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Portugal abre portas a investimento da China enquanto Europa as fecha
Os EUA e a União Europeia estão cada vez mais preocupados com o dinheiro proveniente da China, por isso a reacção de Portugal a um acordo de 11 mil milhões de dólares destaca-se.
O primeiro-ministro António Costa não colocou objecções quando a chinesa China Three Gorges se ofereceu para comprar o restante da antiga empresa estatal, a Energias de Portugal (EDP).
Foi o governo de Pequim que se apresentou para fazer investimentos estrangeiros em Portugal durante a crise da Zona Euro, em 2011. Isto criou vínculos que os políticos em Lisboa estão dispostos a expandir, embora países vizinhos, desde a Itália à Bulgária, expressem receios sobre os 318 mil milhões de dólares que a China investiu na Europa nos últimos 10 anos.
"Para entender esta postura, é preciso retroceder aos anos da crise", disse António Barroso, vice-director de "research" da Teneo Intelligence, em Londres. "O governo estava a ser pressionado a vender activos estatais para obter receita adicional. O dinheiro chinês forneceu a opção mais atraente. Isto criou espaço para futuros investimentos."
O longo relacionamento de Portugal com a China remonta ao período posterior ao lendário explorador Vasco de Gama ter aberto uma rota marítima para o Extremo Oriente. O país desenvolveu rotas comerciais no século XVI a partir da sua colónia em Macau, que foi transferida pacificamente para a China em 1999.
A China Three Gorges demorou duas décadas a construir uma represa hidreléctrica no rio Yangtze antes de se expandir para o exterior. Primeiro, adquiriu uma participação na EDP em 2011, depois de Portugal ter solicitado um resgate financeiro ao Fundo Monetário Internacional e à União Europeia, e agora tem 23% da companhia.
A oferta em dinheiro pelo restante capital da EDP daria à Three Gorges uma extensa rede de distribuição de energia em Portugal e em Espanha, além de projectos eólicos e hídricos no Brasil e nos EUA.
O acordo faz parte de uma onda de investimentos de empresas chinesas nas economias ocidentais, tanto para obter rendimento quanto para adquirir habilidades em sectores fundamentais. Itália e seus aliados estão a pressionar para que se faça uma avaliação mais rigorosa do investimento chinês e para que haja um melhor acesso para as empresas europeias que queiram trabalhar na China.
Para Portugal, o acordo da EDP aprofundaria um relacionamento que tem crescido. Como parte do resgate, a chinesa State Grid comprou uma participação na distribuidora de energia de Portugal, a Redes Energéticas Nacionais (REN). O grupo Fosun é o maior investidor no Banco Comercial Português e controla a seguradora Fidelidade, assim como a operadora hospitalar Luz Saúde.
A China também está longe o suficiente para não despertar suspeitas sobre investidores mais próximos. É mais provável que a CTG continue a operar a EDP de forma independente. Se uma concessionária europeia comprasse a EDP, poderia haver uma integração total, com o corte de custos e a eliminação de empregos que isso acarretaria.
(Texto original: The Ex-Global Superpower Enjoying China’s Rise)