Notícia
Augusto Santos Silva: UE e EUA têm "convergências estruturais" e "divergências circunstanciais"
O ministro dos Negócios Estrangeiros português desdramatizou hoje as relações entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos, defendendo que as duas partes têm "convergências estruturais e "divergências circunstanciais".
16 de Junho de 2020 às 21:27
"Há convergências, há divergências. Mas são convergências estruturais e divergências circunstanciais e são divergências entre aliados", afirmou Augusto Santos Silva à questão posta pela agência Lusa sobre as diferenças de política entre a UE e os Estados Unidos em relação à covid-19, Israel e às sanções económicas de Washington a vários membros do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Santos Silva, que falava aos jornalistas no final de uma audição na Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento português, recusou utilizar a palavra "extremismos" em relação à política externa norte-americana, "palavra que tem um sentido muito preciso e muito carregado" e que, defendeu, se deve "preservar para os extremismos propriamente ditos".
"Temos convergências com os Estados Unidos em áreas tão importantes como a liberdade de imprensa, a defesa da independência do sistema judicial, a importância do elo transatlântico, a ordem internacional fundada em regras, etc, e temos divergências", afirmou o chefe da diplomacia portuguesa, salientando o comunicado divulgado hoje pelos 27.
"[Hoje] saiu a declaração da UE, que é também a de Portugal, a apelar aos Estados Unidos para alterarem a sua decisão de ameaçar com sanções agentes dos Estados e funcionários do TPI que se 'atrevam´ a fazer investigações sobre o comportamento das tropas norte-americanas no Afeganistão", sublinhou.
No mesmo sentido, Santos Silva lembrou a reunião de segunda-feira entre Bruxelas e o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, em que "quase todos" os Estados membros apelaram a que os Estados Unidos usassem toda a sua influência junto de Israel para evitar a anexação do Vale do Jordão, prevista para julho.
"Do nosso ponto de vista, desencadeará uma reação que trará instabilidade e insegurança ao Médio Oriente, designadamente, perturbando a segurança do Estado de Israel, que também nos é muito querida", referiu.
Outra questão tem a ver com a falta de consenso entre os membros permanentes do Conselho de Segurança em relação à pandemia de covid-19, recusando a ideia de que parece um "ajuste de contas" entre eles face à política internacional atual.
"É uma travagem recíproca que faz com que, à data que nós falamos, o facto triste, mas real, é este: até agora, o Conselho de Segurança das Nações Unidas ainda não conseguiu tomar uma posição sobre a pandemia de covid-19", frisou.
Questionado pela Lusa sobre se o multilateralismo defendido pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e também por Portugal, está a ser arredado da política internacional, o chefe da diplomacia defendeu ser esta uma boa oportunidade para fazer precisamente o contrário, reforçando-o.
"[O multilateralismo] é cada vez mais importante e, já que falamos no Conselho de Segurança, talvez assim se explique melhor a proposta portuguesa, que é a da reforma do Conselho de Segurança poder significar, ao mesmo tempo, o alargamento dos seus membros permanentes, de modo a incluir o Brasil, como um grande país latino-americano, a Índia, um grande país do indo-pacífico, e um país de África, que será escolhido pela União Africana (UA), por um lado. Por outro lado, ao mesmo tempo, também a diminuição dos poderes de veto. As coisas são bem importantes. Um Conselho de Segurança mais inclusivo e menos dependentes das medidas unilaterais de uma grande potência", sustentou.
Instado sobre o que falha também na relação dos Estados Unidos com as organizações mundiais de Saúde (OMS) e do Comércio (OMC), Santos Silva lembrou que Portugal "também tem propostas" e que, em relação à segunda instituição, está já marcada "uma conversa" para o próximo ano, "porque vai ser um tema muito importante para a presidência portuguesa da UE", no primeiro semestre de 2021.
"Em relação à OMS, o que dizemos, Portugal e UE, é que, neste momento, o tempo é de agir e de unir e não de dividir nem de avaliar. Todos nós cometemos erros na maneira como reagimos à pandemia. Em primeiro lugar por ausência de informação, em segundo pela novidade da coisa e em terceiro por alguma descoordenação inicial", disse.
"Cometemos erros e a OMS cometeu erros - falta de informação, falta de rapidez na resposta, etc. E todos nós temos de fazer a avaliação. Mas não vamos fazer dessa avaliação um motivo de luta entre nós e um pretexto para tentar diminuir a capacidade de resposta da OMS, porque precisamos de mais capacidade de resposta", observou.
Para Santos Silva, a covid-19 "é apenas um dos muitos casos" -- alterações climáticas, perda de biodiversidade, os problemas nos oceanos, os plásticos e a poluição dos oceanos, a gripe asiática - "que ninguém resolve sozinho" e que só encontram saída na cooperação internacional.
"Esta não é a altura de enfraquecer o multilateralismo, mas sim de o reforçar. Claro que avaliar o que fazemos, corrigir o que fizemos mal e aprender com o que fizemos bem é uma boa ideia para reforçar o multilateralismo", concluiu.
Santos Silva, que falava aos jornalistas no final de uma audição na Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento português, recusou utilizar a palavra "extremismos" em relação à política externa norte-americana, "palavra que tem um sentido muito preciso e muito carregado" e que, defendeu, se deve "preservar para os extremismos propriamente ditos".
"[Hoje] saiu a declaração da UE, que é também a de Portugal, a apelar aos Estados Unidos para alterarem a sua decisão de ameaçar com sanções agentes dos Estados e funcionários do TPI que se 'atrevam´ a fazer investigações sobre o comportamento das tropas norte-americanas no Afeganistão", sublinhou.
No mesmo sentido, Santos Silva lembrou a reunião de segunda-feira entre Bruxelas e o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, em que "quase todos" os Estados membros apelaram a que os Estados Unidos usassem toda a sua influência junto de Israel para evitar a anexação do Vale do Jordão, prevista para julho.
"Do nosso ponto de vista, desencadeará uma reação que trará instabilidade e insegurança ao Médio Oriente, designadamente, perturbando a segurança do Estado de Israel, que também nos é muito querida", referiu.
Outra questão tem a ver com a falta de consenso entre os membros permanentes do Conselho de Segurança em relação à pandemia de covid-19, recusando a ideia de que parece um "ajuste de contas" entre eles face à política internacional atual.
"É uma travagem recíproca que faz com que, à data que nós falamos, o facto triste, mas real, é este: até agora, o Conselho de Segurança das Nações Unidas ainda não conseguiu tomar uma posição sobre a pandemia de covid-19", frisou.
Questionado pela Lusa sobre se o multilateralismo defendido pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e também por Portugal, está a ser arredado da política internacional, o chefe da diplomacia defendeu ser esta uma boa oportunidade para fazer precisamente o contrário, reforçando-o.
"[O multilateralismo] é cada vez mais importante e, já que falamos no Conselho de Segurança, talvez assim se explique melhor a proposta portuguesa, que é a da reforma do Conselho de Segurança poder significar, ao mesmo tempo, o alargamento dos seus membros permanentes, de modo a incluir o Brasil, como um grande país latino-americano, a Índia, um grande país do indo-pacífico, e um país de África, que será escolhido pela União Africana (UA), por um lado. Por outro lado, ao mesmo tempo, também a diminuição dos poderes de veto. As coisas são bem importantes. Um Conselho de Segurança mais inclusivo e menos dependentes das medidas unilaterais de uma grande potência", sustentou.
Instado sobre o que falha também na relação dos Estados Unidos com as organizações mundiais de Saúde (OMS) e do Comércio (OMC), Santos Silva lembrou que Portugal "também tem propostas" e que, em relação à segunda instituição, está já marcada "uma conversa" para o próximo ano, "porque vai ser um tema muito importante para a presidência portuguesa da UE", no primeiro semestre de 2021.
"Em relação à OMS, o que dizemos, Portugal e UE, é que, neste momento, o tempo é de agir e de unir e não de dividir nem de avaliar. Todos nós cometemos erros na maneira como reagimos à pandemia. Em primeiro lugar por ausência de informação, em segundo pela novidade da coisa e em terceiro por alguma descoordenação inicial", disse.
"Cometemos erros e a OMS cometeu erros - falta de informação, falta de rapidez na resposta, etc. E todos nós temos de fazer a avaliação. Mas não vamos fazer dessa avaliação um motivo de luta entre nós e um pretexto para tentar diminuir a capacidade de resposta da OMS, porque precisamos de mais capacidade de resposta", observou.
Para Santos Silva, a covid-19 "é apenas um dos muitos casos" -- alterações climáticas, perda de biodiversidade, os problemas nos oceanos, os plásticos e a poluição dos oceanos, a gripe asiática - "que ninguém resolve sozinho" e que só encontram saída na cooperação internacional.
"Esta não é a altura de enfraquecer o multilateralismo, mas sim de o reforçar. Claro que avaliar o que fazemos, corrigir o que fizemos mal e aprender com o que fizemos bem é uma boa ideia para reforçar o multilateralismo", concluiu.