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Fim da Geringonça levou Ferro Rodrigues a deixar vida política

O socialista diz que fim da Geringonça foi uma derrota pessoal e garante que novo livro não é um "regresso à vida política". Marcelo ironizou o crónico otimismo de Costa e lembra início da amizade com Ferro Rodrigues

Tiago Petinga / Lusa
23 de Outubro de 2023 às 21:44
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Foi rodeado de "camaradas de luta" (as palavras são de Marcelo, que se autointulou como um dos poucos opositores presentes na sala do Centro Cultural de Belém) que Eduardo Ferro Rodrigues apresentou o seu novo livro de memórias. O antigo Presidente da Assembleia da República garantiu que "Assim Vejo a Minha Vida" - o novo livro - não é "nenhuma ameaça do regresso à vida política ativa" e lembrou a "derrota" do fim da geringonça que o levou a deixar a vida política.

Antes de falar sobre o que era o livro, Ferro Rodrigues escolheu falar sobre o que o livro não era. Para lá de não ser um livro "apenas de memórias políticas", é um livro que, ao contrário do que "muitas vezes se faz", não "tenta apagar erros". "Houve muitos erros que foram cometidos por mim e por muitos outros. (…) Não é nenhum ajuste de contas, não é nenhum testamento político, nenhuma ameaça de regresso à vida política ativa".

Mas não evitou falar dos tempos no universo político. Nomeadamente, um episódio recente respeitante aos seus últimos dias como segunda figura do Estado, quando percebeu que era inevitável o chumbo do Orçamento do Estado pela "geringonça". "Disse ao Presidente da República e ao primeiro-ministro que não contassem comigo. Era uma grande derrota que também senti como minha", revelou.

Sobre esses tempos lembrou também que não escolhera esta segunda-feira aleatoriamente como dia para apresentação do livro, pois faz oito anos que Ferro Rodrigues foi eleito Presidente da Assembleia da República em 2015.

Marcelo e a "sina" de estar rodeado dos camaradas dos outros

Estava acompanhado de António Luís Neto, Isabel Alçada, Eduardo Graça, José António Vieira da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa no Centro Cultural de Belém (CCB) e foi a este último que coube encerrar as comemorações. Marcelo, descontraído, lembrou a sua solidão no meio de tantos camaradas de lutas diferentes das suas lutas presentes naquela sala e uma paelha com Ferro Rodrigues que o antigo Presidente do Parlamento temia ser a sua "última paelha" no dia em contou ao Chefe de Estado que estava doente.

"Eu cheguei aqui, olhava, centenas e centenas, e ia acontecendo aquilo que eu imaginava: centenas e centenas de camaradas de luta, da nossa altura. Dois ou três camaradas de luta, dos meus tempos, de outras lutas. Mas isso é a minha sina há cerca de oito anos. Sempre rodeado dos camaradas de luta dos outros", lamentou entre risos.

Marcelo diz ter prometido não falar de política, mas não evitou uma alfinetada amigável ao atual primeiro-ministro, um desses camaradas de outras lutas. Encoberto numa observação sobre o pessimismo de Ferro Rodrigues, nos tempos de trabalho conjunto, notou o excessivo otimismo de António Costa.

"[Ferro Rodrigues] é uma pessoa que na dúvida é pessimista, por exceção, tem um laivo, mas muito rápido de otimismo. Não sei porquê faz-me lembrar o oposto de outro nosso amigo e conhecido", observou.

A amizade de Marcelo e Ferro Rodrigues surgiu em 2018 quando o então Presidente da Assembleia da República ligou a Marcelo para lhe contar que estava doente. O Presidente da República relembra o jantar que ficou combinado nesse dia ao qual se juntou o primeiro-ministro, e que Ferro Rodrigues escolheu uma paelha para comer (já para lá da meia-noite), não fosse aquela ser "a última paelha".

"É a última paelha, vamos então à última paelha. Tem direito à última paelha, e comemos a última paelha até às 3 da manhã, nunca se comeu tão tarde", relembrou entre risos antes de lembrar que, afinal, um ano depois voltavam a estar juntos para celebrar essa refeição.

Para encerrar a cerimónia, Marcelo observou com ironia a postura "muito crítica" e "muito solta" de Ferro Rodrigues agora que está afastado da vida política. "Está a voltar ao líder juvenil de económicas", sublinhou o Presidente da República lembrando a participação passada de Ferro Rodrigues em movimentos de luta estudantil.

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