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Médio Oriente. A impotência da diplomacia europeia

A União Europeia tem-se mostrado pouco eficaz como mediador das tensões no Médio Oriente. Uma análise de João Carlos Barradas.

31 de Julho de 2024 às 14:11
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A ausência do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança da União Europeia na investidura, em Teerão, do recém-eleito presidente iraniano Masud Pezeshkian ilustra bem a cada vez menor capacidade de influência diplomática dos 27 no Médio Oriente.

Josep Borrell fez-se representar na cerimónia de terça-feira pelo diretor político do seu gabinete, Enrique Mora, devido ao impasse nas negociações para retoma do programa de monitorização do programa nuclear do Irão celebrado em julho de 2015 entre Teerão, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, além da Alemanha e da União Europeia.

A administração Trump abandonou o acordo em maio de 2018, reimpondo em novembro desse ano sanções económicas e financeiras contra Teerão que se mantêm em vigor. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França não têm de momento uma posição comum com os demais parceiros europeus, e muito menos com a Rússia e a China, quanto às medidas a adotar em relação ao Irão.

O último relatório da Agência Internacional de Energia Atómica, datado de 11 de maio, estima que o Irão possui 142,1 quilos de urânio enriquecido a 60% passível de uso em ogivas nucleares. O stock iraniano teria assim aumentado em 20,6 quilos desde fevereiro, segundo a Agência sediada em Viena, superando 30 vezes o limite estabelecido pelo acordo de 2005.

Poucas horas passadas sobre a tomada de posse do presidente iraniano, Israel assassinava com um ataque de míssil, em Teerão, o líder político do Hamas Ismail Haniyeh, ainda mal se tinham feito ouvir as reações na União Europeia ao atentado em Beirute contra o dirigente do Hezbollah libanês Fuad Shukr.

Apelar a que o movimento xiita liderado por Hassan Nasrallah não escalasse o conflito tinha sido a reação imediata dos 27, mas a Alemanha e a Itália acompanharam a Grã-Bretanha na advertência feita na véspera para os seus cidadãos abandonarem imediatamente o Líbano, enquanto a França ou a Espanha evitaram semelhantes declarações públicas.

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano, que desde 1978 tem recebido sucessivos mandatos para monitorizar tréguas ou acordos de cessar-fogo entre milícias e exércitos libaneses, israelitas e sírios, conta com cerca de 10 mil efetivos. Entre os principais contingentes estão 1.200 italianos, 700 franceses, 650 espanhóis e 300 alemães, expostos aos bombardeamentos israelitas que se têm intensificado sobretudo no sul do Líbano em retaliação pelos ataques do Hezbollah ao norte de Israel.

A França, que assumiu o Mandato da Sociedade das Nações para governo da antiga possessão otomana entre 1920 e 1943, tem fracassado nas mais recentes tentativas de mediação no Líbano e no conflito entre israelitas, palestinianos e estados árabes. Emmanuel Macron encetou diversas iniciativas no sentido de um acordo político entre partidos cristãos maronitas, sunitas, xiitas e drusos no Líbano desde a explosão de 4 de agosto de 2020 de um depósito de nitrato de amónio que destruiu grande parte da capital, mas sem resultados.

As diplomacias italiana ou espanhola, igualmente empenhadas em frequentes tentativas de mediação, não foram melhor sucedidas.

A situação para a União Europeia deteriorou-se de resto quando, em junho, o Hezbollah ameaçou atacar Chipre caso o governo de Nicósia permitisse que Israel utilizasse portos e aeroportos da ilha, situada a 160 quilómetros da costa libanesa, para operações militares.

No conflito israelo-palestiniano os esforços diplomáticos não têm tido resultados nem junto das autoridades de Telavive, nem entre as fações palestinianas, apesar do envolvimento da União Europeia em programas de ajuda em Gaza e na Cisjordânia.

A Comissão Europeia, por exemplo, concedeu esta quarta-feira 150 milhões de euros em ajuda financeira de emergência à Autoridade Palestiniana no âmbito de um programa de apoio a curto prazo orçado em 400 milhões de euros que se prolongará até setembro em apoio "de uma agenda substancial e credível de reformas".
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