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Para Ursula von der Leyen, Meloni é fixe

No terceiro e derradeiro debate entre os candidatos à presidência da Comissão, von der Leyen considerou a líder dos Irmãos de Itália como pró-europeia, anti-Putin e defensora do estado de direito.

23 de Maio de 2024 às 21:15
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Ursula von der Leyen, a candidata do Partido Popular Europeu à reeleição como presidente da Comissão Europeia, declarou esta quinta-feira estar disposto a trabalhar com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni na legislatura que sairá das eleições para o Parlamento Europeu.

Falando no terceiro e derradeiro debate entre os candidatos à presidência da Comissão, von der Leyen considerou a líder dos Irmãos de Itália como pró-europeia, anti-Putin e defensora do estado de direito.

A conservadora alemã disse que a manter-se a linha política que Meloni tem prosseguido desde que assumiu a chefia do governo de Roma, em outubro de 2022, será possível manter a "boa cooperação" existente entre as duas.

Von der Leyen adiantou apresentará uma proposta a Meloni, após as eleições de junho, bem como a todos os eurodeputados "pró-europeus, pró-Ucrânia e pró-Estado de Direito".

A candidata do maior partido europeu, em que se filiam o PSD e o CDS, excluiu a possibilidade de cooperar com outros partidos de direita radical e extrema-direita, nomeadamente a Convergência Nacional da francesa Marine Le Pen, por "pretenderem destruir a União Europeia".

Von der Leyen escusou-se a comentar as políticas restritivas de direitos dos LGTBIQ+ adotadas pelo executivo de Roma, limitando-se a dizer que a sua abordagem "é completamente diferente".

O luxemburguês Nicolas Schmit, candidato do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, segunda maior força no Parlamento Europeu que conta com o PS, classificou os partidos ultraconservadores e de extrema-direita congregados nos Grupos Conservadores e Reformistas Europeus (a que pertencem os Irmãos de Itália e a que aspira o Chega) e o Identidade e Democracia como "não-democráticos". 


O atual Comissário do Emprego e Direitos Sociais declarou que todos eles "se dedicam à desinformação e a atacar os direitos das mulheres e a liberdade de imprensa".


Schmit recusou qualquer aliança ou acordo com a extrema-direita, afirmando que "em certos temas precisamos de clareza e não de ambiguidade", enquanto Sandro Gozi, o liberal italiano representante do 
Grupo Renovar a Europa, acusou Von der Leyen de querer pactuar com ultraconservadores apostados em "desmantelar a Europa a partir de dentro", mencionado explicitamente o partido de Meloni e o Vox de Espanha. 

Críticas do mesmo teor foram avançadas pela alemã Terry Reintke, Os Verdes/Aliança Europeia Livre, e pelo austríaco Walter Baier, Grupo da Esquerda, os outros participantes no debate que decorreu durante cerca de duas horas no hemiciclo do Parlamento Europeu em Bruxelas. 

Na ausência de representantes do Grupo Identidade e Democracia, bem como do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, por não apresentarem candidatos à presidência da Comissão segundo os critérios da organização, o debate teve outro foco de tensão quando Schmit denunciou o acordo migratório que a Comissão de que faz parte celebrou, em 2023, com "a detestável ditadura" da Tunísia. 

O socialista disse que Von der Leyen não pode desconhecer o que "está em curso na Tunísia, com refugiados a serem expulsos para o deserto, alvo de agressões e alguns assassinados". 

A presidente da Comissão disse, por sua vez, não admitir o "fechar a porta" a migrantes e reiterou o bem-fundado do investimento nos países de origem e trânsito, tendo todos os intervenientes concordado na urgência do combate ao crime de tráfico de pessoas.

Em matéria de Defesa, Von der Leyen considerou que a União Europeia só se pode financiar com contribuições nacionais ou com novos recursos próprios do conjunto dos 27, Schmit afirmou que as ameaças do "regime fascista de Moscovo" não deixam alternativa a maiores gastos militares e Gozi aprovou a emissão de obrigações europeias para investimentos no sector.

A ecologista Reintke considerou, por sua vez, uma questão-chave a investigação e desenvolvimento conjuntos na área da defesa e o comunista Baier asseverou que "a ameaça mais urgente à segurança é o desastre ecológico".

Os cinco candidatos mostraram-se de acordo quanto à necessidade de controlo das grandes plataformas digitais manifesta na entrada em vigor este ano da Lei dos Mercados Digitais e dos Serviços Digitais e expressaram apoio genérico a políticas de transição ecológica que não prejudiquem os interesses dos agricultores europeus. 


O comunista Baier defendeu a regulamentação pela União Europeia do preço da habitação residencial, proibindo despejos da residência principal, e o liberal Gosi frisou ser necessário aumentar o orçamento da agricultura para enfrentar o futuro alargamento da União.


A ecologista Reintke recusou qualquer "retorno à austeridade", cabendo a Von der Leyen apelar a um melhor acesso aos mercados de capitais e à formação profissional e a Schmit expressar urgência na redução da pobreza.


No debate transmitido pela
União Europeia de Radiodifusão, que integra a RTP, Von der Leyen ao ser interrogada sobre o próximo reconhecimento do Estado da Palestina pela Espanha e Irlanda, além da Noruega, país europeu não-comunitário, admitiu divergências de avaliação entre os 27 sobre a questão, mas disse que a União apoia "a solução de dois Estados" e que importa "trabalhar nesse sentido porque só assim será possível trazer a paz à região".

Com este terceiro debate encerraram-se os frente-a-frente entre os chamados Spitzenkandidaten, o termo alemão para designar candidatos-líderes designados para liderar a Comissão Europeia pelos partidos europeus antes das eleições para o Parlamento Europeu desde 2014.

Em função dos resultados das eleições que terão lugar entre 6 e 9 de junho e nas quais votam quase 400 milhões de cidadãos os partidos europeus irão negociar entre si quem presidirá à Comissão, as pastas dos comissários e a presidência do Conselho.


A presidência da Comissão Europeia – que integra 27 membros, um por cada país – é escolhida pelos chefes de estado e governo e implica, ainda, o voto favorável da maioria dos 720 eurodeputados.

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