Notícia
Derrota eleitoral na Argentina abre crise de governabilidade com risco económico
Nas eleições legislativas de domingo, o Governo perdeu por uma margem nacional de 8,3%, quando há dois anos teve sete pontos de vantagem sobre a coligação opositora Juntos pela Mudança, liderada pelo ex-Presidente Mauricio Macri.
15 de Novembro de 2021 às 23:08
A derrota nas eleições legislativas intercalares argentinas de domingo indiciam que o Presidente Alberto Fernández perdeu os votos que o levaram ao Governo há dois anos, retirando ao Peronismo controlo sobre o Congresso e abrindo incertezas sobre a governabilidade.
"Foi uma bofetada eleitoral. Uma grande maioria colocou um limite no Presidente, deixando a coligação de Governo ameaçada de dissolução. Aquela parcela da população que deu a vitória a esta coligação Peronista em 2019 agora procura outra liderança, esvaziando o poder do Presidente", explica à Lusa o analista político, Jorge Giacobbe, especialista em opinião pública.
Nas eleições legislativas de domingo, o Governo perdeu por uma margem nacional de 8,3%, quando há dois anos teve sete pontos de vantagem sobre a coligação opositora Juntos pela Mudança, liderada pelo ex-Presidente Mauricio Macri.
"Nos principais colégios eleitorais do país, o Governo perdeu 15 pontos entre as eleições de 2019 e agora", indica Giacobbe.
A cada dois anos, os argentinos renovam metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado, fazendo dessas eleições legislativas uma espécie de plebiscito sobre a gestão de Governo.
Pela primeira vez, o Peronismo foi derrotado em distritos onde nunca tinha perdido. Na província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral do país, com 38% dos eleitores, a principal oposição ganhou com uma diferença de 1,28% sobre a coligação do Governo.
A escassez de votos do Governo evidencia a disputa interna de poder entre o Presidente, Alberto Fernández, e a sua vice, a ex-Presidente Cristina Kirchner (2007-2015), líder do "kirchnerismo", ala mais radical do Peronismo, aliado do chavismo na Venezuela ou do orteguismo na Nicarágua.
Ao longo dos últimos dois anos, o Presidente Alberto Fernández enfraqueceu à medida que cedeu poder à sua vice que, desde a derrota nas primárias de setembro, interveio no Governo, assumindo o controlo.
Segundo a consultora Giacobbe & Asociados, Alberto Fernández passou de 68% de imagem positiva, em abril de 2020, para 15,8% em outubro.
"É uma queda vertiginosa que mostra como o Presidente dilapidou o seu poder. Toda sua escassa base é ainda inferior aos 21% de Cristina Kirchner, demonstrando que nem mesmo simpatizantes e militantes da coligação apoiam Alberto Fernández", avalia Giacobbe.
"O que se abre agora é uma disputa interna de poder com reflexos na governabilidade. O principal desafio que o país enfrenta está na economia e a discussão económica estará impregnada dessa disputa interna", sublinha o especialista.
A Argentina acumula uma inflação anualizada de 52,1%, uma das maiores do mundo. A moeda argentina perdeu 200% do seu valor nos últimos dois anos. O país convive com fuga de empresas, crescentes controlos cambiais, restrições ao movimento de capitais, congelamento de preços, intervencionismo em diversos setores e um adiado acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional como ponto de partida para um mínimo de ordem económica.
"Agora vamos ver uma disputa de poder no seio da coligação de Governo. No meio dessa batalha, um país sem rumo com uma situação económica muito delicada. Se o resultado dessa tensão for um Governo que redobra a aposta e insiste nas restrições cambiais, nos controlos financeiros e no congelamento de preços, a economia entrará num colapso", alerta o economista Roberto Cachanosky, uma referência no país.
O Governo negoceia com o FMI há dois anos, mas sem apresentar um plano e sem aceitar reduzir o défice orçamental, sobretudo num ano eleitoral. O limite para as negociações é março, mês no qual o país fica sem dinheiro para pagar salários.
"O risco da falta de governabilidade terá reflexos na economia. Sem credibilidade, como fará o Governo para aguentar esta política por mais dois anos? Ou o ajuste virá de forma administrada pelo Governo ou virá à força pelo mercado", aponta Cachanosky.
"Foi uma bofetada eleitoral. Uma grande maioria colocou um limite no Presidente, deixando a coligação de Governo ameaçada de dissolução. Aquela parcela da população que deu a vitória a esta coligação Peronista em 2019 agora procura outra liderança, esvaziando o poder do Presidente", explica à Lusa o analista político, Jorge Giacobbe, especialista em opinião pública.
"Nos principais colégios eleitorais do país, o Governo perdeu 15 pontos entre as eleições de 2019 e agora", indica Giacobbe.
A cada dois anos, os argentinos renovam metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado, fazendo dessas eleições legislativas uma espécie de plebiscito sobre a gestão de Governo.
Pela primeira vez, o Peronismo foi derrotado em distritos onde nunca tinha perdido. Na província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral do país, com 38% dos eleitores, a principal oposição ganhou com uma diferença de 1,28% sobre a coligação do Governo.
A escassez de votos do Governo evidencia a disputa interna de poder entre o Presidente, Alberto Fernández, e a sua vice, a ex-Presidente Cristina Kirchner (2007-2015), líder do "kirchnerismo", ala mais radical do Peronismo, aliado do chavismo na Venezuela ou do orteguismo na Nicarágua.
Ao longo dos últimos dois anos, o Presidente Alberto Fernández enfraqueceu à medida que cedeu poder à sua vice que, desde a derrota nas primárias de setembro, interveio no Governo, assumindo o controlo.
Segundo a consultora Giacobbe & Asociados, Alberto Fernández passou de 68% de imagem positiva, em abril de 2020, para 15,8% em outubro.
"É uma queda vertiginosa que mostra como o Presidente dilapidou o seu poder. Toda sua escassa base é ainda inferior aos 21% de Cristina Kirchner, demonstrando que nem mesmo simpatizantes e militantes da coligação apoiam Alberto Fernández", avalia Giacobbe.
"O que se abre agora é uma disputa interna de poder com reflexos na governabilidade. O principal desafio que o país enfrenta está na economia e a discussão económica estará impregnada dessa disputa interna", sublinha o especialista.
A Argentina acumula uma inflação anualizada de 52,1%, uma das maiores do mundo. A moeda argentina perdeu 200% do seu valor nos últimos dois anos. O país convive com fuga de empresas, crescentes controlos cambiais, restrições ao movimento de capitais, congelamento de preços, intervencionismo em diversos setores e um adiado acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional como ponto de partida para um mínimo de ordem económica.
"Agora vamos ver uma disputa de poder no seio da coligação de Governo. No meio dessa batalha, um país sem rumo com uma situação económica muito delicada. Se o resultado dessa tensão for um Governo que redobra a aposta e insiste nas restrições cambiais, nos controlos financeiros e no congelamento de preços, a economia entrará num colapso", alerta o economista Roberto Cachanosky, uma referência no país.
O Governo negoceia com o FMI há dois anos, mas sem apresentar um plano e sem aceitar reduzir o défice orçamental, sobretudo num ano eleitoral. O limite para as negociações é março, mês no qual o país fica sem dinheiro para pagar salários.
"O risco da falta de governabilidade terá reflexos na economia. Sem credibilidade, como fará o Governo para aguentar esta política por mais dois anos? Ou o ajuste virá de forma administrada pelo Governo ou virá à força pelo mercado", aponta Cachanosky.