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Putin ressuscita super-frango russo

Para Putin, é um risco de segurança inaceitável que haja tanto poder sobre a carne em tão poucas mãos estrangeiras. E as preocupações não se limitam ao frango.

Correio da Manhã
13 de Novembro de 2018 às 20:00
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Vladimir Putin está a ressuscitar o frango que manteve os russos alimentados nos últimos dias do comunismo. O projecto visa proteger o país contra possíveis sanções dos EUA a alimentos e um desafio para as duas produtoras ocidentais que fornecem todas as variedades comerciais do país.

Após uma série de contratempos, entre os quais um misterioso surto de gripe aviária e o abate forçado de 200.000 aves de testes no ano passado, o novo frango soviético está finalmente pronto para testes de mercado, segundo Vladimir Fisinin, de 78 anos, presidente da União Aviária Russa e um dos responsáveis pelo desenvolvimento desta linha própria de animais.

O objectivo passa por compensar um possível défice gerado por restrições dos EUA às exportações de ovos e pintos, que acabaram por se transformar na principal fonte de proteínas da Rússia. Os EUA não ameaçaram incluir os alimentos nas sanções que começaram a impor em 2014, pelo menos publicamente. Mas Fisinin, que nasceu numa fazenda colectiva na Sibéria nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, disse que a Rússia precisa de se preparar para o pior ao lidar com uma Casa Branca cada vez mais imprevisível.

"Quem sabe qual será o tolo que virá a seguir, como este sr. Trump", disse Fisinin, numa entrevista, em Sergiev Posad, um centro monástico do século 14 localizado a 75 quilómetros a norte de Moscovo. Esta declaração foi dada no seu escritório, na instalação onde realiza pesquisas há meio século.

Fisinin fez parte da equipa de especialistas que ajudou a ciência gastronómica soviética a manter-se no nível do Ocidente com o desenvolvimento de uma versão maior e mais saborosa do Gallus gallus domesticus em 1972, o mesmo ano em que Leonid Brejnev recebeu Richard Nixon por oito dias em Moscovo. Baptizado em homenagem ao protegido complexo em Sergiev Posad onde foi desenvolvido, o Smena, ou Mudança, foi uma dádiva para o Politburo e desencadeou um aumento recorde na produção de carne que durou até 1990.

Mas a União Soviética implodiu, o financiamento desapareceu e entraram no mercado ocidentais com genética mais avançada, o que deixou a ave à beira da extinção. Uma série subsequente de fusões e aquisições internacionais deixou a Cobb-Vantress, uma unidade da Tyson Foods, e a Aviagen, da alemã EW Group, no comando do sector a partir das suas respectivas sedes no Arkansas e no Alabama, nos EUA.

Para Putin, é um risco de segurança inaceitável que haja tanto poder sobre a carne em tão poucas mãos estrangeiras, segundo dois altos funcionários envolvidos no planeamento para as sanções. E Putin e seus conselheiros não estão preocupados apenas com o frango.

Produtoras russas de carne bovina, carne de porco, batata e até beterraba, a principal fonte de açúcar do país, também dependem de derivados genéticos dos EUA e da Europa.

O governo já aprovou um programa de substituição para a batata e está a trabalhar noutro para a beterraba. O objectivo é replicar o que o Kremlin considera um sucesso em termos de contra-sanções da Rússia aos produtos agrícolas da UE, que obrigaram as fazendas locais a aprender a arte de produzir especialidades estrangeiras, como presunto e queijo parmesão, apesar dos esforços serem ridicularizados nas redes sociais.

"Há muitos pontos de pressão para qualquer um que queira destruir a nossa economia", disse Andrei Klepach, economista-chefe do banco estatal de desenvolvimento VEB e ex-chefe do departamento de projecções do Ministério da Economia. "A recuperação do trabalho de reprodução é uma prioridade. Precisamos de uma espécie de comboio blindado num ramal alternativo."

Texto original: Putin Resurrects the Soviet Super Chicken

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