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Maria Luís Albuquerque: "Há falta de exigência e temos práticas pobres de escrutínio"

A antiga ministra das Finanças apontou em Fátima, na Universidade de Verão do Instituto +Liberdade, os problemas que impedem o país de crescer.

Enquanto governante, Maria Luís Albuquerque passou de secretária de Estado do Tesouro a ministra das Finanças, substituindo Vítor Gaspar.
João Miguel Rodrigues
10 de Setembro de 2023 às 10:16
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A antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque considerou este sábado, em Fátima, que Portugal tem vários problemas que o impedem de crescer, entre eles os de falta de escrutínio e de exigência.

"O nosso problema é coletivo" com uma falta de 'governance' em todos os sentidos". "Há falta de exigência e temos práticas muito pobres de escrutínio, genericamente. Não temos tendência a ser exigentes. Nós, enquanto sociedade, não nos indignamos o suficiente para promover a mudança", afirmou Maria Luís Albuquerque, na sua intervenção na Universidade de Verão do Instituto +Liberdade, que decorre em Fátima, no concelho de Ourém, distrito de Santarém.

A docente universitária salientou que, ultimamente, têm existido "demasiadas grandes empresas, onde acontecem coisas que não podiam acontecer", afirmou, referindo-se à Altice.

"Verifica-se que temos efeitos de muito fraca 'governance'. Como é que as pessoas não tiveram consciência do dano que causa à reputação do país? Isto significa que as empresas vão ficar muito mais desconfiadas para fazer grandes investimentos em Portugal. Há uma tolerância excessiva da parte da sociedade relativa a determinados comportamentos", alertou.

E prosseguiu: "Não há condenação social suficiente que iniba esses comportamentos e que faça com que as pessoas pensem antes de os terem, se não vão ser ostracizados, até socialmente, por ter este tipo de comportamento totalmente lesivo para todos".

E insistiu na tónica de que é preciso "exigir, exigir a sério, ir votar e participar".

"A sociedade civil tem um papel absolutamente fundamental. E em Portugal, tristemente, também é historicamente fraca", criticou.

A ex-governante apontou ainda que a falta de capacidade de entendimento dos dois "partidos que continuam ainda a reunir a maior fatia do eleitorado, torna a solução" de todos os problemas do país "muito mais difíceis".

"Desde 2015, em particular, o consenso dentro do centro moderado, PS e PSD, acabou em definitivo. A política extremou. Quando temos um cenário político extremado, temos uma solução que terá fatalmente a seguinte consequência: alternância governativa. Mas cada vez que tivermos essa alternância, quem chegar vai desfazer o que o anterior fez", lamentou Maria Luís Albuquerque.

Constatando que Portugal tem um problema demográfico, a ex-ministra das Finanças do Governo de Pedro Passos Coelho salientou que uma sociedade envelhecida "tem influência no sistema político e económico", o que dificultará a adoção de "políticas que promovam mudanças na sociedade".

"Quando um eleitorado é envelhecido, as políticas destinam-se, sobretudo às preocupações e anseios desse eleitorado", avançou, salientando que acresce "a dificuldade dos mais velhos viverem com grandes dificuldades".

"Quem é pobre não tem alternativas nem margem para correr riscos. Qualquer perda pode ser fatal. As pessoas mais velhas não aceitam mudanças, o que é uma limitação brutal. Sabemos que essas mudanças vão deixar alguns pior do que estão agora, porque se assim não for, não é uma mudança que valha a pena", acrescentou.

Por outro lado, Maria Luís Albuquerque referiu que uma "população mais velha e mais pobre é mais dependente do Estado".

"Se conseguíssemos o milagre de convencer a nossa população a votar nas pessoas, que fizessem, desenhasse e pusessem em prática as políticas que fazem de facto a diferença, elas nunca estariam em vigor durante tempo suficiente. Quem chega, desfaz o que se fez", reforçou.

A antiga ministra defendeu ainda que para o país evoluir é preciso "desenhar e implementar as políticas necessárias para sermos mais competitivos e mais ricos".

Para a social-democrata, a imigração em Portugal "é tipicamente menos qualificada, que vem trabalhar para os setores e para as áreas que exigem menos qualificações e mais contribuiu também para uma pressão de salários em baixos".
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