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Mikko Hyppönen: "Usar a internet para votar é resolver um problema que não existe"

O "veterano da guerra cibernética", como foi apresentado na Web Summit, tentou esta quinta-feira desconstruir a ideia feita: os hackers hoje não são adolescentes, são governos eleitos de nações.

Miguel Baltazar
10 de Novembro de 2016 às 17:10
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"Caço hackers [piratas informáticos] há 22 anos", apresentou-se Mikko Hyppönen à plateia da manhã desta quinta-feira, 10 de Novembro, no Web Summit. A olhar para o número de pessoas que ficou de pé por não te lugar sentado na plateia do palco FullSTK, toda a gente que ali estava já sabia isso. O que se calhar não estava à espera é que a imagem a ilustrar o primeiro ecrã da apresentação de Hyppönen fosse Vladimir Putin. A Rússia nunca mais saiu do cenário ao longo dos 25 minutos seguintes.

O chefe de investigação e desenvolvimento da F-Secure, empresa que fornece "soluções de segurança cibernética", começou pelo tema da semana: as eleições nos EUA. "O que aconteceu com as eleições?", perguntou. Houve fraude da votação por influência dos hackers (piratas informáticos)?  "Não penso que o governo russo tenha tentado piratear [a eleição], mas acho que eles tentaram".

O "chief research officer" (CRO) da F-Secure deu dois exemplos para explicar a complexidade actual dos "hackers": o do "site" do governo da Georgia (a da região da euroásia, não a americana), que associou imagens do Hitler ao do líder do governo. Esta, disse, é uma "intervenção directa" de "propaganda tradicional", classificou, em que alguém "tenta mudar a opinião das pessoas ao associar-lhes as piores imagens possíveis".

Outro exemplo, que Hyppönen ilustrou com vários documentos na sua apresentação, foi o ataque cibernético aos investigadores ao acidente do avião da Malasya Airlines, que receberam vários convites para alterarem as suas palavras chaves nos seus serviços de email, que permitiriam, ao ser abertos nos computadores, a entrada dos "piratas" informáticos no sistema. Um dos hackers, garantiu o orador, era de um governo. "E o facto de um governo estar a tentar fazer isto online é ainda mais assustador", sublinhou, também tendo em conta que hoje em dia tudo é gerido por computadores. Actualmente, "todas as empresas são uma empresa de software independentemente do que façam", sejam automóveis ou comida. 

O orador voltou às eleições presidenciais: "é muito difícil piratear os voos nos EUA, mas alguém tentou de certeza fazer isso". Até porque, algumas pessoas podem já votar pela internet nos EUA, recordou, como os militares daquele país. E sobre este tema, Hyppönen foi peremptório: "a votação pela internet é uma ideia má, não aprovo a ideia de ir online para votar". "É como resolver um problema que não existe", defendeu - "é mais rápido", uma eleição de 300 milhões de pessoas, como nos EUA podia ser reduzida de uma noite para meia hora, se calhar, "mas não vale a pena o 'trade off' e expõem-nos demasiado". E não é só por uma questão de tecnologia, frisou, perguntando aos ouvintes para imaginar que tipo de interferências poderiam ocorrer no voto caso as pessoas pudessem votar do seu computador em casa.

Depois de associar um ataque de uma central eléctrica na Ucrânia a um grupo de "hackers" com "protecção" do governo russo, Hyppönen rematou. "Ainda me lembro dos hackers adolescentes", concluiu o CRO da F-Secure, recordando o seu início profissional, há mais de duas décadas. "Mas o que vejo hoje são nações a libertarem muita informação" obtida sem a autorização, recorrendo a "hackers". "Isto é 2016", finalizou. 

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