Notícia
Ricciardi diz que Salgado lhe pediu para ser solidário com a falsificação das contas
Salgado disse que "era preciso que eu tivesse, por fim, alguma solidariedade com a família. E eu disse em quê, em relação à falsificação das contas? E ele respondeu que sim", contou Ricciardi em tribunal.
18 de Outubro de 2024 às 12:19
O ex-presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI), José Maria Ricciardi, contou esta sexta-feira em tribunal que Ricardo Salgado lhe pediu para "ser solidário com a família" e com a "falsificação das contas" no Grupo Espírito Santo (GES).
Na continuação da inquirição iniciada na quinta-feira no Juízo Central Criminal de Lisboa, Ricciardi começou a responder às perguntas dos assistentes no julgamento do processo BES/GES, revelando um jantar que teve em casa do primo e antigo presidente do BES, em junho de 2014, no qual manifestou estranheza pela "simpatia exagerada" de Ricardo Salgado e da sua mulher, numa fase em já não tinham boas relações e praticamente não se falavam.
"Percebi logo que alguma coisa se ia passar. Depois de jantar pediu-me para ir ao escritório dele e aí perguntou-me o que é que eu queria. E eu respondi que queria que o BESI pudesse ter mais capital para se desenvolver", começou por explicar Ricciardi, em resposta ao advogado Miguel Pereira Coutinho, representante do assistente BES em liquidação.
"Disse que ia fazer tudo para que o BESI pudesse ter mais capital. Mas disse que para isso era preciso que eu tivesse, por fim, alguma solidariedade com a família. E eu disse em quê, em relação à falsificação das contas? E ele respondeu que sim. Eu disse-lhe que não. Agora quando me perguntou o que queria, podem especular o que é que queria dizer", acrescentou.
José Maria Ricciardi salientou, por exemplo, que quando disse para uma ata numa das reuniões do Conselho Superior (CS) do GES que achava que a estratégia de 'ring-fencing' (desenhada pelo Banco de Portugal para conter contágio dos danos no grupo) não estava a correr bem e que ainda não sabia o que a Eurofin fazia, os outros administradores o olharam "como se fosse um marciano".
Às questões de Miguel Matias, que representa os assistentes PDVSA, família Domingos Névoa e Omni Investments, o ex-presidente do BESI assegurou que os outros membros do CS "tinham medo do Dr. Ricardo Salgado e não o enfrentavam" como ele. "Eu não tinha medo, tanto que me tentei demitir duas vezes dos cargos", referiu.
Garantiu ainda que não mudou de posição no final de 2013 quando, na sequência do conflito público no seio do grupo, acabou por ficar, sendo dado um voto de confiança no antigo presidente do BES e principal arguido deste processo: "Eu não mudei de posição. O que o Dr. Ricardo Salgado me disse - e ficou num papel - era que se ia embora e que ia abrir um processo de sucessão".
Questionado sob a credibilidade enquanto testemunha, Ricciardi reiterou que não deseja "nada de mal" ao primo e que se limita a contar a verdade no julgamento.
"Estou a contar o que se passou. Não houve falta de aviso. Ainda não sabia 5% e já estava a dizer que a 'governance' não era aceitável, porque a maioria dos administradores não sabia. Havia um poder total do Dr. Salgado, não dava conta de muitas coisas que fazia", frisou, continuando depois a ideia nas questões de outro assistente: O Dr. Salgado não falava comigo. Parece que estou a ser julgado. Estes assuntos que se vieram a descobrir não eram discutidos publicamente. Infelizmente não havia grande partilha de informação".
Às questões da advogada Ana Peixoto, que representa milhares de lesados, o ex-presidente do BESI explicou que o desaparecimento da provisão prevista para pagar aos clientes que tinham investido no papel comercial das sociedades Rioforte e ESI se deveu ao ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e ao Fundo de Resolução.
"Fomos vendendo os ativos do grupo, preenchendo essa conta da 'escrow' e pagando aos clientes do papel comercial. Fez-se uma provisão para pagar integralmente aos lesados da ESI e Rioforte. Quando se deu a resolução, essa provisão passou para o Novo Banco. E o Dr. Stock da Cunha foi à AR e declarou que os lesados não tivessem qualquer preocupação porque havia dinheiro para lhes pagar integralmente", explicou.
"Depois, Carlos Costa e o Fundo de Resolução, apesar de terem contratado 200 pessoas da PwC para isso, fizeram-no tão bem que perceberam que faltavam 500 e tal milhões de euros e que isso ia pesar nos resultados. Então disseram, desculpem o português, que se lixem os lesados e vamos deslocar esse dinheiro para os créditos nas contas que fizemos mal", afirmou.
José Maria Ricciardi vai continuar a ser ouvido como testemunha durante a tarde, agora para responder às questões das defesas dos arguidos.
Na continuação da inquirição iniciada na quinta-feira no Juízo Central Criminal de Lisboa, Ricciardi começou a responder às perguntas dos assistentes no julgamento do processo BES/GES, revelando um jantar que teve em casa do primo e antigo presidente do BES, em junho de 2014, no qual manifestou estranheza pela "simpatia exagerada" de Ricardo Salgado e da sua mulher, numa fase em já não tinham boas relações e praticamente não se falavam.
"Disse que ia fazer tudo para que o BESI pudesse ter mais capital. Mas disse que para isso era preciso que eu tivesse, por fim, alguma solidariedade com a família. E eu disse em quê, em relação à falsificação das contas? E ele respondeu que sim. Eu disse-lhe que não. Agora quando me perguntou o que queria, podem especular o que é que queria dizer", acrescentou.
José Maria Ricciardi salientou, por exemplo, que quando disse para uma ata numa das reuniões do Conselho Superior (CS) do GES que achava que a estratégia de 'ring-fencing' (desenhada pelo Banco de Portugal para conter contágio dos danos no grupo) não estava a correr bem e que ainda não sabia o que a Eurofin fazia, os outros administradores o olharam "como se fosse um marciano".
Às questões de Miguel Matias, que representa os assistentes PDVSA, família Domingos Névoa e Omni Investments, o ex-presidente do BESI assegurou que os outros membros do CS "tinham medo do Dr. Ricardo Salgado e não o enfrentavam" como ele. "Eu não tinha medo, tanto que me tentei demitir duas vezes dos cargos", referiu.
Garantiu ainda que não mudou de posição no final de 2013 quando, na sequência do conflito público no seio do grupo, acabou por ficar, sendo dado um voto de confiança no antigo presidente do BES e principal arguido deste processo: "Eu não mudei de posição. O que o Dr. Ricardo Salgado me disse - e ficou num papel - era que se ia embora e que ia abrir um processo de sucessão".
Questionado sob a credibilidade enquanto testemunha, Ricciardi reiterou que não deseja "nada de mal" ao primo e que se limita a contar a verdade no julgamento.
"Estou a contar o que se passou. Não houve falta de aviso. Ainda não sabia 5% e já estava a dizer que a 'governance' não era aceitável, porque a maioria dos administradores não sabia. Havia um poder total do Dr. Salgado, não dava conta de muitas coisas que fazia", frisou, continuando depois a ideia nas questões de outro assistente: O Dr. Salgado não falava comigo. Parece que estou a ser julgado. Estes assuntos que se vieram a descobrir não eram discutidos publicamente. Infelizmente não havia grande partilha de informação".
Às questões da advogada Ana Peixoto, que representa milhares de lesados, o ex-presidente do BESI explicou que o desaparecimento da provisão prevista para pagar aos clientes que tinham investido no papel comercial das sociedades Rioforte e ESI se deveu ao ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e ao Fundo de Resolução.
"Fomos vendendo os ativos do grupo, preenchendo essa conta da 'escrow' e pagando aos clientes do papel comercial. Fez-se uma provisão para pagar integralmente aos lesados da ESI e Rioforte. Quando se deu a resolução, essa provisão passou para o Novo Banco. E o Dr. Stock da Cunha foi à AR e declarou que os lesados não tivessem qualquer preocupação porque havia dinheiro para lhes pagar integralmente", explicou.
"Depois, Carlos Costa e o Fundo de Resolução, apesar de terem contratado 200 pessoas da PwC para isso, fizeram-no tão bem que perceberam que faltavam 500 e tal milhões de euros e que isso ia pesar nos resultados. Então disseram, desculpem o português, que se lixem os lesados e vamos deslocar esse dinheiro para os créditos nas contas que fizemos mal", afirmou.
José Maria Ricciardi vai continuar a ser ouvido como testemunha durante a tarde, agora para responder às questões das defesas dos arguidos.