.

(Fonte: Dados do sítio web da Comissão Europeia com elaboração própria do autor)

Fig. 2 – Posicionamento relativo dos países da UE28 no index DESI 2020 (Crescimento vs Scoring global)



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