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Henrique Granadeiro aposta em Pedro Soares dos Santos

Talvez a escolha tenha sido para fazer justiça: poucos conhecem Pedro Soares dos Santos, excepto de sobrenome. Poucos... em Portugal.

29 de Novembro de 2007 às 12:00
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Talvez a escolha tenha sido para fazer justiça: poucos conhecem Pedro Soares dos Santos, excepto de sobrenome. Poucos... em Portugal. Talvez tenha sido isso que motivou Henrique Granadeiro, que fará 64 anos no próximo domingo, a escolher Pedro Soares dos Santos, 47 anos, como “português que vai marcar Portugal daqui a dez anos”.

A recuperação dos negócios da Jerónimo Martins, que enfrentou o abismo depois de uma expansão precipitada há quase uma década, é hoje atribuída sobretudo a três pessoas: a Alexandre Soares dos Santos, o patriarca que recusou as soluções óbvias (como vender); a Luís Palha, o profissional escolhido fora da família para presidente executivo do grupo; e a Jardim Gonçalves, que “bancou” um generoso balão de oxigénio financeiro.

Mas houve alguém que, fora deste mediatismo, fez as malas e foi liderar o negócio que efectivamente permitiu a notável recuperação económica da Jerónimo Martins: foi Pedro Soares dos Santos, que há sete anos zarpou e na Polónia liderou um projecto de formiguinha (ou melhor: de joaninha) de alianças com produtores locais, inovação logística e grande agressividade concorrencial. Hoje, a Jerónimo tem mais de mil lojas na Polónia, onde é líder mesmo ao lado de uma Alemanha imponente e competindo directamente com gigantes como a Lidl ou a Tesco. Mas não é apenas dimensão: enquanto a Tesco factura hoje o mesmo nas lojas que tinha há um ano, a rede que a Biedronka (literalmente, “joaninha”, do grupo português) tinha então cresce 20%; com as aberturas, a subida é

de 36%. E a Jerónimo já é maior lá do que cá.

Granadeiro não duvida que Pedro Soares dos Santos ultrapassou o estigma do nome de família e se impôs por mérito próprio. Mais: acredita que Pedro será gestor líder: “Seguramente que nos próximos dez anos ele irá marcar o futuro de um sector, num projecto em forte internacionalização e crescimento”, resume. “Internacionalização” é a palavra- -chave, sublinha o presidente do Grupo Portugal Telecom. Aliás, o pior cenário para Portugal, prossegue Granadeiro, é “não termos capacidade de internacionalizar as nossas empresas, o que tornará Portugal uma região periférica da Europa” – “e subjugada a Espanha”, acrescenta Pedro Soares dos Santos. “Seremos um bom destino de férias com negócios pobres, a prestar serviços a terceiros”, completa o presidente da PT, “o que acontecerá fatalmente se não pusermos o País em ordem e não assumirmos a internacionalização das nossas empresas como desígnio nacional”.

O gestor do Grupo Jerónimo Martins gosta do tema. É mesmo seu maior receio para a década, “a falta de ambição das empresas portuguesas”. Falar é fácil? É. Mas Pedro Soares dos Santos já fez e ainda faz. E por isso fala especificamente de um sector económico que trata por tu: “Há falta de ambição e de agressividade no agro-alimentar português, que é o que conheço bem. E essa lacuna vem sobretudo da falta de organização”. Mas não só, há ainda o pecado da subsídio-dependência, que afasta os instintos de mercado. “O ‘Estado-Providência’ mata-nos”, ironiza.

Pedro Soares dos Santos lamenta, aliás, que não se tenha feito a fusão que o BPI propôs ao BCP, e que foi entretanto abortada por falta de entendimento oficialmente nos termos de troca. “Bem ou mal, é pena que a fusão BCP/BPI não se tenha feito. Portugal teria ficado com um grande banco de dimensão ibérica que pudesse acompanhar e ajudar as empresas portuguesas na sua internacionalização.”

Mas a utopia para dez anos é outra: “Melhorar o nível de educação dos portugueses”, responde Henrique Granadeiro. “Quem mais sabe, mais pode; quanto mais investirmos na educação das pessoas, mas estaremos a preparar o futuro deste País. O principal recurso de um país é o seu próprio povo. O desenvolvimento do saber é, por isso, o investimento mais rentável que se pode fazer”. E esse retorno Granadeiro já encontra na geração que está hoje a afirmar-se no País e nas empresas. “Uma das grandes reservas estratégicas de Portugal é a geração que está hoje nos 30 e nos 40 anos. Olhando para os principais sectores, encontramos hoje uma constelação de ‘jovens turcos’ muito bem preparados, formados nas melhores escolas internacionais e que estão a assumir as primeiras e as segundas linhas nas empresas. Daqui a dez anos, estarão no poder”.

Faz-se tarde. A sessão fotográfica tomou um quarto de hora aos gestores e já foi tempo suficiente para que Henrique Granadeiro comente que nem no seu casamento pousou tanto tempo; também Pedro Soares dos Santos já está hoje mais tempo com o Jornal de Negócios do que com a sua mulher, neste “salto” que deu a Portugal. Olha o relógio e pede licença, não tardaria a apanhar o voo para a Polónia, onde continua a crescer com novas aberturas de lojas “hard discount”. Mas também na Alemanha, diz-se, onde a Jerónimo Martins estará a ultimar uma aquisição. Pedro Soares dos Santos não pode comentar o que não é certo, por gerir uma empresa cotada em Bolsa. E cujas acções valorizam este ano 65%. “Ai sim? Não sabia, não olho para isso.” A longo prazo estamos todos vivos.

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