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Mais de 50% da energia no mundo será renovável até 2030, à boleia de data centers e ar condicionado

O World Enegy Outlook 2024 da AIE assegura que o pico da procura para todas as energias fósseis (petróleo, gás e carvão) terá lugar "até o fim da década".

Bruno Simão
16 de Outubro de 2024 às 11:35
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Mais de metade da energia elétrica a nível global será produzida a partir de fontes renováveis ou com baixas emissões de carbono até 2030, mas, ainda assim, o mundo continua "longe de uma trajetória alinhada com a neutralidade carbónica, conclui o World Energy Outlook 2024, publicado esta quarta-feira pela Agência Internacional de Energia (AIE). O documento vê a capacidade de geração a partir de fontes limpas a passar dos atuais 4.250 GW para 10.000 GW em 2030, abaixo da meta de dedinida na COP28, de triplicar este valor. 

"Na história da energia, testemunhámos a era do carvão e a era do petróleo. Agora estamos a entrar rapidamente na era da eletricidade, que definirá o sistema global energético no futuro e será cada vez mais baseado em fontes limpas", afirmou o diretor executivo da AIE, Fatih Birol, citado no relatório anual da organização. No documento, a AIE mantém a previsão de que o pico da procura para todas as energias fósseis (petróleo, gás e carvão) terá lugar "até o fim da década".

Já a procura pelo consumo de energia elétrica será impulsionada (mais 6% ou 2.200 TWh em 2035 do que as previsões do último outlook) por fatores como a eletrificação da indústria, crescimento da mobilidade elétrica, pela ascensão da inteligência artificial, por mais de 11.000 data centers mundiais e também por um maior uso de aparelhos de ar condicionado, refere o relatório. 

"Com o crescimento da energia nuclear, objeto de interesse renovado em muitos países, espera-se que as fontes energéticas de baixas emissões, a que se somam a eólica e solar, produzam mais de metade da eletricidade mundial até 2030", segundo a AIE, que deixa o aviso: "O mundo segue ainda distante de uma trajetória alinhada com os objetivos da neutralidade de carbono" até 2050. 

"Um nível recorde de energia limpa foi atingido em 2023 (mais de 560 GW de renováveis), mas dois terços do aumento da procura por eletricidade ainda foram produzidos com base em combustíveis fósseis", refere ainda o "outlook". 

As renováveis lideram a expansão na capacidade de geração de eletricidade, "com uma velocidade suficiente para atender, no total, ao aumento da procura". No entanto, o relatório garante que "há espaço para ir ainda mais rápido: a capacidade atual de fabrico de tecnologia solar chega a 1.100 GW por ano, permitindo potencialmente uma implantação quase três vezes maior do que em 2023".

No que diz respeito ao investimento em energias limpas, a AIE dá conta de uma estagnação nos 15% do total, nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento (exceto China), embora esses países sejam responsáveis por dois terços da população global e um terço do PIB global. Ainda assim, os incestimentos em projetos renováveis estão perto dos 2 biliões de dólares por ano, mais do dobro o dinheiro investido em novas fontes poluentes. 

Petróleo e gás natural: AIE vê riscos geopolíticos elevados e preços em queda

No que diz respeito ao fornecimento global de petróleo e gás natural liquefeito (GNL), a AIE conclui que "o potencial de interrupção de curto prazo é alto devido ao conflito no Médio Oriente", tendo em conta que cerca de 20% deste fornecimento passa pelo Estreito de Ormuz, um ponto de estrangulamento marítimo na região.

"No entanto, embora os riscos geopolíticos permaneçam elevados, prevê-se uma flexibilização dos preços no mercado, já que um crescimento mais lento na procura (com as políticas atuais conhecidas) de petróleo contrastará com uma capacidade de produção excedente que vai disparar para 8 milhões de barris por dia até 2030", atesta a agência. Além disso, uma nova vaga de novos projetos de GNL deverá adicionar quase 50% à capacidade de exportação disponível até ao fim da década.

"Na segunda metade desta década, a perspetiva de fornecimentos excedentes de petróleo e gás natural dependendo de como as tensões geopolíticas evoluirão, o que nos levaria a um mundo energético muito diferente daquele que vivemos nos últimos anos durante a crise energética global", acrescentou Fatih Birol, acrescentando que isso "implica pressão descendente sobre os preços, proporcionando algum alívio para os consumidores". 

China lidera no investimento em renováveis

O World Energy Outlook 2024 refere ainda que o uso de eletricidade cresceu a um ritmo duas vezes maior do que a procura de energia a nível global na última década, com dois terços do aumento da procura a vir da China nos últimos dez anos.

"Em anteriores relatórios, a AIE deixou claro que o futuro do sistema global de energia é elétrico – e agora é visível para todos", disse Fatih Birol. 

"A China é uma parte importante do que está a acontecer hoje no mundo da energia, seja investimento, procura por combustíveis fósseis, consumo de eletricidade, implantação de energias renováveis, mercado de veículos elétricos ou fabrico de tecnologia para energia renovável. A expansão solar no país está a acontecer a um ritmo tal que, no início da década de 2030, a geração de energia solar da China pode exceder a procura total de eletricidade dos Estados Unidos hoje", acrescentou.

Em 2023, o país asiático instalou 60% da nova capacidade renovável no mundo.

Em termos de emissões globais de dióxido de carbono, a SIE estima que estas deverão atingir um pico em breve, "mas a expectativa de ausência de um declínio acentuado depois disso significa que o mundo está a caminho de um aumento de 2,4 °C nas temperaturas médias globais até o final do século, bem acima da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C".

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