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Ex-governador temeu pela segurança quando afastou Isabel dos Santos da administração do BIC

"Houve movimentações de desagrado da senhora junto dos poderes políticos portugueses", revela Carlos Costa no livro "O Governador", do jornalista Luís Rosa.

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defende o lançamento de  “coronabonds”, com a garantia de todos os países europeus.
Mariline Alves
10 de Novembro de 2022 às 13:55
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O antigo governador do Banco de Portugal Carlos Costa conta em livro os episódios que marcaram o seu mandato como governador do Banco de Portugal e explica que o primeiro-ministro, António Costa, o tentou demover da decisão de afastar Isabel dos Santos da administração do banco BIC.

No livro "O Governador", de Luís Rosa e cuja pré-publicação foi feita pela Observador, Carlos Costa admite mesmo ter temido pela sua segurança no período mais tenso do diálogo com a filha do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

"Houve movimentações de desagrado da senhora [Isabel dos Santos] junto dos poderes políticos portugueses relativamente à atitude do governador, queixando-se de eu a ter impedido de fazer parte do conselho de administração [do BIC]", relata Carlos Costa nas cerca de 30 horas de conversa com o jornalista que enquadram o livro.

Segundo o antigo governador, "há um acionista de um banco angolano que diz à boca cheia que está à espera da saída do governador para concretizar o seu plano para o banco em questão", explica Carlos Costa recordando aquele período de 2016.

"Não foi certamente a fase mais fácil da minha vida e que me fez temer pela minha segurança", desabafa o antigo responsável pela supervisão bancária.

No livro do jornalista Luís Rosa, o ex-governador denuncia também a pressão do primeiro-ministro para que voltasse atrás na decisão. "Na conversa com o governador, ciente de que o poder era exclusivamente do Banco de Portugal, o primeiro-ministro António Costa resumiu a sua ideia numa frase: «Não se pode tratar mal a filha do Presidente de um país amigo de Portugal»", é relatado.

Foi em abril de 2016 que Carlos Costa informou Isabel dos Santos, a maior acionista do BIC, e Fernando Teles, sócio da filha mais velha do presidente de Angola, com uma participação de 20% no mesmo banco, de que tinham de se afastar do conselho de administração daquela instituição financeira.

A ideia do então governador era passar a imagem ao mercado de que o banco português "nada tinha a ver com o BIC Angola nem estava exposto aos problemas, nomeadamente reputacionais", descreve o livro, sendo intenção do Banco de Portugal que Isabel dos Santos e Fernando Teles fossem substituídos por administradores independentes. 

E foi na sequência dessa conversa, que o livro descreve como tendo sido tensa e com avisos do governador à acionista do banco, que a esfera próxima de Isabel dos Santos terá feito queixas ao primeiro-ministro, que acabou por fazer uma chamada telefónica para Carlos Costa.

O livro "O Governador" é editado pela Dom Quixote e será apresentado na próxima terça-feira, dia 15 de novembro, às 17h30, na Fundação Calouste Gulbenkian. O prefácio é de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.
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