Quando se mudou para Portugal, há cerca de dois anos, foi a paixão pelos jogos que fez com que Fabrizio Harper visse neste mercado o investimento ideal para montar um negócio. Habituado a alugar jogos em Londres, onde morava, identificou a falta de ofertas em território luso e pôs mãos à obra para montar o modelo a partir de Mafra.

A um conhecimento profundo do mundo dos jogos - conseguido por intensa "pesquisa directa" e muitas horas de experiência com consolas - juntou um currículo na área de gestão que passa pela chefia das vendas de um dos principais portais internacionais dedicado a propriedade partilhada e a angariação de patrocínios para um grande evento de prémios de música, entre outras áreas pelas quais passou ainda no Reino Unido.

Apesar do entusiasmo o primeiro projecto não durou muito face às inúmeras barreiras que encontrou, criadas pelas empresas do sector (especialmente as editoras), que fizeram com que desistisse do sistema de renting.

Mesmo assim Fabrizio - que usa a alcunha de Megaman no mundo dos jogos - não baixou os braços e tirou partido de todo o seu engenho para remodelar a ideia e permitir que o projecto vingasse dentro das regras que existem. "Quero trabalhar com o mercado e não contra ele", sublinha.

Criada a Games4U o empreendedor apostou num modelo de trade-in de jogos, residindo a inovação na possibilidade do cliente comprar os jogos online e depois devolvê-los, recebendo um desconto na compra de um novo título.

O site Games4u foi lançado em Fevereiro e implementa um serviço que permite aos clientes comprar jogos para Playstation3, Xbox 360 e Wii, e depois trocá-los de forma fácil e rápida se não gostarem do título ou se já tiverem esgotado a "acção".

"Quando acreditamos em alguma coisa não devemos desistir. Eu acredito que deve existir maior racionalidade económica na comercialização de jogos e acho que este é um modelo pelo qual vale a pena lutar", afirma o empreendedor.

Rever os custos
"Os jogos de consola são muito caros e quando cheguei a Portugal vi famílias a gastarem dezenas de euros em títulos para oferecer aos filhos. E a minha experiência dizia-me que dai a algumas semanas estes estariam completamente esgotados, e encostados à prateleira", explica Fabrizio num português já corrente, mas com sotaque britânico marcado.

A reformulação da ideia levou quase um ano, enfrentando as burocracias habituais de criação da empresa e pequenos detalhes que queria colocar a funcionar para facilitar o sistema de trade-in de jogos. Um dos exemplos é o envelope através do qual envia o jogo ao cliente e que queria que servisse também para devolução. Muitas andanças e seis meses foram necessários para a sua aprovação, lembra Fabrizio, que garante que foi preciso insistir para que este pequeno elemento do negócio fosse o mais funcional possível.

"Há boas oportunidades em Portugal. Existem bolsas de crescimento em várias indústrias, apesar da crise, e os jogos são uma das áreas prometedoras", sublinha Fabrizio que admite porém que não é fácil criar uma empresa em Portugal devido às dificuldades legais e burocracia. "O custo de ser empreendedor é elevado", acusa.

A atenção aos pormenores é um dos elementos em que o empreendedor aposta, tratando de todos os detalhes da Games4U, desde o site ao apoio aos clientes. "Somos um pequeno negócio e queremos diferenciar-nos das grandes cadeias de lojas pelo serviço que prestamos, a qualidade e a transparência", explica.

Com um stock pensado à medida, Fabrizio quer que a Games4U seja agressiva no preço de comercialização dos jogos, sejam novos ou já usados. Para as estreias o objectivo é ter um preço máximo de 50 a 55 euros, enquanto os preços dos jogos usados vão depender do interesse no título, mas sempre com garantia de qualidade.



Bilhete de identidade
Nome Games4U
Início de Actividade 2010
Actividade Comércio de jogos "on-line" em modelo "trade in"
Localização Odemira
Site www.games4u.pt



De Londres para Odemira
As ligações de Fabrizio Harper a Portugal remontam aos seus pais, um de ascendência britânica e outro português, e por isso o empreendedor teve a possibilidade de tirar o melhor partido dos dois mundos, fazendo todo o percurso de formação no Reino Unido, conjugado com temporadas passadas de férias em Portugal. Foi em Portugal que conheceu a sua mulher, Neusa, que aceitou a aventura de se mudar para a capital inglesa. "Vivemos em Londres durante 10 anos mas quando começámos a pensar em formar família decidimos que Portugal era mais simpático. Aqui o nosso filho pode ir andar de bicicleta na rua sem estarmos preocupados", explica o empreendedor. Primeiro, a partir de Mafra e, agora, em Odemira, o negócio está ainda a formar-se. E o facto de morar em vilas periféricas parece natural a Fabrizio. Até porque a Internet torna a globalização cada vez mais real.