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Para corar de vergonha
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer...
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13 de Maio de 2010 às 10:37
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país caótico que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa da Europa - citam-se, a par, a Grécia e Portugal. Nós, porém, não possuímos como a Grécia, além de uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da Arte. Apenas nos ufamos do Sr. Lisboa, barítono, e do Sr. Vidal, lírico."
Eça de Queiroz, in "Uma Campanha Alegre", (1872) pág. 235, edição Livros do Brasil
Eça de Queiroz escreveu esta reflexão em Janeiro de 1872. Ou seja, passaram-se entretanto 138 anos e cinco meses. Reler, agora, as observações de Eça faz o país corar de vergonha. O diagnóstico, pela sua actualidade, é aterrador. A terapia, por seu lado, continua ausente. Portugal continua entretido a enganar-se a si próprio, praticando o desporto preferido das avestruzes - o de enterrar a cabeça na areia.
Eça de Queiroz, in "Uma Campanha Alegre", (1872) pág. 235, edição Livros do Brasil