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Computador supera jogadores profissionais de póquer em feito inédito

Desafiando a ideia que o póquer é mais uma arte do que uma ciência, um computador ganhou perto de 2 milhões de dólares contra quatro dos melhores jogadores profissionais do mundo.

Bloomberg
04 de Fevereiro de 2017 às 17:00
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Quatro dos melhores jogadores profissionais de póquer do mundo passaram grande parte do mês de Janeiro no Rivers Casino, em Pittsburgh. A perder. Chegavam antes das 11:00 e sentavam-se em frente aos computadores. Cada um deles deveria jogar 1.500 mãos de Texas Hold’Em antes de poder regressar ao hotel para passar a noite. Muitas vezes, isso significava trabalhar até depois das 22 horas. Ao longo do dia, copos da Starbucks e garrafas de água acumulavam-se perto do teclado dos jogadores. No chão acumulavam-se sacos de comida da Chipotle.

 

Cada vez que um dos jogadores fazia uma jogada, a acção era transmitida a um servidor de computador a 8 quilómetros dali, na Universidade Carnegie Mellon. De lá, um sinal viajava outros 19 quilómetros até o adversário, um software chamado Libratus, executado no Centro de Supercomputação de Pittsburgh, em Monroeville. O Libratus jogava oito mãos ao mesmo tempo - duas contra cada adversário. Movia-se a um ritmo deliberado, lento o suficiente para irritar Jason Les, um dos seus adversários humanos.

 

"Isso deixa os dias mais longos", disse Les, um homem sério, de aparência atlética, que parecia ansioso quando descansava uns minutos durante uma tarde da semana passada. "A espera não deveria afectar-me, mas começas a questionar quando é que isto vai acabar."

 

Pelo contrário, Libratus nunca precisa de um descanso. É diferente dos jogadores humanos também por outros motivos. As pessoas tendem a pensar por mais tempo quando há mais dinheiro em jogo. O computador joga mais lentamente quando as apostas são pequenas, por ter que analisar todas as possibilidades adicionais de ter mais fichas restantes na sua mão. Libratus também tende a fazer apostas grandes e repentinas, violando as convenções tradicionais de apostas ao colocar o seu dinheiro no "pot" em quantidades irregulares e intervalos estranhos.

 

Vindo de um jogador humano, esse comportamento seria irritante, imprudente e, depois de um tempo, caro. Mas o principal atributo do Libratus como jogador de póquer é que ele é inumanamente bom. Quando o torneio de 20 dias no Rivers acabou, na segunda-feira, os jogadores humanos tinham perdido 1,8 milhões de dólares (não tiveram que desembolsar essa quantia; o dinheiro em jogo era fictício e serviu apenas para contabilizar quem ganha). Tuomas Sandholm e Noam Brown, os cientistas da Carnegie Mellon que fabricaram o Libratus, comemoraram a vitória como a primeira vez em que um computador venceu jogadores de póquer de alto nível na variante Texas Hold’Em sem limites, o jogo de póquer mais importante do mundo.

 

Especialistas em inteligência artificial sempre usaram os jogos como forma de desenvolver e testar as suas criações. Computadores superaram os melhores jogadores humanos em xadrez, damas e gamão. Póquer representa um desafio diferente devido à componente da sorte e porque os jogadores não sabem quais são as cartas que os adversários têm na mão. Os chamados jogos de informação imperfeita exigem um tipo de inteligência humana - como enganar um adversário e perceber quando está a ser enganado - que os computadores não têm.

 

"Texas Hold’Em é o jogo que vemos nos torneios e tem a reputação de ser mais uma arte do que uma ciência", disse Adam Kucharski, autor de vários livros sobre póquer, acrescentando que "havia a ideia que este jogo estaria a salvo por muito mais tempo destas máquinas".

 

"É claro que muita gente do mundo do jogo tem medo de que isso possa acabar com os jogos em que se aposta dinheiro pela internet, porque as pessoas temem que o computador seja tão bom a ponto de conseguir enganá-las", disse Sandholm, um dos cientistas responsável pelo Libratus. "Isso poderá acontecer, mas não é problema meu", acrescentou.

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