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Canais públicos angolanos anunciam que vão deixar de cobrir atividades da UNITA

Justificaram a decisão com agressões aos seus jornalistas numa manifestação convocada por aquele partido.

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14 de Setembro de 2021 às 00:11
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Os canais públicos de televisão angolanos TPA e TV Zimbo anunciaram hoje que vão deixar de cobrir atividades da UNITA, principal partido da oposição, justificando a decisão com agressões aos seus jornalistas numa manifestação convocada por aquele partido.

O posicionamento foi transmitido hoje no horário nobre das duas estações televisivas estatais, com os respetivos pivôs a anunciarem a decisão das administrações dos dois órgãos de abandonarem a cobertura das atividades promovidas pela UNITA, não entrevistar os seus dirigentes, nem militantes ou outros responsáveis do partido e exigindo retração e desculpas públicas da direção da UNITA.

No sábado, durante uma marcha convocada pela União Nacional para Independência Total de de Angola (UNITA), que juntou em Luanda milhares de militantes, simpatizantes e apoiantes desta e de outras forças políticas, bem como membros da sociedade civil, em prol de eleições justas e livres, os jornalistas dos canais públicos foram alvo de intimidação e ameaças.

A atitude foi condenada pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, que a qualificou como sendo "uma obstrução ao exercício de liberdade de imprensa que é um direito fundamental que todas as entidades públicas e privadas devem respeitar".

Também o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, repudiou o ato de intolerância e disse que as ameaças não partiram da direção da UNITA, lamentando ao mesmo tempo a exclusão de que o partido alega ser alvo na cobertura mediática dos órgãos estatais.

A UNITA tem criticado várias vezes o facto do seu presidente, eleito no ultimo congresso do partido, realizado em novembro de 2019, nunca ter sido entrevistado na TPA

Adalberto da Costa Júnior foi entrevistado na TV Zimbo, pertencente ao grupo privado Medianova, em dezembro desse ano, mas em julho de 2020 o grupo (que inclui o jornal O País, a Radio Mais e a TV Zimbo) foi entregue ao Serviço Nacional de Recuperação de Ativos e é agora controlado pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS).

Em abril deste ano, o MINTTICS suspendeu três canais privados (Record TV Africa, Zap Viva e Vida TV), alegando desconformidades legais relacionadas com o licenciamento.

Até ao momento, MINTTICS não deu mais explicações sobre os procedimentos que estão a ser seguidos, nem avançou qualquer prazo para que os canais possam voltar a emitir.

O MINTTICS divulgou este sábado uma nota lamentando a agressão e intimidação a que foram sujeitas as equipas de reportagem, solidarizando-se com os jornalistas e apelando às entidades de defesa dos jornalistas a não se calarem "diante da flagrante e condenável situação de intolerância política", que o presidente do Sindicato considerou "despropositado".

Teixeira Cândido estranhou, por outro lado, que o MINTTICS "faça sair um comunicado só agora" e nunca se tenha pronunciado noutras ocasiões. "Temos tido várias situações em que os jornalistas foram agredidos, detidos ou impedidos de fazer o seu trabalho e o ministério não se pronunciou. Por isso, foi uma surpresa", disse o responsável do SJA.

O MPLA, partido no poder em Angola há 45 anos, apelou hoje à justiça angolana para chamar à responsabilidade os autores do "ato bárbaro", que colocou em causa a integridade física e dignidade de profissionais da informação.

Num comunicado, o Secretariado do Bureau Político do MPLA condenou "veementemente a agressão física e verbal perpetrada no dia 11 de setembro pela UNITA aos jornalistas da TPA [Televisão Pública de Angola] e da TV Zimbo" e apelou aos órgãos da administração da justiça e às entidades que regulam o setor da comunicação social, no sentido de "chamarem à responsabilidade os autores do ato bárbaro".

Angola tem eleições gerais previstas para 2022 e vive já um período pré-eleitoral marcado pelo agravamento das tensões entre o partido do poder, MPLA, e a UNITA que se juntou a outros forças políticas da oposição angolana numa Frente Democrática Unida para vencer o pleito eleitoral.

 
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