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O samurai da Toyota em Portugal

Salvador Caetano morreu hoje aos 85 anos. Veja aqui a entrevista dada pelo fundador da empresa do sector automóvel ao Negócios em 2004.

27 de Junho de 2011 às 18:54
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“…um dia, o Drº S. Toyoda [fundador da multinacional Toyota], ao ver-me chegar, e apesar de estar acompanhado, não resistiu e chamou-me de ‘strong man’ (homem forte), o que provocou uma certa graça entre os presentes.” É com revelações como esta que é feita a biografia “Salvador Caetano – Fragmentos de Uma Vida”, ontem apresentada na sede do grupo, em Vila Nova de Gaia, e que passa em revista os 78 anos de vida de Salvador Caetano e os primeiros 50 de um total de 58 anos que leva como empresário.

A história da elaboração do próprio livro seria merecedora de um livro. Como um dos três co-autores da biografia, Silva Fernandes, salientou, a ideia surgiu há cerca de 25 anos. E sempre que Salvador Caetano era chamado a dar o seu contributo, a resposta era invariavelmente a mesma:

“Deixe-se disso.” Daí que a biografia do empresário seja bastante datada, terminando em 1996 e contando com cerca de uma centena de testemunhos – como Cavaco Silva, Mário Soares, António Guterres, Belmiro de Azevedo ou Artur Santos Silva, que agora são surpreendidos com registos escritos naquele tempo e retratos menos rugosos.

“Salvador Caetano – Fragmentos de Uma Vida” vale pelas histórias, públicas e privadas, que moldaram o homem, o cidadão, o empresário. Como esta: “… fiz também uma incursão muito fugaz pela política activa.

Aceitei ser candidato a presidente da Assembleia Municipal de Gaia pelo PSD [em meados da década passada]. Foi um erro porque o candidato a presidente de câmara – Manuel Moreira – apesar de ser boa pessoa, não tinha hipóteses politicamente.” Ontem, na apresentação da biografia, Manuel Moreira, actual governador civil do Porto, estava sentada ao seu lado esquerdo e até fez questão de intervir para enaltecer a obra de Salvador Caetano.

“Não posso dizer que ele fosse mal empregado na vida política – outros o dirão! – mas a política activa não seria, em caso algum, compaginável com as suas responsabilidade de cabeça de lista dos seus dez mil trabalhadores, nem de ‘deus ex machina’ do poderoso grupo económico de que foi criador”, enfatizou Almeida Santos, ex-presidente da Assembleia da República, a quem coube a apresentação da biografia.



Salvador Caetano nasceu em 1926 e começou a trabalhar aos 11 anos, como ajudante de pintor, na construção civil. Aos vinte anos cria a primeira empresa na indústria das carroçarias.

Em 1965 entra em laboração a fábrica para a construção de autocarros, em Oliveira do Douro, Gaia. Dois anos depois, com a auspiciosa ligação à multinacional japonesa Toyota, a empresa inicia um processo de crescimento rápido. O grupo detém actualmente mais de três dezenas de empresas e facturou 474,44 milhões de euros em 2003, a que acresce muitos outros negócios que integram a “holding” pessoal de Salvador Caetano.

Após 58 anos de vida empresarial, qual é a maior “espinha” que lhe continua “atravessada” na garganta?

Naturalmente que, numa actividade já tão longa, é evidente que há sempre “espinhas”. A que eu tenho mais saliente na garganta, e que não consigo esquecer com facilidade, foi o esforço, o sacrifício que tive que fazer e a luta que tive de travar para conseguir o alvará para montar a fábrica de montagem em Ovar. Isto em 1968. Estávamos em pleno condicionamento industrial e tinha, nessa altura, como inimigo número um tal eng. Torres Campos, que era o director-geral da Indústria e que, de uma forma arrogante, disse-me um dia: “Enquanto eu estiver aqui, quem manda sou eu e você não terá o alvará.” Eu levantei-me e exaltei-me de tal modo que lhe disse: “Quem é você? Você não presta”, quase o insultei e ele ficou muito atrapalhado, vi-me embora e depois o assunto foi resolvido pelo eng. Rogério Matias, que era na altura secretário de Estado da Indústria.



Está a pensar reformar-se, retirando-se da presidência do grupo?

Para já, não. Eu sou presidente do grupo mas não tenho nada a ver com a [administração] executiva, mas sigo tudo a par e passo. Tenho os três filhos a trabalhar no grupo e um dos meus genros [José Ramos], que é o vice-presidente, mas sinto que ainda é muito importante que eu esteja cá para manter um certo controlo.

Já tem um sucessor escolhido?

Não.

Mas será com certeza um dos três filhos…

É possível. Isso será uma coisa que será discutida um dia, em reunião de família.

Mas quer ser o senhor a decidir?

Eu não quero decidir, mas quero primeiro ouvir os meus filhos e o meu genro e o que é que eles pensam. Em primeiro lugar, eu acho que devia ser um deles, mas pode também ser um estranho.

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