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Entrevista a Célia Gonçalves Pires

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia

27 de Setembro de 2010 às 07:00
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Célia Gonçalves Pires
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia

Há um modelo ideal para os programas de formação executiva, em termos de duração, horários, estrutura do curso e cadeiras?
O modelo ideal será aquele que melhor responder às necessidades concretas das organizações e dos indivíduos que os frequentam.
A tarefa de ajustar os programas a essas necessidades é facilitada quando a formação é desenhada à medida da organização que a solicita. Neste caso, todo o formato do programa, em termos de duração, horários, estrutura do curso e cadeiras é desenvolvido em conjunto com a própria organização e de forma a dar resposta às necessidades identificadas.
Nos programas abertos, dirigidos a profissionais de diferentes organizações, o modelo é desenhado para responder a necessidades detectadas nas organizações, em geral, ou de um determinado segmento, em especial. Estes programas são procurados por candidatos individuais que, após análise da oferta de programas de formação de executivos disponíveis, optam por frequentar aquele que melhor se ajusta às suas expectativas, em termos pessoais, financeiros e profissionais.
Em resumo, se for possível falar de um modelo, este será o que apresente uma excelente qualidade científica e prática e que corresponda a necessidades reais do mercado e da sociedade civil.

Os cursos de formação para executivos devem ser especializados? São meros cursos de reciclagem ou aprende-se, de facto, algo de novo?
Por norma, os cursos de formação para executivos são focados em questões específicas e de carácter eminentemente prático. Destinado a quadros e executivos de empresas que já possuem experiência profissional, estes cursos são orientados para a aquisição e/ou actualização de competências especializadas e constituem-se como uma resposta versátil e adaptável aos diferentes momentos e cenários da carreira profissional, numa perspectiva de formação continuada ao longo da vida.

Que vantagens tem um quadro ou um executivo em frequentar um curso de formação para executivos? Como se concilia a vida profissional com as exigências do curso? Há uma experiência profissional mínima ideal para frequentar um curso deste tipo? Existe um perfil tipo dos alunos deste tipo de cursos?
O modelo actual de sociedade e a conjuntura económica em que vivemos reforça a necessidade de constante formação dos executivos, possibilitando uma permanente aquisição de conhecimentos e estimulando a flexibilidade dos mesmos, para que compreendam o mundo de hoje e as suas constantes mudanças.
As empresas são cada vez mais exigentes e dada a quantidade e natureza dos desafios a que são sujeitas apostam em quadros motivados para uma constante formação e aquisição de competências concretas, que rapidamente possam ser integrados em equipas de trabalho e às quais se exige um elevado desempenho.
Frequentar um curso de formação demonstra, desde logo, empenho, disposição para o progresso, determinação, características que certamente constituem factores críticos para um profissional que procure progressão e sucesso na carreira.
Um curso aumenta conhecimentos e competências, para além de abrir horizontes que directa ou indirectamente afectarão positivamente o progresso profissional e pessoal do formando.
Frequentar um curso representa sempre um grande investimento, pelo que conciliar a carreira profissional com a frequência do curso significa um esforço adicional durante um determinado período. Naturalmente que quando a organização participa desse investimento na formação essa conciliação torna-se mais fácil. Quando isso não acontece, na escolha do programa terá que estar presente o critério de conciliação horário do curso e vida profissional. Cabe ao indivíduo escolher aquele que melhor permita essa conciliação.
No que diz respeito à experiência mínima ideal para a frequência de um curso, diremos que não existem regras, existem sim diferentes programas que se ajustam melhor a cada fase da vida e perfil da experiência profissional. A oferta de cursos no mercado é muito variada e existem programas ajustados para responder aos diferentes perfis.
Quanto ao perfil dos alunos destes cursos, são cada vez mais jovens mas também profissionais que deixaram a Universidade há vários anos e que regressam para actualizar conhecimentos. Há uma clara percepção que a formação deve acontecer ao longo da vida e que a licenciatura ou o mestrado não são suficientes para responder a todos os desafios a que hoje as organizações estão sujeitas. Quanto mais formação, mais competitivo o indivíduo se torna no mercado e dentro da própria organização.

Sendo alguns dos cursos de formação de executivos abertos a não licenciados, isso não cria um certo desequilíbrio no grau de conhecimento e de preparação teórica dos alunos? Não cria também uma grande disparidade etária?
No processo de selecção de candidatos a um curso deve estar subjacente a preocupação em constituir grupos que, embora com diferentes habilitações académicas e experiências profissionais, demonstrem competências para prosseguir os objectivos do curso e onde as competências individuais de cada um possam ser complementares às do resto do grupo.
Assim, o facto de alguns dos participantes não possuírem licenciatura, mas possuírem determinadas competências adquiridas pela via profissional, torna-se uma mais-valia para o resultado do grupo.
Compete às Escolas/Universidades ajustar os programas e centrar os métodos pedagógicos nos diferentes perfis apresentados pelos alunos. Da mesma forma, o ensino deve estar subordinado à aprendizagem e a aprendizagem deve ser personalizada, devendo haver um acompanhamento atento do percurso de cada aluno, orientando-o e estimulando-o. Diferentes perfis etários têm demonstrado constituírem mais-valias importantes no enriquecimento dos conhecimentos, que é suposto um curso transmitir, bem como na experiência que o contacto com participantes com diferentes vivências acaba por se revelar.

Que vantagens tem a experiência face à licenciatura?
A experiencia profissional e os conhecimentos adquiridos numa licenciatura são naturalmente complementares e constituem o modelo ideal, pelo que não poderemos afirmar de forma linear que a experiência tem vantagens face à licenciatura.
As competências práticas adquiridas por via da experiência profissional em determinada área revelam-se fundamentais para potenciar os conhecimentos que é suposto serem adquiridos na realização de um programa de formação.
O modelo de Bolonha vem reconhecer exactamente que os conhecimentos e competências podem ser adquiridos pelas vias formais de ensino mas também pela experiência profissional. Naturalmente, as bases teóricas constituem pilares fundamentais para vida profissional.

Para o caso dos licenciados, que vantagens têm os cursos de formação de executivos face aos programas de mestrado e outros cursos de pós-graduação? E face a um MBA?
Cada tipologia de formação revela-se mais ajustada a um determinado momento do percurso e perfil profissional de cada um, dependendo das exigências e ambições. Toda a formação apresenta vantagens e deve ser encarada de forma continuada ao longo da vida.
Antes do processo de Bolonha, a graduação conferida pela licenciatura fornecia as competências básicas que permitiam o acesso ao mercado de trabalho.
O mestrado constituía-se como um nível de pós-graduação frequentado apenas por aqueles que pretendiam um aprofundamento numa determinada área de conhecimento, normalmente para desenvolvimento de uma carreira académica ou de investigação.
Com a nova configuração dos ciclos de estudo, esta distinção – graduação e pós graduação – passa a ser ambígua na sua aplicação: o mestrado passou, na prática, a enquadrar-se ao nível de uma graduação, já que passa a estar ao nível da anterior licenciatura e só com este ciclo o aluno adquire, na generalidade dos cursos, as competências consideradas necessárias para ingresso no mercado de trabalho.
Mas não é apenas a nova estrutura de cursos desenhada por Bolonha que impõe a realização de um mestrado. As crescentes exigências por parte das empresas levam a que apostar num mestrado, imediatamente após o primeiro ciclo, seja, cada vez mais, a única opção que se apresenta a quem queira reunir os atributos para um emprego qualificado.
O ingresso no mercado de trabalho é hoje, além de mais competitivo, também mais rigoroso. Para conquistar a primeira oportunidade profissional na área de formação, os padrões em vigor nos tradicionais programas de licenciatura devem ser ultrapassados. Conhecimentos, competências e habilidades que antes eram consideradas factores diferenciadores são hoje requisitos básicos.
A mudança na exigência, natural e compatível com os desafios que hoje as empresas enfrentam, dita que o mercado imponha que os candidatos a um primeiro emprego apresentem conhecimentos técnicos mais consolidados, competências comportamentais e contacto prévio com as questões e problemas que se colocam no quotidiano da vida de qualquer organização empresarial.
Com duração de dois anos, o mestrado completa a formação de um primeiro ciclo, reforçando os conhecimentos adquiridos e proporcionando outros mais especializados dentro de uma área mais segmentada e direccionada.
O mestrado torna-se hoje num nível de formação obrigatório para quem quer ingressar no mercado de trabalho.
Um MBA é um tipo particular de formação que alia conhecimentos de índole mais académica com competências aplicadas nos diferentes domínios das ciências empresariais. Um MBA deve ser antes de mais uma experiência de formação que garanta competências na resolução de problemas e na tomada de decisão em contexto empresarial, devendo complementarmente garantir conteúdos teóricos e práticos que validem tais competências.
Os cursos de formação para executivos apresentam um perfil mais focado numa determinada área de especialização. São geralmente cursos mais curtos e orientados para indivíduos que, tendo já um percurso profissional, pretendem aprofundar conhecimentos ou adquirir novas competências que respondam às exigências das funções que exercem ou à sua ambição de progressão na carreira.
Muitos destes cursos permitem, para além das aulas tradicionais leccionadas por académicos, um forte contacto com a realidade empresarial através de actividades orientadas por profissionais de reconhecido mérito em determinada área, o que facilita a aplicabilidade imediata dos conhecimentos adquiridos.
Em conclusão, a oferta de cursos é hoje muito variada e para eleger um curso é essencial estar bem informado sobre o mercado de trabalho, saber as perspectivas que um determinado tipo de curso pode abrir e as possibilidades que cada opção pode oferecer.
Realizar um curso é um investimento de futuro que é preciso valorizar com um bom conhecimento sobre o rigor dos conteúdos oferecidos, a qualidade do corpo docente, as metodologias adoptadas, instalações e meios técnicos disponíveis aos alunos, ligação a empresas, horas de estudo, preço, bolsas e facilidades de pagamento.

Há retorno do investimento feito no curso? Depois de frequentar este tipo de programas os quadros e executivos progridem mais rapidamente, como acontece por exemplo com os titulares de um MBA?
Verifica-se sempre um retorno do investimento feito na formação, mesmo que esse retorno nem sempre produza resultados imediatos ou seja materializado logo após a conclusão do curso na progressão na carreira.
A formação representa uma vantagem competitiva, a nível individual e organizacional, além de que possibilita a aquisição de novas competências e/ou reciclagens ao longo do percurso profissional e constitui uma ferramenta fundamental na adaptação às mudanças organizacionais e ao meio em que estas se inserem.



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