Notícia
Sócrates vai escrever um livro sobre Operação Marquês
Antigo primeiro-ministro e principal arguido da Operação Marquês, José Sócrates, deu uma entrevista e defende que o inquérito teve "motivações políticas". Acredita que o PS o deixou e até cita Janis Joplin.
21 de Setembro de 2018 às 10:38
José Sócrates vai lançar um novo livro sobre a "traição" sofrida durante a Operação Marquês, e frisa que as acusações de corrupção têm "motivação política" e serviram para impedir uma candidatura à presidência em 2015. O antigo primeiro-ministro até cita Janis Joplin e critica os políticos de direita, que se serviram da investigação para construir as suas "biografias políticas".
Em entrevista ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo, Sócrates defende que nunca teve "um juiz imparcial" e que no sistema não é "a pessoa que julga, a mesma que investigou". "A legitimidade básica do juiz é que ele está acima das partes. Aqui o Ministério Público resolveu escolher um árbitro. Eu nunca tive um juiz imparcial. Não há julgamentos justos sem um juiz imparcial. Lá como cá", diz.
"Durante todo este processo, eu tive sempre um inquérito que decorreu não com um juiz que fosse o juiz natural, mas com um juiz escolhido pelo Ministério Público": Carlos Alexandre. "No dia 9 de Setembro de 2014 o tribunal tinha dois juízes [Carlos Alexandre e Ivo Rosa], e a lei impõe que a operação de distribuição seja por sorteio, que é a operação mais democrática de todas. Mas não foi isso que aconteceu."
Na Operação Lava-Jato ocorreu o mesmo com Lula. "O Estado escolheu um juiz de Curitiba quando está claro que a questão do triplex nada teve a ver com a Petrobras. Portanto, não deveria ser ele", concretiza.
José Sócrates segue para a "motivação política" da Operação Marquês. "Tudo isso [a investigação] convinha à direita: tirar-me do espaço público, garantir que eu não me candidatasse à Presidência da República em 2015. Eu não fazia tenções disso, mas a direita achava que o PS me iria escolher para ser o candidato. Eles procuraram tirar-me do jogo", crê.
Mas além de motivações políticas, houve motivações pessoais. "Tem que somar a motivação política da direita à vaidade dos personagens. Eles acharam que havia chegado o momento para construírem as suas biografias políticas. O dr. Moro também achou que havia chegado o momento para a sua glória. Para um lugar na política, ele fê-lo usando o seu lugar na Justiça", afirma o antigo líder do PS, recordando que aquando da sua detenção, estava um governo de direita no poder.
Sócrates insiste que as acusações de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro contra si não se sustentam, e que o "lado positivo" da Operação Marquês é que "nos libertamos de tal forma que é como naquela canção da Janis Joplin, em que ela diz ‘freedom is just another word for nothing left to lose’", ou, como traduz, "a liberdade é uma outra forma de dizer que nós não temos nada a perder".
Inquirido sobre a sua saída do PS, justifica-a com a posição do partido ao longo da investigação – que contrasta com a que o Partido Trabalhista teve com Lula. "O PT manteve-se sempre ao lado do Lula. A primeira coisa que o PS fez foi procurar afastar-se. A verdade é que o PS, ao longo de dois anos, foi cúmplice de todos os abusos. Eu nunca pedi ao PS que me defendesse, mas nunca pensei que fosse o PS a atacar-me a um ponto que me levasse a ter de defender a minha dignidade tendo que me desligar do partido", lamenta.
A Operação Marquês vai ser o tema do seu novo livro, concentrado no tema da traição pessoal: "A traição tem uma dimensão pessoal. Não quero fazer este comentário. Um dia, fá-lo-ei. Mas, para já não vem a propósito. Vou escrever um livro sobre isto."
Finalmente, Sócrates comenta as eleições no Brasil, que se realizam a 7 de Outubro: "O Lula mostrou ao mundo que a esquerda latino-americana sabe governar", defende. Mas agora, "a direita vai votar no [Jair Bolsonaro] porque acredita nele. É isto em que realmente acreditam: na tortura, na violência, em tudo o que seja autoritarismo. Essas eleições serão um julgamento popular. Não sei quem ganha, mas esta é a oportunidade do povo se levantar para dizer que é soberano".
Em entrevista ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo, Sócrates defende que nunca teve "um juiz imparcial" e que no sistema não é "a pessoa que julga, a mesma que investigou". "A legitimidade básica do juiz é que ele está acima das partes. Aqui o Ministério Público resolveu escolher um árbitro. Eu nunca tive um juiz imparcial. Não há julgamentos justos sem um juiz imparcial. Lá como cá", diz.
Na Operação Lava-Jato ocorreu o mesmo com Lula. "O Estado escolheu um juiz de Curitiba quando está claro que a questão do triplex nada teve a ver com a Petrobras. Portanto, não deveria ser ele", concretiza.
José Sócrates segue para a "motivação política" da Operação Marquês. "Tudo isso [a investigação] convinha à direita: tirar-me do espaço público, garantir que eu não me candidatasse à Presidência da República em 2015. Eu não fazia tenções disso, mas a direita achava que o PS me iria escolher para ser o candidato. Eles procuraram tirar-me do jogo", crê.
Mas além de motivações políticas, houve motivações pessoais. "Tem que somar a motivação política da direita à vaidade dos personagens. Eles acharam que havia chegado o momento para construírem as suas biografias políticas. O dr. Moro também achou que havia chegado o momento para a sua glória. Para um lugar na política, ele fê-lo usando o seu lugar na Justiça", afirma o antigo líder do PS, recordando que aquando da sua detenção, estava um governo de direita no poder.
Sócrates insiste que as acusações de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro contra si não se sustentam, e que o "lado positivo" da Operação Marquês é que "nos libertamos de tal forma que é como naquela canção da Janis Joplin, em que ela diz ‘freedom is just another word for nothing left to lose’", ou, como traduz, "a liberdade é uma outra forma de dizer que nós não temos nada a perder".
Inquirido sobre a sua saída do PS, justifica-a com a posição do partido ao longo da investigação – que contrasta com a que o Partido Trabalhista teve com Lula. "O PT manteve-se sempre ao lado do Lula. A primeira coisa que o PS fez foi procurar afastar-se. A verdade é que o PS, ao longo de dois anos, foi cúmplice de todos os abusos. Eu nunca pedi ao PS que me defendesse, mas nunca pensei que fosse o PS a atacar-me a um ponto que me levasse a ter de defender a minha dignidade tendo que me desligar do partido", lamenta.
A Operação Marquês vai ser o tema do seu novo livro, concentrado no tema da traição pessoal: "A traição tem uma dimensão pessoal. Não quero fazer este comentário. Um dia, fá-lo-ei. Mas, para já não vem a propósito. Vou escrever um livro sobre isto."
Finalmente, Sócrates comenta as eleições no Brasil, que se realizam a 7 de Outubro: "O Lula mostrou ao mundo que a esquerda latino-americana sabe governar", defende. Mas agora, "a direita vai votar no [Jair Bolsonaro] porque acredita nele. É isto em que realmente acreditam: na tortura, na violência, em tudo o que seja autoritarismo. Essas eleições serão um julgamento popular. Não sei quem ganha, mas esta é a oportunidade do povo se levantar para dizer que é soberano".