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Sócrates: "Bênção" ao assalto ao BCP? "É uma patranha vazia de evidências"

O antigo primeiro-ministro garante nunca ter interferido nas decisões da administração do BCP, num período que foi marcado por uma guerra entre acionistas.

Rita Atalaia ritaatalaia@negocios.pt 05 de Julho de 2019 às 12:29
José Sócrates garante nunca ter interferido nas decisões da administração do BCP, na altura em que o banco vivia uma guerra entre acionistas. O antigo primeiro-ministro recusa, assim, o que foi dito por Filipe Pinhal no Parlamento, de que o chamado "assalto ao BCP" aconteceu com a "bênção do triunvirato" Sócrates, Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças, e Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal. 

"Nunca – repito, nunca- orientei, sugeri ou discuti com qualquer acionista do BCP as escolhas a fazer para a sua administração", afirma Sócrates nas respostas por escrito enviadas aos deputados, e a que o Negócios teve acesso, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos, explicando que "acompanhei a crise na administração do BCP pelos jornais".

"Nunca me reuni com acionistas ou grupos de acionistas para falar sobre a administração do BCP e também isso nunca me foi solicitado por qualquer dos envolvidos na disputa", garante o antigo-primeiro-ministro, dizendo ainda também não ser verdade "que tenha mantido reuniões com o Dr. Paulo Teixeira Pinto durante o período critico da alteração da administração do BCP".

Esta não é, contudo, a versão de Filipe Pinhal. O antigo administrador do BCP afirmou, na sua audição, que a guerra de poder dentro do banco teve a "bênção" dos "três que constituem o triunvirato", referindo-se a José Sócrates, Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio.

De acordo com o gestor, foram estes mesmos três elementos que permitiram que a CGD financiasse esta guerra dentro do BCP, nomeadamente com o crédito concedido a Joe Berardo para financiar a compra de ações do BCP. É "impossível" que o Governo não tenha tido conhecimento desta operação. Isto numa altura em que o Executivo "tinha uma grande influência tanto na CGD, como no Banco Espírito Santo", disse Filipe Pinhal.


"O que é absolutamente espantoso é que uma tal patranha – a conspiração entre Governo e Banco de Portugal para tomar de assalto a administração de um banco - tão vazia de evidências e tão óbvia na sua motivação, tenha encontrado sustento nos meios jornalísticos e políticos", responde Sócrates, garantindo não ter tido conhecimento de que a Caixa tinha concedido crédito a acionistas do banco privado.

"Nunca foi do meu conhecimento que a Caixa tinha decidido conceder crédito a acionistas do BCP nem tal assunto foi alguma vez discutido dentro do governo ou entre mim e o Ministro das Finanças", defende o antigo governante. 

"Para mim e para o ministro das Finanças a crise no BCP era da exclusiva competência dos acionistas do banco e não da competência do governo. E, não o sendo, o governo não intervinha dando qualquer tipo de orientação fosse a quem fosse e muito menos à Caixa Geral de Depósitos, nem permitiria que alguém o procurasse envolver", acrescenta.

Sobre a ida de Armando Vara, em conjunto com Carlos Santos Ferreira, para o BCP, o antigo primeiro-ministro diz apenas que foi "informado pelo Ministro das Finanças, salvo erro no final de 2007, que o presidente da Caixa Geral de Depósitos e o administrador, Dr. Armando Vara, lhe haviam comunicado terem aceitado o convite que lhes foi dirigido por um conjunto de acionistas para integrar uma lista de candidatos à gestão do BCP". E remata: "Não falei com nenhum deles sobre essa decisão".

Nega ligação a Berardo e defende Constâncio
Joe Berardo fez parte do chamado "grupo dos sete" acionistas do BCP que alimentaram a guerra dentro do banco privado. Para tal, reforçaram as suas posições na instituição financeira através de crédito concedido pelo banco estatal, algo que que Sócrates diz desconhecer. O antigo-primeiro-ministro nega também qualquer relação com o empresário madeirense e sai em defesa do regulador. 

"Nunca tive conhecimento, fosse por quem fosse, do empréstimo que este [comendador] negociou com a CGD para reforçar a sua posição acionista no BCP, assim como não tinha conhecimento que a Caixa, ou o restante sector financeiro, realizassem empréstimos tomando como garantias ações de bancos", afirma nas respostas aos deputados. 

Garante também que o Banco de Portugal nada podia fazer relativamente a esta operação, isto porque o banco central não "poderia de nenhuma forma alterar ou anular esse empréstimo". Se o "fizesse estaria a desrespeitar os direitos dos outros e a abusar da sua autoridade. Ir 'além da lei' significa violá-la e isso tem um nome no código penal – prevaricação". 

Sobre qualquer relação com o comendador, explica que "a única reunião de trabalho – a única - que tive com ele [Berardo] decorreu no meu gabinete, a pedido da então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, para discutir a possibilidade de um acordo entre o Estado e a Fundação Berardo para que a sua coleção fosse exposta no Centro Cultural de Belém", acrescentando que essa "reunião aconteceu antes do acordo que foi assinado a 3 de Abril de 2006 e nunca mais tive qualquer outra reunião de trabalho nem acompanhei o desenrolar das negociações".

(Notícia atualizada às 12:39 com mais informação)

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