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Portugal precisa de importar 70% daquilo que exporta no setor automóvel

Uma análise do Banco de Portugal ao setor automóvel concluiu que as exportações têm um conteúdo importado de 70%. Ou seja, apenas 30% é de facto produzido ou acrescentado em Portugal.

10 de Outubro de 2019 às 13:45
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Desde 2017 que a produção automóvel disparou em Portugal, o que se refletiu num aumento considerável das exportações. Contudo, mais de dois terços (70%) daquilo que é vendido ao exterior pelo setor automóvel português tem primeiro de ser importado. As conclusões constam de uma análise dos economistas do Banco de Portugal (BdP) publicada no Boletim Económico de outubro divulgado esta quinta-feira, 10 de outubro.

"Na análise do setor automóvel é importante ter em conta que o seu contributo para o crescimento da atividade económica não pode ser avaliado apenas pelo seu impacto na evolução das exportações, sendo necessário considerar também o contributo das importações associadas a essas exportações", explica o BdP, assinalando que este setor está "fortemente integrado nas cadeias de produção globais". 

A maior parte destas importações que são incorporadas nos automóveis exportados têm origem na Alemanha, seguindo-se Espanha, França, Reino Unido e, mais recentemente, a China. Por setores de atividades, as importações têm origem sobretudo no próprio setor automóvel de outros países, mas também no setor de manutenção e reparação de automóveis assim como na categoria de outros serviços de apoio às empresas.

Ao ter elevado conteúdo importado, o setor automóvel português contribuiu menos do que se poderia pensar para a balança comercial. Ainda assim, o setor tem uma importância significativa na economia portuguesa: equivale a 0,9% do VAB (valor acrescentado bruto) e a 1% do emprego. Nesta análise, o setor automóvel compreende a fabricação de veículos automóveis, reboques e semi-reboques e componentes para veículos automóveis, de acordo com o BdP.

O setor também compara bem na sua vertente exportadora, em parte por causa da relevância do investimento direto estrangeiro, e nos indicadores de produtividade, remunerações médias e rácio de investimento. Na comparação europeia, Portugal está a meio da tabela no peso do setor no VAB e nas vendas ao exterior face ao total das exportações de bens. 


Produção e exportação dispararam nos últimos três anos
Em 2017, 2018 e 2019 a produção e a exportação de automóveis tem disparado em Portugal. Tal acontece também porque "a quase totalidade da produção nacional destina-se a exportação", notam os economistas do banco central. "As exportações do setor cresceram acima da procura externa relevante nos dois últimos anos, o que implicou ganhos de quota nos mercados externos, uma tendência que se deverá ter mantido na primeira metade de 2019", acrescentam.

Por exemplo, em 2018, o setor viu a produção crescer 85% e as exportações de veículos ligeiros de passageiros aumentar 60%, tendo dado um contributo decisivo para o aumento das exportações de bens no conjunto do ano. Esta tendência de crescimento do setor automóvel em Portugal contrasta com a evolução "relativamente fraca" do setor automóvel europeu dado que se verificou uma queda da produção de veículos na União Europeia no ano passado.

"Esta evolução ao nível europeu está ligada a fenómenos conjunturais [como a norma regulatória sobre a emissão de gases poluentes, as políticas protecionistas, desaceleração económica e fraca procura externa] mas também a questões mais estruturais [elevada densidade automóvel, veículos mais ecológicos, avanços tecnológicos, fraco crescimento populacional], que criam incerteza quanto às perspetivas a médio prazo e a nível global para o setor", explica o Banco de Portugal.
No entanto, essas debilidades a nível europeu podem transformar-se numa oportunidade para Portugal, nomeadamente se houver um "hard Brexit" e uma disrupção nas trocas comerciais. "A reestruturação das cadeias de produção global resultantes de eventuais respostas aos desafios mencionados pode originar também oportunidades para a indústria em Portugal", aponta o BdP, referindo os fatores de competitividade da indústria nacional. Por isso, deixa um aviso: "É importante continuar a promover um enquadramento institucional favorável à sua atividade".
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