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Medicamento para Parkinson: Bial com novo parceiro nos EUA após ex rasgar contrato

“A nova parceria enquadra-se num contexto em que a anterior não correspondeu às expectativas da Bial”, alega fonte oficial da farmacêutica portuguesa em declarações ao Negócios.

Rui Neves ruineves@negocios.pt 07 de Dezembro de 2023 às 15:00

Em fevereiro de 2017, a Bial e a farmacêutica norte-americana Neurocrine Biosciences assinaram um contrato de licenciamento exclusivo para o desenvolvimento e comercialização na América do Norte da opicapona, princípio ativo do Ongentys,  nome do segundo medicamento desenvolvimento pelo grupo português e que se destina a doentes com Parkinson.

 

Na altura, o grupo farmacêutico da família Portela anunciou que esta parceria podia chegar aos 145 milhões de dólares (cerca de 134,4 milhões de euros), com a Neurocrine a fazer um pagamento inicial de 30 milhões de dólares (cerca de 27,8 milhões de euros) pela concessão da licença e a assumir as actividades necessárias para garantir a aprovação da FDA, que é órgão do governo dos Estados Unidos responsável pelo controle dos alimentos e medicamentos.

 

"Estão previstos outros pagamentos à Bial", que podem "atingir o valor adicional de 115 milhões de dólares" (106,6 milhões de euros), "mediante o cumprimento de várias etapas ao longo do processo de desenvolvimento, registo e comercialização", detalhava a farmacêutica portuguesa, no inverno de 2017.

 

Acresce que a empresa norte-americana deveria fazer um pagamento adicional "pela percentagem das vendas como contrapartida da produção e fornecimento da opicapona que serão assegurados" pela Bial.

 

A FDA viria a aprovar o Ongentys no auge da pandemia de covid-19, em abril de 2020, pelo que a Neurocrine atrasou o lançamento do medicamento nos Estados Unidos para o final desse ano.

 

Ongentys faturou apenas 12 milhões de euros nos EUA em 2022

 

3 de maio de 2023: "No primeiro trimestre de 2023, notificamos a Bial por escrito da rescisão do contrato de licença para comercializar o Ongentys, uma terapia adjuvante aprovada para pacientes com doença de Parkinson, nos Estados Unidos e Canadá. Determinamos que a comercialização contínua do Ongentys é insustentável. Prevê-se que a rescisão entre em vigor em dezembro de 2023", reporta a Neurocrine Biosciences nas suas contas relativas aos primeiros três meses deste ano.

 

Face a concorrentes existentes no mercado, o Ongentys, nas mãos da Neurocrine, nunca alcançou sucesso comercial, com as vendas a ficarem-se por 13 milhões de dólares (12 milhões de euros) em 2022 e 5,3 milhões de dólares (4,9 milhões de euros) no primeiro trimestre deste ano, segundo a fierce Pharma, site especializado na cobertura do setor farmacêutico.

 

Norte-americana Amneal passará a comercializar o Ongentys a partir de 2024

 

7 de dezembro de 2023:  "A BIAL acaba de assinar um contrato de licenciamento com a empresa farmacêutica Amneal, Inc. (NYSE: AMRX) para a comercialização, nos Estados Unidos, do seu medicamento para a doença de Parkinson, Ongentys (opicapona)", revela o grupo português, em comunicado.

 

Sem nunca mencionar a Neurocrine nem as razões que determinaram a troca de parceiro, a Bial refere que "a Amneal é uma empresa farmacêutica global que conta com um portfólio diversificado de medicamentos, sobretudo na área do sistema nervoso central, e passará a ser, a partir de 2024, responsável pela comercialização do segundo medicamento de patente portuguesa direcionado para a doença de Parkinson no importante mercado norte-americano".

 

Um acordo que, considera, "vem reforçar a aposta da farmacêutica nacional no mercado norte-americano onde, através de parcerias, tem operações comerciais desde 2014 e presença própria desde 2020".

 

"Com esta nova parceria, que agora estabelecemos com a Amneal, queremos ampliar e garantir que o nosso medicamento está acessível a cada vez mais doentes nos EUA, impactando positivamente a sua qualidade de vida", afirma o CEO da Bial.

Bial: "A decisão não teve como base qualquer questão associada ao produto"

 

"A nossa estreia no mercado norte-americano foi em 2014, já há quase dez anos, e temos a ambição de continuar a crescer naquele que é o maior mercado farmacêutico mundial. É muito relevante crescermos nos mercados internacionais para continuarmos a gerar recursos para o nosso caminho na Investigação e Desenvolvimento nas áreas das neurociências e doenças raras", salienta António Portela.

Já em declarações ao Negócios, fonte oficial da farmacêutica com sede na Trofa alegou que "a nova parceria enquadra-se num contexto em que a anterior não correspondeu às expectativas da Bial para o mercado dos Estados Unidos".

 

"A decisão não teve como base qualquer questão associada ao produto, mas à insustentabilidade dos esforços de comercialização de Ongentys na estratégia comercial e de negócio da Neurocrine. Esta nova parceria vem exatamente no sentido de alargar a comercialização de Ongentys no mercado norte-americano e assegurar que mais doentes beneficiam do mesmo", conclui a mesma fonte oficial da Bial.

 

Bial foi a empresa que mais investiu em I&D em Portugal em 2021

 

A Bial, cujo primeiro medicamento desenvolvido de raiz chama-se Zebinix (é um antiepilético), foi a empresa com mais despesa em Investigação e Desenvolvimento (I&D) em Portugal em 2021, num montante superior a 81,6 milhões de euros, de acordo com os resultados definitivos do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN21), publicados pela Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC).

 

A opicapona é o segundo fármaco de inovação da Bial. Comercializado desde 2018 no mercado nacional, "é hoje um medicamento global presente na vida de cerca de 80 mil doentes", afiança o grupo liderado por Portela, adiantando que este fármaco foi recentemente lançado na Eslovénia e Croácia, depois de em fevereiro do corrente ano ter sido iniciada a sua comercialização na Austrália.

 

No ano passado passou a estar disponível para os doentes da República Checa, Eslováquia, Irlanda e Islândia, estando também a ser comercializado nos países nórdicos, Suíça, Coreia do Sul e Taiwan, para além dos grandes mercados farmacêuticos europeus, caso de Espanha, Alemanha, Reino Unido e Itália, dos EUA e do Japão, elenca a Bial.

 

Os Estados Unidos, Espanha, Alemanha e Itália são os principais mercados da Bial, que exporta para mais de 50 países, tendo as vendas ao exterior gerado cerca de três quartos da faturação de 319 milhões de euros registada em 2022.

 

Já este ano, a Bial concluiu um investimento de 30 milhões de euros no campus da Trofa, que incluiu a duplicação do seu perímetro para 24 hectares, uma nova fábrica de antibióticos, a expansão do edifício industrial e da área logística.

 

A empresa possui agora uma capacidade instalada de produção de 750 milhões de cápsulas/comprimidos e de três milhões de antibióticos, tendo ainda instalado um parque fotovoltaico que assegura 25% das necessidades energéticas.

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