Notícia
Um salto para o exterior
Carlos Silva, Márcia Silva e Sara Andrade tinham objectivos diferentes, mas um caminho comum. O programa de estágios internacionais Leonardo da Vinci levou-os até Londres, Barcelona e País de Gales. Foi o que bastou para (re)descobrirem o mapa do...
28 de Janeiro de 2010 às 15:06
Carlos Silva, Márcia Silva e Sara Andrade tinham objectivos diferentes, mas um caminho comum. O programa de estágios internacionais Leonardo da Vinci levou-os até Londres, Barcelona e País de Gales. Foi o que bastou para (re)descobrirem o mapa do seu futuro.
Sara Andrade licenciou-se em Relações Internacionais, mas a paixão pela área de animação sócio-cultural, sobretudo pelo teatro, falou mais alto do que a sua formação. Assim que pôde, fez as malas e partiu para Barcelona, através do programa de estágios profissionais Leonardo da Vinci.
Lá, não teve dúvidas: era aquilo que queria fazer na sua vida. Além de ter estagiado na associação Artixoc, ainda foi actriz e voluntária noutra associação, no bairro de imigrantes Raval. Foi como uma "luzinha" que se acendeu. Voltou para Portugal, apesar de a terem convidado a ficar, porque queria trazer para o país natal tudo o que tinha aprendido lá fora. Teve de adiar esse sonho, mas, como a própria diz, o "objectivo já está lá".
A história de Sara inspira-o? Então, saiba que não pode candidatar-se ao programa a título individual. "Mesmo que o participante já tenha contactos com uma entidade de acolhimento, precisará sempre de uma entidade de envio portuguesa", explica Isabel Joaquim, coordenadora nacional dos programas Erasmus e Leonardo da Vinci. Apenas instituições, empresas e organizações podem candidatar-se a estas subvenções.
Sara Andrade e Márcia Silva foram para o exterior através da associação juvenil Rota Jovem, enquanto que Carlos Silva partiu pela Escola Profissional de Braga.
A entidade de envio pode ser qualquer uma no sector público, privado ou misto: universidades, escolas profissionais, empresas, centros de formação, câmaras municipais, associações, fundações, entre outros. Pode ser, por exemplo, a instituição de ensino que o aluno frequentou a apresentar uma candidatura à Agência Nacional PROALV - Programa Aprendizagem ao Longo da Vida. "Se, eventualmente, o participante não conseguir junto da sua instituição, poderá contactar outras que tenham um projecto de mobilidade aprovado", diz Isabel Joaquim.
Quanto às parcerias existentes são "praticamente infindáveis". Cada entidade de envio tem uma rede de empresas parceiras em todas as áreas de formação que fornece, o que as leva a ter colocação para um número bastante considerável de estagiários", adianta a coordenadora nacional. Se, por acaso, não houver parcerias em determinada área, a entidade pode procurá-las através de motores de busca europeus, redes de contactos ou da Agência Nacional.
Mobilidades para todas as áreas
Existem três formas de estagiar no estrangeiro. A primeira dirige-se a aprendizes, alunos da formação profissional e a formandos que não frequentem o Ensino Superior, e dura entre duas a 39 semanas. A segunda direcciona-se a trabalhadores, empregados por conta própria ou outras pessoas disponíveis para trabalhar, incluindo licenciados, e tem uma duração de duas a 26 semanas. Ao último tipo de mobilidade, podem concorrer profissionais da educação profissional e formadores (professores e formadores); técnicos de aconselhamento profissional, responsáveis por estabelecimentos de ensino profissional; pelo planeamento de formação profissional e gestores de recursos humanos. Esta mobilidade dura entre uma a seis semanas.
Durante o estágio, os participantes têm direito a uma bolsa que cobre os custos da viagem, seguro, preparação linguística e os de subsistência, como alojamento, comida e transportes locais. Regra geral, não inclui dinheiro de bolso. "No entanto, há diferentes implementações, pelo que as entidades podem gerir a verba relativa à subsistência de modos diferentes", comenta Isabel Joaquim. Desta forma, há a possibilidade de alguns participantes receberem o dito "dinheiro de bolso".
"Os participantes adquirem um conhecimento diverso sobre os países europeus para onde se deslocam, usufruem de um ambiente multicultural, além de enriquecerem o seu conhecimento a nível pessoal e profissional", explica Isabel Joaquim. É uma experiência em contexto real de trabalho num país diferente. E é também uma oportunidade para aperfeiçoar a utilização de outra língua. "O entusiasmo dos participantes torna-se um incentivo para outros, embora refiram que gostariam de estar mais tempo fora", conclui a coordenadora nacional do programa.
A história de Sara inspira-o? Então, saiba que não pode candidatar-se ao programa a título individual. "Mesmo que o participante já tenha contactos com uma entidade de acolhimento, precisará sempre de uma entidade de envio portuguesa", explica Isabel Joaquim, coordenadora nacional dos programas Erasmus e Leonardo da Vinci. Apenas instituições, empresas e organizações podem candidatar-se a estas subvenções.
Sara Andrade e Márcia Silva foram para o exterior através da associação juvenil Rota Jovem, enquanto que Carlos Silva partiu pela Escola Profissional de Braga.
Sara Andrade é licenciada em Relações Internacionais, mas sempre esteve ligada à arte. Em Barcelona, teve tempo para estagiar na Artixoc, ser actriz e voluntária no bairro de imigrantes Raval. Foi enquanto fazia Erasmus, outro programa de Aprendizagem ao Longo da Vida, que Sara Andrade teve conhecimento do Leonardo da Vinci e da associação juvenil Rota Jovem. Na altura em Roma, mal podia imaginar que dois anos depois estaria no país vizinho a estagiar em animação sócio-cultural. Apaixonada pelo teatro há algum tempo, decidiu deixar a área de Relações Internacionais, na qual é licenciada, para ir à aventura. Por vontade da jovem natural de Lisboa, teria ido mal acabou o curso, em 2007, mas a faculdade trocou-lhe as voltas. Em 2009, fez as malas e rumou a Barcelona. "A minha ideia era ir para Barcelona ou Berlim, por serem duas cidades que, além de terem uma componente cultural muito forte, também têm feito muito em termos de trabalho social", diz. Na Catalunha, foi recebida pela Nexes, a entidade de acolhimento da Rota Jovem, que a encaminhou e ajudou em tudo o que estava relacionado com o estágio. Depois de frequentar o curso de línguas, foi destacada para a associação Artixoc, que trabalha sobretudo com jovens e idosos imigrantes através do teatro, música, dança. "Fiquei muito interessada, porque juntava uma série de coisas que eu gostava: a questão das artes, o trabalho com os imigrantes e também trabalhavam muito o teatro do oprimido, que era algo que me fascinava muito." Primeiro, assistia às aulas de teatro social, como uma segunda professora, mas com o passar do tempo, começou a ter um papel mais activo. "Iniciei um projecto com idosos numa cidade perto de Barcelona, que foi uma das partes deliciosas do programa: tinha workshops de teatro, maquilhagem, uma série de coisas", diz. Numa fase final, Sara Andrade trabalhou com crianças numa escola. Mas, para Sara, isto não bastava. "Envolvi-me em mais dois projectos fora do programa. O Leonardo da Vinci foi um trampolim para muita coisa que aconteceu em Barcelona", comenta. Foi actriz numa companhia de teatro e fez voluntariado numa associação que trabalhava no bairro de imigrantes Raval. No final do estágio, a Artixoc, fez-lhe uma proposta para ficar, mas não lhe ofereciam o suficiente para poder viver em Barcelona. Regressou a Portugal em Maio para, em Junho, voltar à cidade catalã e terminar a peça. Entretanto, já esteve na Sérvia a fazer uma formação europeia sobre o teatro como instrumento social. Agora, está a tirar um mestrado em Migrações, Inter-etnicidades e Transnacionalismo, na Universidade Nova de Lisboa e é voluntária num projecto de teatro comunitário. "Cheguei a Lisboa com muitos projectos, muito optimismo, mas depois percebi que ia ser mais difícil do que imaginava." Quanto à mais-valia do programa, não tem dúvidas. "Descobri através do Leonardo da Vinci o que realmente quero fazer, porque foi uma experiência inspiradora. Se o Leonardo pode ser este trampolim, porque não aproveitá-lo?" |
A entidade de envio pode ser qualquer uma no sector público, privado ou misto: universidades, escolas profissionais, empresas, centros de formação, câmaras municipais, associações, fundações, entre outros. Pode ser, por exemplo, a instituição de ensino que o aluno frequentou a apresentar uma candidatura à Agência Nacional PROALV - Programa Aprendizagem ao Longo da Vida. "Se, eventualmente, o participante não conseguir junto da sua instituição, poderá contactar outras que tenham um projecto de mobilidade aprovado", diz Isabel Joaquim.
Quanto às parcerias existentes são "praticamente infindáveis". Cada entidade de envio tem uma rede de empresas parceiras em todas as áreas de formação que fornece, o que as leva a ter colocação para um número bastante considerável de estagiários", adianta a coordenadora nacional. Se, por acaso, não houver parcerias em determinada área, a entidade pode procurá-las através de motores de busca europeus, redes de contactos ou da Agência Nacional.
Mobilidades para todas as áreas
Existem três formas de estagiar no estrangeiro. A primeira dirige-se a aprendizes, alunos da formação profissional e a formandos que não frequentem o Ensino Superior, e dura entre duas a 39 semanas. A segunda direcciona-se a trabalhadores, empregados por conta própria ou outras pessoas disponíveis para trabalhar, incluindo licenciados, e tem uma duração de duas a 26 semanas. Ao último tipo de mobilidade, podem concorrer profissionais da educação profissional e formadores (professores e formadores); técnicos de aconselhamento profissional, responsáveis por estabelecimentos de ensino profissional; pelo planeamento de formação profissional e gestores de recursos humanos. Esta mobilidade dura entre uma a seis semanas.
Trabalhava há 4 anos em Portugal, mas Márcia Silva sentia que precisava de mudar. Foi através do Leonardo da Vinci que chegou ao "paraíso" dos assistentes sociais: o Reino Unido. "Um mero acaso". É assim que Márcia Silva, 27 anos, explica como teve conhecimento do programa Leonardo da Vinci. "Estava a consultar um site destinado a assistentes sociais, quando vi o anúncio de vagas para a realização de estágios profissionais na Europa, dinamizados pela Rota Jovem." A trabalhar há quase quatro anos como assistente social, Márcia sentiu que precisava de fazer uma pausa. Licenciada em Serviço Social e pós-graduada em Família e Sociedade, pelo ISCTE, sabia que tinha chegado a altura de mudar, de se reposicionar, "de ir conhecer". "Na altura, estava decidida a ir viver para o Reino Unido, onde existem infindáveis ofertas de emprego para assistentes sociais e, ao ter contacto com o programa, pensei: em vez de ir por minha conta e risco, porque não tentar através desta forma, muito mais adequada e segura?" E assim foi. Pôs mãos à obra e concorreu para o Reino Unido. O dia em que viu o anúncio dos estágios era o anterior à formalização da candidatura, pelo que a assistente social contactou a Rota Jovem na hora. No dia seguinte, iniciou-se o processo e, em Fevereiro, já estava a voar para o estágio. "Na altura, a ansiedade de ir para o tal 'paraíso' dos assistentes sociais era tanta, que o processo pareceu moroso, mas quando olho para trás vejo que não. Na Rota, foram bastante céleres, sobretudo, tendo em conta a dificuldade e responsabilidades inerentes ao processo de selecção." Entre Fevereiro e Junho do ano passado, Márcia Silva teve oportunidade de estagiar num Hostel e Centro de Dia para Sem-Abrigo e Toxicodependentes, através da organização The Huggard Centre, em Cardiff, no País de Gales. Antes, esteve duas semanas em Inglaterra, a frequentar o curso de língua. "Isto comprova a preocupação que tanto a Rota como a entidade que nos acolhe têm em responder às nossas motivações", comenta. A sua primeira actividade foi de a observação e integração, mas Márcia Silva também apoiou a equipa técnica do centro: atendeu clientes, acompanhou outros serviços de apoio, dinamizou actividades de grupo, entre outras tarefas. "Tudo superou as minhas expectativas, até a chuva. Eu pensava que chovia muito lá, mas afinal chove muito, muito", desabafa. Adaptar-se ao clima foi o mais difícil. "Fora essa pequena 'contrariedade' tudo correu bem. Também, porque tive a sorte e privilégio de ter vivido em duas famílias de acolhimento excepcionais, que me ajudaram em tudo o que precisei", acrescenta. Além de ter tido contacto com uma realidade de intervenção diferente, outros modelos, técnicas e estratégias de intervenção, Márcia teve a oportunidade de estar no terreno, junto dos clientes de várias instituições, tempo para pesquisar e, no fundo, fazer aquilo que procurava desde o início: reposicionar-se, decidir-se. "Tenho que dizer que não foi só a minha vida profissional que saiu enriquecida, fui eu que assim saí. Por tudo o que vivi e por tudo o que cresci. Foi uma experiência a não esquecer, a aconselhar. Quem sabe não a tento repetir?" |
Durante o estágio, os participantes têm direito a uma bolsa que cobre os custos da viagem, seguro, preparação linguística e os de subsistência, como alojamento, comida e transportes locais. Regra geral, não inclui dinheiro de bolso. "No entanto, há diferentes implementações, pelo que as entidades podem gerir a verba relativa à subsistência de modos diferentes", comenta Isabel Joaquim. Desta forma, há a possibilidade de alguns participantes receberem o dito "dinheiro de bolso".
"Os participantes adquirem um conhecimento diverso sobre os países europeus para onde se deslocam, usufruem de um ambiente multicultural, além de enriquecerem o seu conhecimento a nível pessoal e profissional", explica Isabel Joaquim. É uma experiência em contexto real de trabalho num país diferente. E é também uma oportunidade para aperfeiçoar a utilização de outra língua. "O entusiasmo dos participantes torna-se um incentivo para outros, embora refiram que gostariam de estar mais tempo fora", conclui a coordenadora nacional do programa.
Carlos Silva é aluno da Escola Profissional de Braga, tem 20 anos, mas já conta com uma porta aberta em Inglaterra. Quando terminar o curso técnico que frequenta, quem sabe não arruma as malas e volta para a Mouchel? Carlos Silva já tinha concluído o seu estágio de um mês na Mouchel, em Londres, quando recebeu um e-mail da empresa a oferecer-lhe emprego. A ideia é que volte a Inglaterra depois de terminar o Curso Técnico de Construção Civil, na Escola Profissional de Braga. Quando questionado se pensa voltar, a resposta é peremptória: "sim". O jovem natural de Braga partiu em Julho do ano passado para Londres. Na Mouchel, empresa que fornece muitos dos projectos e serviços de gestão e engenharia que sustentam a sociedade moderna, colaborou na fiscalização de obras, trabalhou em AutoCAD (programa informático para a realização de projectos de construção civil), fez medição e orçamento de estradas, passeios, passadeiras e postes de iluminação pública, entre outras tarefas. No final, tudo acabou por correr de acordo com as suas expectativas ou até mais. "Gostei imenso de lá estar e estagiar na empresa. (...) Esta experiência serviu para melhorar as minhas capacidades profissionais e perceber como funciona o mundo de trabalho que se avizinha para mim." Foi quando decidiu concorrer a um estágio transnacional, na Escola Profissional de Braga, que Carlos Silva teve conhecimento do programa Leonardo da Vinci. Em Janeiro, candidatou-se: foi a uma entrevista com o seu coordenador de curso e com a responsável pelo Departamento de Comunicação e Imagem e foi seleccionado. Mais tarde, teve uma entrevista pelo telefone com um representante da Work UK, a entidade de acolhimento em Londres, que tratou do estágio. Todo o processo de candidatura demorou cerca de dois meses. "Candidatei-me, principalmente, pela experiência em si, para poder estar num país diferente do nosso a todos os níveis, pela possibilidade de estar em contacto com outras pessoas e pela experiência de trabalho que, na altura, seria a primeira", comenta. A tudo isto, juntou a grande vontade que tinha de visitar Londres. Carlos teve apenas um mês para se adaptar à cidade de Sua Majestade, mas nada que não tivesse resolvido depressa. "O primeiro e o segundo dia foram um pouco atribulados, mas depois a adaptação foi bastante fácil. Conheci bastantes pessoas de todos os cantos do mundo, que nunca imaginei que pudesse vir a conhecer." Por isso, não hesita. Aos jovens que queiram ingressar no programa, deixa um conselho: "Inscrevam-se e não tenham medo do desconhecido. Vejam este tipo de oportunidades como algo que vos vai enriquecer a nível pessoal, profissional e social", conclui. |