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Cavaco voltou. E cheio de recados

O ex-Presidente da República falou esta quarta-feira na Universidade de Verão do PSD para deixar críticas indirectas ao Governo. Cavaco Silva defendeu também a independência do Conselho de Finanças Públicas.

João Pedro/PSD
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O ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, defendeu esta quarta-feira na Universidade de Verão do PSD que a realidade impõe-se à ideologia, dando como exemplos concretos os casos de França e Grécia. Não se referiu a Portugal, mas estava nas entrelinhas.

Perante uma plateia de jovens sociais-democratas, o antigo chefe de Estado alertou para a existência de "fake news", defendeu a independência do Conselho de Finanças Públicas face ao poder político. A realidade impõe-se de tal forma aos que no Governo querem fazer a revolução socialista que "eles acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam," argumentou. 

A intervenção de Cavaco Silva era sobre "os jovens e a política: quando a realidade tira o tapete à ideologia" e assinala o regresso do ex-Presidente da República que, como explicou "abriu uma excepção" no silêncio a que se remeteu para participar neste evento do PSD.   

Falando sobre notícias falsas, absurdas e efémeras, Cavaco Silva admitiu que por vezes é "difícil" detectar notícias que não são verdadeiras. Dando como exemplos os casos de França e Grécia, quando François Hollande e Alexis Tsipras venceram as eleições, houve notícias dando conta que as regras de funcionamento da política orçamental "vão ser suavizadas" e a "consolidação orçamental deixa de ser relevante". Cavaco argumenta que pertencendo a Grécia e a França à zona euro "tais conclusões só podiam resultar de ignorância ou uma tentativa de iludir".

Tendo em conta que existem políticas comuns para os 19 países isso seria uma "impossibilidade", defendeu, acrescentando que "um país que deixe derrapar as suas contas públicas mais cedo ou mais tarde vai ter de pô-las em ordem".

"O governo de Hollande, depois de alguns devaneios ideológicos, não teve outro remédio senão curvar-se perante a realidade", afirmou Cavaco Silva e "o primeiro-ministro da Grécia, depois de uma certa bazófia inicial, correu o ministro das Finanças, pôs a ideologia na gaveta e aceitou negociar um terceiro resgate que impunha uma austeridade mais dura do que a que estava no programa de ajustamento".

O antigo líder do PSD sustentou que "nos países da Zona Euro, no que se refere à política económica, a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia". "A França e a Grécia são apresentados como países em que a realidade tirou o tapete à ideologia", disse o ex-Presidente.

Num discurso cheio de recados, Cavaco Silva descreveu como alguns governos agem quando tomam posse. "Os governos da Zona Euro ao chegarem ao poder podem começar a sua vida com alguns devaneios revolucionários mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força que através do aumento de impostos indirectos que anestesiam os cidadãos, através de cortes das despesas públicas de investimento, de medidas pontuais extra, de cativações de despesas correntes e da deterioração dos serviços e da criatividade e engenharia", disse.

Defendendo que os Governos acabam por se "conformar" com as regras europeias, acrescentou que "hoje é corrente apresentarem-se três casos de países da Zona Euro e não só a França e Grécia como exemplos de a realidade ter tirado o tapete à ideologia", mas não disse o nome o terceiro caso. 

Ainda assim, apontou para esfera socialista, ao afirmar que quem no Governo quer fazer a revolução socialista a realidade "projecta-se de tal forma que eles acabam por perder o pio , ou fingem que piam". "Mas são pios que não têm qualquer credibilidade e reflectem apenas jogadas partidárias", avisou.

Além disso, Cavaco deixou também recados para o uso da palavra por parte dos políticos, nomeadamente, de Presidentes. A partir do caso de Emmanuel Macron, o recém eleito presidente francês, o antigo chefe de Estado defendeu, citado pela Lusa, que "a palavra presidencial deve ser escassa", uma estratégia que "contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante".

Cavaco Silva defendeu ainda que o Conselho de Finanças Públicas é a voz autorizada em Portugal para falar sobre finanças públicas e lamentou o impasse em torno da nomeação de novos membros para a administração daquele órgão que aconteceu na primeira metade deste ano. 

Revelou que foi por sugestão que nos estatutos do Conselho de Finanças Públicas ficou previsto que seria através de nomeação do Governo que seria feita a escolha dos membros, mas "nunca" imaginou que a proposta do Banco de Portugal e Tribunal de Contas pudesse não ser aceite pelo Governo de Portugal.

Cavaco Silva aproveitou ainda para desmentir uma notícia publicada em Julho de 2016 que dava conta que o ex-Presidente se tinha manifestado a favor ada aplicação de sanções a Portugal, durante uma reunião do Conselho de Estado. "Matéria sobre a qual eu não pronuniára uma única palavra no Conselho de Estado."   


(Notícia actualizada às 12:17)

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