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Fed de Nova Iorque tem caçadora de cisnes negros

Margaret McConnell diz muitas vezes aos funcionários da Reserva Federal que deveriam estar muito mais confusos do que deixam transparecer. Esse é o seu trabalho.

Daniel Acker/Bloomberg
04 de Agosto de 2019 às 15:00
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McConnell é responsável pela unidade de Pensamento Crítico Aplicado (ACT, na sigla em inglês), um enclave pouco conhecido da Fed de Nova Iorque com um grande mandato: encontrar falhas nas premissas mais básicas dos bancos centrais -que podem levar a grandes equívocos de política monetária.

O ACT existe para lembrar o resto da instituição, cujas amplas equipas de pesquisa estão sob constante pressão para fornecer respostas, que a dúvida é legítima perante questões complexas, embora muitas vezes sejamos traídos pelas coisas sobre as quais temos certeza. Os maiores riscos nem sempre estão nos mercados. Por outras palavras, às vezes estão dentro do próprio edifício.

Margaret McConnell (primeira fila, 3ª a contar da esquerda) com a sua equipa no edifício da Fed de Nova Iorque
Margaret McConnell (primeira fila, 3ª a contar da esquerda) com a sua equipa no edifício da Fed de Nova Iorque Cole Wilson/Blomberg

"Estou interessada em mudar as lentes", disse McConnell - que raramente aparece em público ou discute detalhes do sensível trabalho do ACT - em entrevista no mês passado. "E se o que estivermos a assumir como verdade não for verdade? Procurar mais por enigmas do que pela história que achamos que sabemos é algo muito difícil".

É uma abordagem deliberadamente perturbadora, que combina com o humor dos mercados financeiros globais.

’Amargo Fracasso’

Máximos históricos em todos os tipos de ativos coexistem com uma sensação desconfortável de que algo grande pode estar errado. Os investidores olham para o horizonte em busca da próxima bomba-relógio - sejam empréstimos alavancados ou a crescente quantidade de dívida com yields negativas.

McConnell olha mais longe, para incluir o próprio processo político.

A crise financeira oferece muitos exemplos. A Fed avaliou mal o mercado imobiliário antes da explosão da bolha, e as suas estimativas sobre os recursos do mercado de trabalho na recuperação também estavam equivocadas. A conclusão de McConnell depois de 2008 foi que a economia praticada nos bancos centrais de hoje tem muitos pontos cegos.

Os seus chefes concordaram - e foi assim que o ACT nasceu. McConnell imaginou uma unidade que teria por base áreas como psicologia, teoria de sistemas complexos e design. O ex-presidente da Fed de Nova Iorque, Bill Dudley, gostou da ideia, e McConnell lançou o projeto em 2016. Agora existem cerca de 15 analistas a trabalhar na unidade.

Dudley chama à crise "um amargo fracasso da imaginação". Parte desse fracasso ocorreu dentro de uma profissão mais inclinada a celebrar os seus sucessos.

McConnell é o tipo de pessoa que fica preocupada quando todos pensam que o cenário é brilhante.

Ela tinha um "talento para a escuridão", disse Timothy Geithner, ex-secretário do Tesouro dos EUA e antecessor de Dudley como presidente da Fed de Nova Iorque, no seu livro de memórias sobre a crise "Stress Test". Essa foi uma das razões pelas quais decidiu escolher McConnell como uma das suas assessoras mais próximas.

"Ela fazia sempre a pergunta desagradável, a pergunta incomum", disse Geithner em entrevista. "Era uma pessoa curiosa e profundamente cética em relação à sabedoria convencional".

McConnell, que tem doutoramento pela Universidade do Ohio, entrou na equipa de pesquisa sobre economia interna da Fed em 1996.

McConnell quer aplicar contributos de outras áreas - "particularmente inteligência, design, ciência do clima e medicina" - ao banco central.

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