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China decide abolir política de filho único
A direcção do Partido Comunista Chinês decidiu abolir a política de "um casal, um filho", permitindo a todos os casais ter um segunda criança. A China é a nação mais populosa do mundo, com 1.370 milhões de habitantes.
A China, nação mais populosa do mundo com 1.370 milhões de habitantes, decidiu abolir a política de "um casal, um filho", pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980. "Era inevitável", afirmou um funcionário de um órgão estatal chinês, citado pela agência Lusa, aludindo à crescente pressão no sistema de pensões do país, fruto do rápido envelhecimento da sociedade. "A questão agora é saber quem é que tem tempo e dinheiro para criar duas crianças?", acrescentou.
A decisão foi anunciada após uma reunião de quatro dias à porta fechada entre o Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), a cúpula do poder na China, e que serviu para delinear as prioridades do 13.º plano quinquenal (2016-2020). Pelas contas do Governo, sem aquela política, em vez de 1.370 milhões de habitantes, a China teria hoje quase 1.700 milhões.
Já em 2013, a direcção do PCC decidiu aliviar a política, permitindo aos casais em que ambos os cônjuges são filhos únicos ter um segundo filho. Porém, o número de casais que se inscreveram para ter um segundo filho (cerca de 700.000) ficou muito aquém dos dois milhões previstos pelas autoridades.
"Excendente" de 33 milhões de homens
Quando Deng Xiaoping impôs a política do filho único, a China era ainda um país pobre e isolado, longe de conhecer o trepidante crescimento económico que viria a transfigurar a sociedade chinesa. Hoje, nas grandes metrópoles chinesas, muitos jovens rompem com a tradição, optando por casar tarde e ter apenas um filho, independentemente da flexibilização ditada pelo Governo.
A população activa começou a diminuir e a taxa de fertilidade, que na década de 1970 era 4,77 filhos por mulher, desceu para 1,4, atingindo quase o nível de alerta de 1,3, considerado globalmente como "a armadilha da baixa fertilidade".
Segundo dados oficiais, em 2050, um terço da população chinesa terá 60 ou mais anos e haverá menos trabalhadores para sustentar cada reformado.
Entretanto, e fruto da tradição feudal que dá preferência a filhos do sexo masculino, a política de filho único gerou um excedente de 33 milhões de homens: no final de 2014, a diferença, à nascença, era de 115,8 rapazes por 100 raparigas.
Os números sugerem um outro efeito perverso da política: de acordo com dados oficiais chineses, desde 1971, os hospitais do país executaram 336 milhões de abortos e 196 milhões de esterilizações. A maioria dos abortos ocorre quando o feto é do sexo feminino.
Para Pequim, a política de filho único tratou-se de um mal necessário, permitindo o aumento do Produto Interno Bruto 'per capita', da esperança média de vida (agora em 75 anos) ou do nível de escolaridade da população.