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BES chumbava testes de stress por apenas 91 milhões de euros

Os testes à solidez da banca, que tinham como referência o final de 2013, revelavam uma insuficiência de capital de 91 milhões de euros no cenário adverso ao BES, o mesmo em que o BCP chumbou.

Bruno Simão/Negócios
27 de Dezembro de 2014 às 00:15
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Poucas horas antes de apresentar prejuízos históricos, o conselho de administração do Banco Espírito Santo discutiu resultados preliminares do exercício dos testes de stress que o Banco Central Europeu estava a realizar à banca europeia, que tinham como base as contas de 2013.

 

Em Julho, estando já sob forte pressão dos mercados, o BES tinha já nas mãos os seus cálculos para o exercício de testes de stress "realizado de acordo com as instruções da Autoridade Bancária Europeia/Banco Central Europeu, com o fito de analisar a solidez financeira dos principais bancos europeus".

 

O exercício era positivo para o banco no cenário base mas não no cenário adverso, segundo contou o director do departamento de contabilidade, Manuel Freitas, à administração do BES a 30 de Julho (nos testes de stress, há sempre um cenário base, que tem em conta as estimativas para a evolução da economia, e um cenário adverso, que agrava sempre as condições económicas de modo a testar a capacidade de resposta a momentos de crise, fazendo cálculos para os próximos anos).

 

"O Grupo BES cumpre os limites estabelecidos no cenário de base (rácio mínimo de 8%), bem como no adverso (mínimo de 5,5%), com excepção do ano de 2016, em que apresenta um pequeno défice de 91 milhões sem se considerarem quaisquer efeitos mitigantes". Ou seja, o banco chumbaria no exame adverso por apenas 91 milhões - os testes tinham como base as contas de 31 de Dezembro de 2013 e faziam previsões até 2016. Foi também no cenário adverso que o BCP chumbou. Os números avançados pelo director do BES poderiam não ser totalmente coincidentes com os do BCE dado que há abordagens diferentes nas contabilizações.

 

Segundo a acta da reunião de conselho de administração de 30 de Julho, que está na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, Manuel Freitas defendeu perante os administradores que as medidas avançadas em 2014 já permitiriam compensar o chumbo. Os resultados do exercício tinham como referência 31 de Dezembro de 2013, pelo que não contabilizavam actos de 2014 – como as operações de recompra de obrigações que causaram perdas ao BES.

 

"Tendo em conta o aumento de capital já realizado, a garantia soberana e um impacto do ‘asset quality review considerado de 600 milhões, o banco atingiria no referido ano de 2016 um rácio de 6,6%, correspondendo a um ‘buffer’ [folga] de capital de 659 milhões de euros", relatou o responsável.

 

O BES acabou por não realizar testes de stress. Nesta reunião, foram aprovadas as contas relativas ao primeiro semestre, com um histórico prejuízo de 3.577 milhões de euros. A 3 de Agosto, com os efeitos destas contas, o Banco de Portugal decidiu aplicar uma medida de resolução ao BES, dividindo-o em Novo Banco, com activos e passivos saudáveis, e em veículo financeiro com activos e passivos problemáticos. O Novo Banco não foi submetido à divulgação dos testes de stress como os congéneres: o BPI e a CGD foram aprovados, o BCP chumbou no cenário adverso.

 

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