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25 Abril: Otelo disponível para recuperar MFA e mudar regime

Otelo Saraiva de Carvalho considera que a recuperação do Movimento das Forças Armadas (MFA) pode ser positiva, para travar "outras guerras" que não a colonial, e mostra-se disponível a participar numa "mudança de regime que valha a pena".

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26 de Março de 2014 às 07:49
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Aos 77 anos, o capitão de Abril afirmou à agência Lusa que já foi desafiado a concorrer à Presidência da República, mas frisa que, "como o regime está" não alinha, e não quer entrar "naquilo que o Spínola definiu como porca: a política".

 

Só aceitaria o desafio se algo de espantoso acontecesse, com "uma mudança de regime que valha a pena".

 

O agora coronel na reforma gostava de "participar numa qualquer mudança efetiva do país" e até já propôs a reconstituição do MFA.

 

"Já não há a perspectiva de travar uma guerra [como a colonial] que levava 40% do orçamento do Estado, e que todos os anos fazia mortos e feridos, mas há outras guerras para desencadear", adiantou.

 

Otelo diz que, nos últimos 40 anos, e principalmente nos que se seguiram à revolução, foi aliciado por partidos políticos e até "usado".

 

"O PS procurou aliciar-me várias vezes. Recebi convites de altos dirigentes para ser cabeça de lista, por exemplo, às eleições parlamentares, mas nunca aceitei, nunca quis hipotecar-me a nenhum partido", recordou.

 

Para Otelo, "os partidos sempre constituíram grupos de poder que lutam pelo poder, não em

os partidos sempre constituíram grupos de poder que lutam pelo poder, não em benefício de todo o povo, salvo medidas esporádicas, mas em benefício do próprio partido
 
Otelo

benefício de todo o povo, salvo medidas esporádicas, mas em benefício do próprio partido".

 

"Recusei sempre. Almeida Santos convidou-me várias vezes e o próprio Mário Soares aliciou-me para fazer parte do PS. O PSD foi o que menos se aproximou de mim. Em Novembro de 1974 cheguei a ser convidado pelos elementos da Juventude Centrista para presidir a um congresso fundador da JC. Mas partidos não atraem a minha simpatia", declarou.

 

Otelo acredita que a sua popularidade foi usada, nomeadamente pelo Partido Comunista, que acusa de o enquadrar como elemento das Forças Populares 25 de Abril (FP 25), responsabilizadas por uma série de atentados nos anos 70 e 80, para o colocar na prisão e o afastar totalmente da vida política.

 

"Eu tinha anunciado que ia ser cabeça de lista da Força de Unidade Popular (FUP) nas legislativas que iam decorrer em Outubro de 1984 e o PCP não estava disponível a sofrer uma derrota como a sofrida nas presidenciais, em que o seu número dois (Octávio Pato) foi amplamente derrotado por mim, que tive 17 por cento, e ele sete por cento".

 

Otelo sublinha que já várias vezes fez esta acusação, mas que "nunca houve ninguém do PC que tivesse dito o contrário".

 

O militar não tem a menor dúvida que se agora entrasse numa campanha qualquer, tipo presidenciais, ou outro processo eleitoral, haveria sempre um Paulo Portas, um Manuel Monteiro que diriam: assassino, bandido, foi ele que mandou matar".

 

"Nunca mandei matar ninguém. Tenho horror a qualquer assassínio. Liquidar um ente humano é para mim extremamente doloroso, não concebo que alguém o consiga fazer. E no entanto tenho este rótulo que me é dado, sobretudo pela gente de direita", disse.

 

Por outro lado, acrescenta, "este povo -- este povo que eu amo -- todos os dias vem ter comigo e diz 'é preciso fazer outro 25 de Abril! Óscar [nome de código de Otelo], era preciso mais como o senhor. Volta!' Isso para mim é extremamente gratificante".

 

"Enquanto os políticos me classificam como assassino e bandido, o povo, que cada vez se reconhece menos nos partidos, tem comigo um laço de amizade muito grande".

 

Isto porque, para Otelo, o povo sentiu que, na época, participava no poder: "foi precisamente na altura em que eu estive a comandar -- eu, que nunca quis o poder e fui empurrado para o poder - que o povo sentiu o poder e que participava na reconstrução do poder".

 

Otelo Saraiva de Carvalho tinha 37 anos, era major quando se deu o 25 de Abril e foi membro do Conselho da Revolução e comandante-adjunto do COPCON (Comando Operacional do Continente).

 

Nas presidenciais de 1976, ganhas por Ramalho Eanes, foi o segundo mais votado, com 16% dos votos.  

 

Depois de um percurso político-militar atribulado, esteve preso na sequência do caso das FP-25 de Abril (1985), organização responsabilizada por vários actos terroristas, e libertado cinco anos mais tarde, após recurso da sentença de 15 anos.

 

Em 1996, foi amnistiado e em 2001 absolvido.

 

 

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