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Turquia sobe juros pela primeira vez desde 2014
A medida é vista como uma tentativa de travar as sucessivas quedas do valor da lira e transmitir confiança ao mercado sobre a capacidade de actuação da autoridade monetária. A moeda recuperou depois do aumento dos juros, mas voltou às quedas depois de uma resolução do Parlamento Europeu.
O banco central turco decidiu esta quinta-feira, 24 de Novembro, aumentar os juros de referência do país pela primeira vez em quase três anos, numa altura em que a lira turca renova mínimos sucessivos.
A taxa repo (associada a acordos de recompra) no prazo de uma semana aumentou em 50 pontos base para os 8%, enquanto o juro associado aos depósitos overnight junto do banco central subiu 25 pontos-base, para os 8,5%. Já a taxa de cedência de liquidez manteve-se nos 7,25%, depois de ter sido reduzida consecutivamente ao longo dos sete últimos meses, desde o golpe de Estado falhado de Março.
As subidas constituíram uma surpresa para a maioria dos analistas – dezassete dos 24 sondados pela Bloomberg previam a manutenção das taxas, enquanto os outros sete esperavam uma subida de pelo menos 25 pontos-base.
A alteração de política monetária surge numa altura em que a moeda turca renova mínimos históricos há várias sessões, tendo esta quinta-feira tocado um novo recorde de 0,2905 dólares (ou 3,44 liras por dólar).
"Os movimentos cambiais recentemente influenciados pela incerteza e volatilidade, colocam riscos para as previsões da inflação," referiu a autoridade monetária em comunicado citado por aquela agência noticiosa.
Depois da decisão, a lira chegou a recuperar valor, para próximo dos 0,297 dólares, mas retomou a tendência de queda, para os 0,292 dólares, depois de o Parlamento Europeu ter votado uma recomendação para suspender às negociações de adesão da Turquia à União Europeia.
"A decisão mostra que o banco central está a levar a sério as previsões da inflação e que tem capacidade para agir," afirmou Sakir Turan, economista no Odeabank. O especialista acredita que o movimento do banco central pode ajudar a credibilizá-lo, numa altura em que a confiança dos consumidores está afectada e o ambiente económico é de abrandamento no pós-golpe falhado.
As mexidas para cima desafiam o entendimento de quem conduz politicamente o país, nomeadamente o do presidente Recep Tayyip Erdogan, que ainda esta quarta-feira defendia que as taxas de juro ainda não tinham sido reduzidas o suficiente.
"Reduzam por favor as taxas de juro para níveis razoáveis," pediu ontem Erdogan, que considera que o país tem "das maiores [taxas de juro] no mundo".
O Financial Times acrescenta que, além da decisão de aumentar juros, o banco central reduziu os requisitos associados às suas reservas de moeda para libertar cerca de 1,42 mil milhões de euros em liquidez.