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Grande investidor imobiliário alerta para “boom” em Lisboa
Os preços das casas em Lisboa aumentaram 66% desde 2016. O investidor belga Kandiyoti defende que é preciso mais habitação a preços comportáveis.
O momento para comprar, afirmou Baron Rothschild depois da batalha de Waterloo, é "quando há sangue nas ruas, mesmo que esse sangue seja nosso." A calçada de Portugal pode não ter ficado literalmente vermelha de 2011 a 2014, mas os investidores fugiram numa altura em que o país lutava para recuperar de um resgate internacional. Exceto Claude Kandiyoti. Que procurou imóveis para comprar em Lisboa.
Em 2014, a holding familiar de Kandiyoti, Krest Real Estate Investments, comprou nove edifícios construídos no centro de Lisboa por 46,5 milhões de euros. Atualmente, o portefólio de 33.646 metros quadrados está avaliado em, pelo menos, três vezes mais, revelou o responsável.
"Não somos um grande promotor imobiliário, somos apenas uma família que percebeu o país", afirmou Kandiyoti, cuja família também investe em hotéis, retalho, armazéns e novos projetos residenciais em Portugal. O responsável adiantou que a empresa não está a ponderar comprar ativos imobiliários no centro da cidade uma vez que os preços estão muito elevados, revelou em entrevista.
O "boom" do mercado imobiliário em Lisboa provocou uma subida de 66% dos preços das casas na capital desde o primeiro trimestre de 2016, superando o crescimento dos salários e levando a apelos ao Governo para que tome medidas de forma a que os preços sejam comportáveis para os habitantes locais. Agora, mesmo investidores como Kandiyoti, que tem como objetivo conseguir grandes retornos com as apostas que fez em Lisboa, estão a começar a tocar os alarmes sobre os preços imobiliários no centro da cidade.
Dar luta
Kandiyoti não é um estranho em Portugal. A sua família trabalha com o país do sul da Europa há quase três décadas através do negócio de comércio têxtil. A família decidiu investir em imobiliário depois de Portugal pedir ajuda financeira em 2011, porque se abriu "uma janela de oportunidade" para investir num país que estava a "dar luta", afirmou.
"Queríamos fazer parte disso", afirmou Kandiyoti. "É ótimo estar num país que está a recuperar de uma crise, que se está a reconstruir, a recuperar a confiança. Essa confiança está de volta. Está nos píncaros."
Imobiliário comportável
Atualmente, enquanto a bonança do imobiliário em Lisboa continua a elevar os preços, Kandiyoti diz que é altura para investir em projetos imobiliários mais comportáveis para os residentes. A sua empresa está atualmente a construir três novos edifícios de apartamentos em Miraflores, uma área residencial nos arredores de Lisboa, para famílias e para um "novo tipo de portugueses que estão a voltar e que podem pagar", disse.
Os preços do projeto Jardim Miraflores variam entre os 3.500 e os 5.000 metros quadrados. O que é menos de metade do preço de um apartamento na Avenida da Liberdade, onde o custo do metro quadrado é de 10.500 euros, segundo a Jones Lang LaSalle.
"Só os estrangeiros podem" comprar, afirmou Kandiyoti, referindo-se aos preços praticados no centro da cidade. "Os portugueses estão simplesmente a sair da cidade. O que acontecerá se os estrangeiros decidirem ir-se embora?"
Portugal tornou-se num íman para os investidores estrangeiros que compraram a um ritmo acelerado imobiliário por todo o país enquanto a economia começou a recuperar do resgate da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. A decisão do Governo, em 2012, de conceder vistos gold a estrangeiros que comprassem imobiliário e incentivos fiscais para residentes estrangeiros para impulsionar o imobiliário transformou as colinas de Lisboa para vistas com novos hotéis, apartamentos arrendados através do Airbnb e espaços de "co-working" para uma nova vaga de residentes estrangeiros.
Lisboa, no seu global, continua a ser relativamente barata em termos de preços imobiliários face a outras capitais europeias. O preço médio das transações de novas propriedades em Lisboa foi de 3.482 euros por metro quadrado em 2018, o que compara com os 4.345 euros em Madrid e com os 12.910 euros em Paris, segundo o índice imobiliário da Deloitte.
Dinheiro estrangeiro
Os investidores estrangeiros representam 8,2% das compras totais de imobiliário e 13% do valor de transações em 2018, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Kandiyoti, que investe em projetos residenciais comportáveis na Bélgica, diz que gostava que Lisboa tivesse uma política clara de preços de casas comportáveis.
O primeiro-ministro António Costa, que conquistou um segundo mandato nas eleições legislativas de 6 de outubro, prometeu continuar a implementar medidas para atrair investidores estrangeiros. O país precisa deles. Depois de crescer durante cinco anos consecutivos, a economia de Portugal está a enfrentar ventos contrários da União Europeia, o principal mercado exportador, com a Alemanha a namorar uma recessão devido ao aumento dos riscos de um Brexit sem acordo e da guerra comercial.
Com o intuito de travar a saída dos residentes para os subúrbios, o governo começou a oferecer benefícios fiscais aos proprietários que ofereçam descontos aos inquilinos no âmbito de um programa chamado de renda acessível. O programa atraiu muito poucas famílias desde o seu início, em julho.
O aumento de preços do imobiliário em Lisboa criou um dilema a Kandiyoti, que diz não querer comprar imóveis no centro da cidade por ser muito dispendioso, mas também não quer vender os ativos que tem.
"Onde pode investir o seu dinheiro e ter retornos como os de Lisboa", questionou Kandiyoti. "Muitas pessoas que viviam na minha rua em Bruxelas mudaram-se para Lisboa e não por questão fiscais. Mudaram-se por causa da qualidade de vida."
(Texto original: Lisbon Investor Who Bought With Blood in Streets Grows Cautious)