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"Melhor forma de ajudar a Ucrânia é investir na Ucrânia", defende governante

Governo quer "transformar a Ucrânia num dos maiores 'hubs' de tecnologia na Europa de Leste", mas reconhece que, com a guerra como pano de fundo, atrair investidores é um "grande desafio" para as startups ucranianas.

Diana do Mar dianamar@negocios.pt 16 de Novembro de 2023 às 14:55

O vice-ministro da Transformação Digital, Oleksandr Bornyakov, defende que "a melhor forma de ajudar a Ucrânia é investir na Ucrânia", apostando, por exemplo, numa startup.

"Muitas pessoas perguntam como podem ajudar a Ucrânia e, geralmente, respondo que a melhor forma de ajudar a Ucrânia é investir na Ucrânia, porque investir num empreendedor ou numa empresa pode vir a gerar benefícios mútuos - não é um simples donativo - e até quem sabe, talvez, marcar o início de algo grande", afirma, em entrevista ao Negócios, à margem da Web Summit, onde marca presença pelo terceiro ano consecutivo com uma missão empresarial.

Essa missão empresarial que lidera traz sensivelmente 25 startups ucranianas enquadrando-se no objetivo do governo de Kiev de "transformar a Ucrânia num dos maiores 'hubs' de tecnologia na Europa de Leste". "Eventos como este são a oportunidade perfeita para aqueles que vieram com uma ideia, em busca de parceiros e de capital. E isso tornou-se ainda mais importante depois de 23 de fevereiro de 2022, com a invasão da Rússia, desde logo, porque "todos os eventos foram cancelados".

E, embora, por esta altura, "estejam mais ou menos a voltar a Kiev ou a Lviv", certo é que "os céus continuam fechados pelo que é difícil chegar à Ucrânia e, por razões óbvias, as pessoas têm medo", assinala Oleksandr Bornyakov. E, por esse motivo, seguindo a lógica de que se Maomé não vai à montanha a montanha vai a Maomé, "o Ministério da Transformação Digital decidiu, há mais de um ano, ajudar os empreendedores, organizando missões empresariais a eventos como este".

"Nós fazemos uma 'open call' e depois as empresas selecionadas vêm e apresentam os seus produtos e os seus serviços, pelo que acabamos a trabalhar juntos para mostrar que o ecossistema de startups na Ucrânia se está a desenvolver, que há milhares de pessoas que estão a fazer algo e que há ainda muitas oportunidades", enfatiza o governante, apontando que o próprio pavilhão na Web Summit figura como exemplo dessa "parceria público-privada".

Atrair investidores em tempos de guerra

Oleksandr Bornyakov reconhece, no entanto, que, com a guerra em curso, as startups ucranianas deparam-se com dificuldades acrescidas em atrair investidores: "É realmente um grande desafio para elas".

O conflito abriu duas frentes a este nível: Se, por um lado, "há um número de investidores e de fundos que disseram especificamente que querem ajudar a Ucrânia em momentos como este e que até estenderam o mandato de investimento para ajudar as startups ucranianas a sobreviver", por outro, "alguns decidiram que não o irão fazer porque há riscos".


O vice-ministro salienta, porém, que há quem esteja "aberto" para as startups ucranianas se "diversificarem o seu risco", o que significa, por exemplo, movimentar metade da equipa para fora do país. "E isso realmente está a acontecer, conheço muitos empreendedores que vieram para Portugal, que é conhecido na Ucrânia como um bom sítio para se relocalizarem, mas provavelmente metade ou dois terços da equipa ainda está na Ucrânia", explica.

Mas - assume - "é claro que é difícil trabalhar com os investidores", quando os homens não podem sair do país e mesmo que possam (se tiverem uma razão que permita a isenção) "têm de apanhar um comboio, andar de carro, passar 10 a 12 horas na fronteira... Se for para ir só a uma reunião não faz sentido, pelo que que "é claro que é complicado".

A "boa notícia", ressalva, é que, "até antes da guerra, 90% das startups ucranianas estavam voltadas para os mercados estrangeiros, pelo que, depois do ataque da Rússia, a maioria não teve problemas, porque chegava (com os seus produtos e/ou serviços) à Europa ou aos Estados Unidos, estava a trabalhar com o mercado africano e assim por diante". Por isso, "além de garantirem, em primeiro lugar, a sua segurança, tinham era de assegurar que os processos e as ligações se mantinham estáveis".

Aumentar startups per capita

A presença na Web Summit vai, de resto, ao encontro de uma das metas traçadas pelo Ministério da Transformação Digital que passa por "aumentar o número de startups "per capita": "Não é que estejamos mal, mas temos cerca de 75 startups por um milhão de habitantes e, em média, na Europa são 500".

"Também queremos mostrar que temos vários unicórnios na Ucrânia, incentivando com isso os jovens que tiverem uma ideia a persegui-la porque talvez possa criar, no futuro, uma empresa como essas", sublinha Oleksandr Bornyakov, indicando que, na fase de arranque, o Governo tem programas de apoio, como bolsas entre 25 mil e 50 mil dólares para financiar o arranque.

"A cultura de empreendedorismo é o nosso futuro, mas na Ucrânia, após 70 anos de legado da União Soviética, praticamente não existe. Mas, em eventos como este, podemos passar a mensagem de que muitas pessoas em todo o mundo tentam a sorte. E tendo uma ideia boa não é tão difícil fazer acontecer", atira.

Segundo Oleksandr Bornyakov, as startups que integraram a missão empresarial organizada pelo Governo à Web Summit no ano passado angariaram, no total, aproximadamente 15 milhões de dólares. "Penso que é um número positivo, embora não seja grande, mas é preciso ter em conta que devido à guerra podiam ter tido zero", frisa.

"A Web Summit é o maior evento do mundo para as startups, onde estão fundos, empresas e pessoas que sabem como construir uma companhia e podem dar bons conselhos, pelo que definitivamente recomendo que a visitem e isso é parte do motivo de estarmos aqui", reforça o vice-ministro da Transformação Digital da Ucrânia.

Relativamente a expectativas em termos de resultados para este ano, Oleksandr Bornyakov diz ser "difícil prever", uma vez que não dispõe de dados, nesta fase, dos montantes que as empresas ucranianas pretendem levantar, mas deixa claro que "o mais importante é que garantam financiamento seguro para continuar a crescer".

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