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ColorADD: Os símbolos que dizem as cores aos daltónicos
Miguel Neiva criou um código de cor que ajuda as pessoas com daltonismo a perceberem as cores. Criou uma empresa para colocar no mercado este código que já está em mais de 80 países.
São três símbolos que, à primeira vista, podem não trazer grandes benefícios. Mas, no caso de uma pessoa daltónica, estes três símbolos - um triângulo invertido, um triângulo e uma diagonal - podem representar uma grande mudança.
As pessoas com daltonismo não conseguem distinguir algumas cores. Por isso, podem precisar de ajuda para funções que, a muitos, podem parecer simples como é o caso de comprar roupa. Pensando nas pessoas que têm esta condição, Miguel Neiva criou um código que permite aos daltónicos perceberem quais as cores de determinada peça de vestuário, a cor da linha do metro ou mesmo a cor dos lápis. O azul corresponde a um triângulo invertido, o vermelho é um triângulo e o amarelo é uma diagonal. O branco é um quadrado só desenhado sem qualquer preenchimento e o preto é um quadrado totalmente preenchido.
"O código é uma linguagem gráfica associada às cores. Assenta no conhecimento adquirido que todos tivemos na escola. Aprendemos a misturar as cores primárias: o amarelo, o vermelho e o azul. (…) O que fiz foi atribuir a cada uma dessas cores primárias um símbolo gráfico. E, da mesma maneira que misturamos o amarelo com o vermelho para ter cor-de-laranja, misturamos o símbolo que representa o vermelho com o do amarelo, para termos o símbolo do cor-de-laranja", conta ao Negócios Miguel Neiva, criador do código e líder da empresa ColorADD.
Para que estes símbolos possam chegar a todas as pessoas "há já escolas a ensiná-los e há manuais escolares a utilizarem o código". Quanto aos adultos que possam ter interesse em conhecer estes símbolos podem aprendê-los "através dos próprios produtos".
Por exemplo, numa estação de metro no Porto, o código aparece a identificar as linhas, e "está em sítios estratégicos, aparecendo uma informação que diz o que é."
Da mesma forma, nos lápis de cor da Viarco, além do código estar inserido nos próprios lápis, também na parte de trás da embalagem é explicado como funciona. "As próprias empresas tornam-se os interlocutores do processo de aprendizagem", acrescenta.
O objectivo de Miguel Neiva sempre foi "integrar o código em soluções em que a cor tem de ser um factor determinante de identificação, orientação ou escolha". Por isso, a aplicação do código em marcas de vestuário e em meios de transporte – como é o caso do Metro do Porto – já está operacional.
O responsável conta que esta simbologia está presente em vários países do mundo, quer através de empresas locais, como através das empresas portuguesas que já adoptaram o sistema. "Através dos produtos portugueses exportados, já são mais de 80 países" onde marcamos presença.
"Sempre quis que o projecto fosse socialmente sustentável. As empresas, para utilizarem o código, pagam-nos uma pequena taxa. Tem de ser um custo residual e é ajustado à dimensão das empresas - é indexado ao volume de facturação", salienta ainda.
Da tese de mestrado a uma empresa com preocupações sociais
Miguel Neiva conta ao Negócios que a ideia nasceu quando partiu para a tese de mestrado. "Resolvi dedicar a minha tese de mestrado à questão do daltonismo quando percebi que não existia nada no mundo que pudesse minorar o constrangimento dos daltónicos. Estamos a falar de 350 milhões de pessoas" com esta condição.
Durante oito anos, Miguel Neiva esteve em contacto com médicos e daltónicos para perceber as dificuldades e limitações que enfrentam, mas também para encontrar um caminho para minorar a "limitação sempre que a cor é um factor de identificação, de orientação e de escolha".
A ColorADD nasceu em 2010, dois anos depois de Miguel Neiva defender a tese de mestrado.
Esta semana, a empresa foi a vencedora nacional do concurso "Chivas The Venture", uma iniciativa mundial da Chivas e que tem como objectivo apoiar empreendedores sociais em termos mundiais. Tendo vencido este prémio, a ColorADD recebeu um prémio de três mil euros e vai participar numa aceleradora em Oxford.