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IP3: Empresários consideram uma provocação a falta de investimento e querem UE a pagar autoestrada
”Quem tem de decidir nestas situações, umas vezes parece que é a Infraestruturas de Portugal, outras vezes o ministério das Infraestruturas, outras parece-nos que não é ninguém e que há aqui um vazio de capacidade de decisão”, critica José Couto, presidente do Conselho Empresarial do Centro.
Associações empresariais das regiões Centro e de Coimbra consideraram uma provocação a falta de investimentos no Itinerário Principal 3 (IP3), criticaram anúncios de construção de uma autoestrada que não avançou e defenderam a aplicação de fundos europeus naquela via.
Em declarações à agência Lusa, José Couto, presidente do Conselho Empresarial do Centro (Cec), criticou o anúncio da transformação do IP3 em autoestrada, com ligação à A13 a sudeste de Coimbra, feito há 15 anos e que não teve seguimento, e manteve as críticas à situação atual, concretamente ao troço escolhido para o primeiro alargamento de via e às "indefinições" que, disse, estão a pôr em causa investimentos na região.
"As infraestruturas [rodoviárias] são fundamentais e o IP3 parece-me fundamental no contexto da coesão social e económica desta região. Não fazer isto [os investimentos] é provocatório, porque não fazer significa que nos estão a condicionar o crescimento e evolução desta região", argumentou José Couto.
Deu o exemplo dos investimentos da Citroen na zona de Viseu e Mangualde: "Nós queremos que a Citroen possa investir na região Centro e na região junto a Viseu e Mangualde. Para que isso aconteça, é muito importante que se encontrem infraestruturas que facilitem a comunicação, a fluidez dos negócios e também das populações, com os fornecedores e com os clientes. Há que criar todo este ecossistema que permita, não só, captar o interesse dos investidores, e fazer com que continuem a investir nesta região".
Lembrou que, sem autoestrada, a entidade a que preside acabou a defender uma via duplicada, onde tal fosse possível, com condições de segurança, projeto semelhante ao que o atual Governo tem em curso.
"O Cec considerou que já que não conseguiríamos ter isso [a autoestrada] em tempo útil, então avançar para uma solução que permitisse o alargar do traçado do IP3, dotado da maior segurança, que permitisse a circulação num perfil que, na maior parte do seu traçado, tivesse duplicação de vias", explicou.
"Essa seria a solução que mais considerámos de imediato", acrescentou, mesmo notando que na zona de Penacova, distrito de Coimbra, existe uma "limitação" na duplicação de vias face à orografia do terreno montanhoso, "mas nada que em termos de engenharia não pudesse resultar numa solução com mais rapidez [de circulação] e segurança".
Apesar de o projeto estar em curso, face aos atrasos que já apresenta desde que a requalificação do IP3 foi anunciada pelo primeiro-ministro, António Costa, em 2018, José Couto afirmou que falta capacidade de decisão e que o Governo "não quis ouvir" os presidentes de Câmara e os empresários da região.
"Quem tem de decidir nestas situações, umas vezes parece que é a Infraestruturas de Portugal, outras vezes o ministério das Infraestruturas, outras parece-nos que não é ninguém e que há aqui um vazio de capacidade de decisão. E é um vazio terrível, porque este vazio é, mais ou menos, empurrar com a barriga para a frente, o que significa que ninguém vai decidir absolutamente nada", acusou.
O anúncio de 130 milhões de euros para obras de requalificação, provenientes do Orçamento do Estado (o custo da duplicação do troço de 28 km entre Santa Comba Dão e Viseu, previsto para entrar em obra em 2024), levou o Cec a entender que "a zona que, provavelmente, menos necessitava de obras, era aquela que ia ter uma intervenção", observou José Couto.
Apesar dos constrangimentos apontados, o empresário e dirigente do Cec alegou que se tem assistido "a um processo de evolução económica notável, mesmo com estas limitações e mesmo com más vias de comunicação", considerando o IP3 como "crucial para a coesão dos territórios".
Já Horácio Pina Prata, presidente da Associação Empresarial da Região de Coimbra (Nerc), frisou que a solução apresentada pelo Governo para o IP3 foi "pequenina", por não o transformar "definitivamente" em autoestrada.
"A região merecia, a região exigiu isto, os autarcas exigiram, as associações empresariais, houve situações que foram refletidas. Infelizmente, o Governo não aproveitou as famosas verbas do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para dar essa prenda a esta região, que bem necessitava, e que, obviamente, urge resolver de vez", sublinhou o empresário.
Antigo vice-presidente da Câmara de Coimbra, no mandato de Carlos Encarnação, Pina Prata enfatizou que se o projeto de requalificação do IP3 em curso for concretizado, com 85% dos 75 km de extensão em perfil de autoestrada, como anunciado pelo Governo, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, "vai ter de resolver os outros 15% que faltam", defendendo o recurso a fundos europeus.
"Para isso é que há coesão territorial, para isso é que há verbas para a coesão territorial, para isso é que há PRR. Onde é que está o famoso PRR, que podia estar adaptado a realidades destas para resolver determinados tipos de problemas?", questionou o dirigente do Nerc.
"Conseguiram resolver isso na região Norte, com justificações muito mais difíceis de fazer. Têm aqui que na região Centro fazer isso e o Nerc lança esse repto ao ministro: o ministro já foi eleito aqui pela região [nas listas do Partido Socialista à Assembleia da República], que resolva de vez este assunto do IP3. Se não resolveram até agora, que resolvam e transformem em perfil de autoestrada o que falta fazer", sublinhou Pina Prata.