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Gowex avança para insolvência depois de contas falsificadas nos últimos quatro anos
As suspeitas já estavam a pressionar as acções da empresa, que acabaram suspensas na quinta-feira. Com a confirmação que as contas dos últimos quatro anos “não mostram uma visão completa e justa da situação da empresa”, a insolvência será o caminho a seguir.
A empresa espanhola Gowex, dedicada ao fornecimento de internet wi-fi (redes sem fios), anunciou este domingo, 6 de Julho, que irá avançar para processo de insolvência. A decisão surge depois de Jenaro García Martín, fundador e CEO da companhia, ter admitido a falsificação das contas dos últimos quatro anos.
"Confrontados com a expectativa de que a empresa não seria capaz de lidar com os pagamentos da sua dívida com os vencimento aCtuais, [o conselho de administração] concordou apresentar um pedido voluntário de insolvência", informou a Gowex em comunicado.
Na rede social Twitter, Jenaro García Martín revelou estar "sinceramente arrependido" com a situação, mostrando-se ainda disponível para colaborar com a justiça e "enfrentar as consequências". De acordo com o Código Penal espanhol, citado pelo El Mundo, Martín poderá ser condenado até quatro anos de prisão pelo crime de abuso de mercado financeiro por ter fornecido informações falsas aos investidores.
No sábado, 5 de Julho, o responsável revelou ao conselho de administração da empresa que as contas dos últimos quatro anos "não mostram uma visão completa e justa da situação da empresa". O mesmo conselho acabou por aceitar o pedido de demissão de Martín no próprio dia.
A situação foi desencadeada por um relatório datado de 1 de Julho da empresa americana de investimento Gotham City Research, que descreve a Gowex como uma "farsa". A Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNVM) – a supervisora do mercado de capitais no país - já se encontrava, inclusive, a investigar suspeitas similares a este nível.
O mesmo relatório da Gotham colocou o preço-alvo das acções da Gowex em 0,00 euros e alega que as receitas da espanhola terão sido, "no máximo", 10% do valor reportado. No final de 2013, mostra o Wall Street Journal, a espanhola registou receitas de 182,6 milhões de euros. A Reuters, por sua vez, fala no anúncio de lucros de 28 milhões de euros em 2013 por parte da Gowex, numa tendência contrária às suas principais concorrentes.
O impacto fez-se sentir de imediato numa queda livre nas acções da empresa espanhola, com uma redução de 60% no valor da companhia em dois dias. Na quinta-feira, 3 de Julho, as acções da Gowex acabaram mesmo por ser suspensas no MAB – Mercado Alternativo Bursátil, onde se listou em 2010. Como explica a Bloomberg, este mercado está vocacionado sobretudo para as PME.
A Gowex chegou mesmo a desmentir o relatório da Gotham, acusando a empresa de investimento de estar a promover uma estratégia de ‘short selling’ - o que permitiria aos investidores aproveitar a queda das cotações para comprar acções a um preço mais barato e posteriormente lucrar com essa mesma compra numa futura transacção. Na altura, a espanhola informou ainda que iria contratar a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) para realizar uma auditoria às suas contas.
A imprensa internacional, nomeadamente o Financial Times, descreve o caso da Gowex como um "golpe pesado para a confiança dos investidores no mercado de acções espanhol" depois de uma situação semelhante com a Pescanova – com uma auditoria a revelar que a empresa havia acumulado, secretamente, dívidas assinaláveis.
Sediada em Madrid, a Gowex fornece serviços de internet wi-fi em cerca de 80 cidades, como Londres ou Nova Iorque, através de parcerias público-privadas com governos, associações e empresas de transporte, explica o El Mundo. No final de 2013 empregava cerca de 170 pessoas.
Nesse mesmo ano, a Gowex foi nomeada como uma das ‘Best New Listed Companies’ pela Federação Europeia das Bolsas de Valores e Comissão Europeia, revela o Financial Times. Era ainda frequentemente destacada, pelo Governo espanhol, como um bom exemplo de inovação e empreendedorismo no país.