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Banca italiana absorve dinheiro alemão para aproveitar 'tiering' do BCE

Os bancos italianos estão a aproveitar o novo sistema de 'tiering': lucram com o excesso de liquidez dos bancos alemães ao mesmo tempo que estes poupam face à alternativa de estacionar o dinheiro no BCE.

03 de Dezembro de 2019 às 16:04
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O sistema de escalões nos juros (negativos) dos depósitos dos bancos junto do Banco Central Europeu (BCE) está a beneficiar a banca periférica da Zona Euro, em particular a italiana, que está a absorver as poupanças alemãs. 

É isso que mostram os dados desagregados a nível nacional do BCE que foram divulgados esta terça-feira, 3 de dezembro, sobre a situação financeira do eurosistema onde é divulgado o ativo e o passivo de cada país em termos financeiros. 

O que está aqui em causa? Com a introdução do 'tiering' a 31 de outubro, os bancos passaram a ter um maior volume de depósitos junto do BCE que fica isento da taxa de -0,5% introduzida pelo banco central em setembro. Em concreto, além das reservas mínimas, o montante até seis vezes as reservas mínimas - um rácio que poderá mudar no futuro - também fica isento de pagar essa taxa negativa.

Esta "prenda" dada pelo BCE aos bancos para aliviar a pressão dos juros negativos criou uma oportunidade para os países onde o nível de depósitos junto do banco central da Zona Euro está aquém do novo limite. É o que acontece em Itália, principalmente, mas também noutros países como Portugal e a Grécia. 

Por outro lado, em países como a Alemanha, os bancos continuam a ter depósitos que excedem o novo limite (maior do que o anterior) a partir do qual deixa de haver isenção. Assim, os bancos alemães estão a canalizar esses fundos excedentários para os bancos italianos de forma a aproveitar essa isenção (remuneração a 0%) que lhe "sobra", evitando pagar a taxa negativa ao BCE.

Este fluxo de dinheiro entre a Alemanha e a Itália tem vindo a ser noticiado pela Bloomberg e o Financial Times, por exemplo, desde que o 'tiering' foi introduzido há pouco mais de um mês, mas estes últimos dados confirmam a tendência. Na prática, o que acontece é um processo de arbitragem no mercado interbancário em que os bancos italianos cobram menos aos bancos alemães do que os -0,5% do BCE.

Tal como antecipavam em outubro os analistas do banco suíço Pictet (ver gráfico), os bancos italianos eram os que tinham maior espaço para "lucrar" com a introdução do sistema de escalonamento, seguidos dos bancos portugueses.
Ao FT, um porta-voz do Banco de Itália confirmou esta hipótese que os números sugerem em novembro: "Ainda que as mudanças nos depósitos dos bancos italianos no Banco de Itália [faz o papel do BCE] são frequentes e podem estar a ser influenciados por uma série de fatores, o 'timing' do aumento sugere que esteve principalmente relacionado com a introdução do novo sistema de dois escalões no eurosistema". 

Citado pela Bloomberg, também em novembro, o membro executivo do BCE, Benoit Coeure, explicou que "no primeiro dia da operação do sistema de 'tiering' observou-se uma redistribuição considerável do excesso de liquidez". "[Esse fluxo de liquidez] afastou-se de países como a Bélgica, Alemanha e a Holanda e aproximou-se de países com depósitos isentos por usar, como a Itália", concluiu. 

No entanto, este é um efeito temporário uma vez que, assim que for atingido o limite, passará a ser menos vantajoso efetuar este fluxo de dinheiro dentro da Zona Euro.
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