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Citi GPS: O futuro dos carros está a arrancar. E a Tesla não está bem posicionada

O próximo grande passo na mobilidade urbana está prestes a ser dado nos Estados Unidos, mas a Tesla poderá não ter condições para acompanhar. Só numa fase mais adiantada do mercado fará sentido voltar à corrida, defendem os analistas da Citi GPS.

05 de Janeiro de 2019 às 14:00
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O próximo salto na mobilidade, assente em carros autónomos partilhados, deverá ser uma realidade dentro de um a três anos, estima o Citi GPS, uma entidade financeira que se dedica a identificar tendências de mercado. As palavras-chave nos próximos 12 anos são "partilha" e "condução autónoma", mas a marca que tem estado ao volante do setor – a Tesla – tem aqui o seu calcanhar de Aquiles, dizem estes analistas, pelo que poderá ficar pelo caminho e ser ultrapassada pelas restantes fabricantes.

"A corrida é fundamentalmente sobre construir uma rede hoje", lê-se no relatório publicado pelo Citi GPS, intitulado "Carro do Futuro V4.0". Para esta entidade, a primeira fase do futuro da mobilidade – a rede de Robo Taxi - já começou em 2018, e prevê que este sistema chegue entre 2019 e 2021 às grandes cidades dos Estados Unidos, com potencial para criar um mercado de valor superior a 350 mil milhões de dólares. Os chamados Robo Taxi são uma frota de veículos autónomos, os quais vão "invadir" as cidades à boleia das redes de mobilidade partilhada já existentes e de marcas como a Waymo, GMCruise, Zoox, Ford e Aptiv, que podem tirar partido das relações com os clientes.

E a Tesla? "Do nosso ponto de vista, lançar carros elétricos não é suficiente", defendem os analistas: "se existe um ponto fraco na abordagem da Tesla, é o desenvolvimento da condução autónoma" – considerando o SuperCruise da General Motors superior e o sensor da Tesla "pouco robusto" para a complexidade da condução nas cidades. Por fim, não são conhecidos testes por parte desta empresa no que toca à condução autónoma em meio urbano e o negócio dos Robo Taxi não parece encaixar na visão e capacidade da fabricante de Elon Musk. Isto, tendo em conta as significativas necessidades de capital e o perfil de pouco volume deste novo mercado, defendem os analistas.

É neste contexto que surge a "grande oportunidade" para a concorrência: "se as restantes fabricantes automóveis querem ultrapassar a Tesla precisam de levar a experiência de mobilidade a um novo nível", em vez de se limitarem a lançar produtos que compitam com a empresa-bandeira, liderada por Musk. Outros dos grandes beneficiados da vaga de automação serão os fornecedores de serviços de assistência à condução, isto é, os criadores de sistemas de estacionamento automático, de ajuste das luzes, entre outros. Este mercado deverá valorizar até 100 mil milhões até 2030, que comparam com os atuais 5 a 6 mil milhões.

Fonte: Relatório "Carro do Futuro" da Citi GPS

E depois de 2021?

A partir de 2021, já haverá espaço para um outro negócio, para o qual a Tesla parece estar melhor preparada: a utilização de veículos autónomos para trajetos em auto-estrada, afastando-se dos grandes centros. E, de 2023 em diante, o "efeito rede" chega a estes veículos e aos meios suburbanos e rurais, com um modelo de propriedade diferente: os donos dos carros de condução autónoma poderão subalugá-los a outros condutores enquanto não os estão a utilizar. A última fase, a acontecer a partir de 2023, conta o esbater da fronteira entre o serviço de Robo Taxi e da rede de "empréstimo" de veículos autónomos, atingindo um ponto de integração que poderá até incluir carros voadores a operar determinadas rotas.

Os únicos veículos que, na visão da Citi GPS, poderão manter um modelo de propriedade tradicional e ficar "fora da rede" são os autocarros e os veículos comerciais, embora também estes devam adotar características de automação. 

Vendas podem cair, mas margens sobem

Mais partilha significa menos veículos em circulação, logo, menos vendas. Mas isto não são, necessariamente, más notícias para as fabricantes automóveis. "Os lucros potenciais (profit pool) irão aumentar significativamente em relação à indústria atual. Isto inclui o impacto do menor número de vendas até 2032", defendem os analistas.

A visão otimista é sustentada pela previsão de que as margens associadas à rede partilhada de automóveis vão ser superiores às colhidas pela indústria no cenário atual. As margens EBIT (resultados operacionais) podem oscilar entre os 18% e os 34% até 2030, de acordo com as previsões do estudo. A Citi GPS observa que os fabricantes, hoje em dia, "só recebem metade do custo que um carro gera ao longo da sua vida", sendo o restante distribuído pelas seguradoras, petrolíferas, e empresas de manutenção e reparação. Estes negócios, muitos com margens superiores a 30%, poderiam ser captados pelos novos líderes de mercado.

Fonte: Relatório "Carro do Futuro" da Citi GPS

Por outro lado, é possível que a produção não chegue a diminuir significativamente, podendo vir a ser compensada pelas economias emergentes, onde a penetração ainda é baixa. E, por fim, o risco de redução das vendas variará consideravelmente consoante a tipologia das cidades e as condições meteorológicas: as grandes cidades sofrerão a maior mutação, mas os meios rurais ou as cidades com condições de frio mais extremo são consideradas de risco baixo ou nulo na diminuição de vendas. 

Teremos, então, uma indústria automóvel melhorada em todas as frentes? A Citi GPS deixa um ponto negativo à consideração: "o efeito de rede irá provavelmente resultar em menos fabricantes a participar neste mercado (...) com poucos intervenientes mas de grandes dimensões que beneficiarão tanto do crescimento do mercado como da quota mais elevada", embora a rede de partilha de carros particulares tenha mais espaço para novos intervenientes do que as redes de "Robo Taxi" que vão invadir as cidades.

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