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Golo de Maradona no Mundial de 1986 ainda inspira debates do Banco de Inglaterra

O Banco de Inglaterra fala tanto sobre taxas de juro negativas que poderia nem precisar de usá-las.

31 de Outubro de 2020 às 14:00
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As interrogações públicas da instituição, desde que o presidente Andrew Bailey suavizou a sua posição em relação aos juros negativos pela primeira vez em maio, estão a convencer alguns investidores de que as autoridades não estão a fazer bluff em relação à sua adoção. Mais uma vez, criar essa expectativa sem decretar a medida pode ser exatamente o que desejam.

"Estão a sinalizar isso ao mercado de forma muito proeminente, mas isso não significa que o farão", disse Thomas Costerg, economista sénior da Pictet Wealth Management, em Genebra. "Ainda não estou totalmente convencido de que irão por esse caminho."

Guardar essas munições seria consistente com a tradicional cautela do BOE em relação a uma política que corrói a rentabilidade dos bancos na Zona Euro. A estratégia de ameaçar uma ação sem de facto a concretizar também parece saída diretamente do manual de Mervyn King, antigo chefe do atual presidente do banco central britânico.

Num discurso em 2005 - 15 anos antes do comentário inicial de Bailey em maio - o ex-presidente do BOE citou um golo espetacular de Diego Maradona para mostrar como um banco central pode atingir o seu objetivo orientando simplesmente as expectativas.

King usou como exemplo a corrida de 55 metros do argentino antes de marcar contra a Inglaterra nos quartos de final do Campeonato do Mundo de 1986, quando o jogador continuou a avançar, confundindo os adversários que esperavam que ele se desviasse ao longo do caminho.

"A política monetária funciona de maneira semelhante", declarou King. "As taxas de juro do mercado reagem à expectativa do que o banco central vai fazer."

Gertjan Vlieghe - membro do atual painel de definição dos juros - era um profissional júnior do BOE na altura e um dos quatro que o então presidente citou como "efetivamente coautores" do discurso.

Se as autoridades de política monetária desejassem que os investidores apostassem em taxas de juro negativas, sem realmente as reduzir a tal ponto, para segurar a libra num momento de fraqueza do dólar, as táticas de Maradona poderiam explicar a saga de cinco meses de comentários do BOE sobre o assunto. A observação mais recente foi feita na quinta-feira pelo economista-chefe do BOE, Andy Haldane.

"Nós no banco trabalhamos para garantir que a ferramenta esteja na caixa", disse em conferência. "Isso não é o mesmo que dizer que estamos prestes a usar essa ferramenta."

Uma vulnerabilidade da abordagem, se mal conduzida, pode ser a credibilidade futura.

"O efeito Maradona foi usado com bastante sucesso no passado, mas é preciso cuidado com isso, porque é ‘o menino que grita lobo’", disse Steven Major, responsável global de obrigações do HSBC, em entrevista à Bloomberg Television. "Se fizer isso muitas vezes, ninguém o vai ouvir."

Major não acha que essa seja a estratégia do BOE, e vê uma séria possibilidade de o banco central acabar por seguir a sua retórica e cortar os juros abaixo de zero.

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