Notícia
Operação Marquês: Sócrates exige esclarecimentos sobre mudança da juíza
O antigo líder socialista adianta ver "tudo isto a ir perigosamente longe demais" e alega que a "distribuição deste processo ao juiz foi falseada desde o início, antes da prisão".
24 de Junho de 2022 às 18:17
O ex-primeiro-ministro José Sócrates pediu esta sexta-feira ao Conselho Superior da Magistratura (CSM) esclarecimentos sobre os motivos que levaram a juíza do seu processo, Operação Marquês, a requerer mudança para outro Juízo.
"A mudança da juíza não é para outra comarca nem para outra região do país -- a mudança é para a porta ao lado. Mudança de tribunal, dentro do mesmo edifício. Absolutamente extraordinário", diz José Sócrates numa carta dirigida ao CSM, revelando que acabou de "saber pela imprensa que o CSM decidiu recolocar noutro juízo" a juíza Margarida Alves a quem "havia sido distribuído o processo 16017, ou seja, conforme explica, "o Processo Marquês na sua versão reduzida de pronúncia".
Na carta àquele órgão de gestão e disciplina dos juízes, ao seu presidente e outros conselheiros, José Sócrates refere que a notícia é acompanhada da informação do CSM de que "a mudança foi pedida pela própria" juíza", mas sublinha que "a substituição de uma juíza no decorrer de um processo é assunto sério".
"As razões para que tal aconteça não podem ser frívolas, antes devem ser compreendidas por todos, em particular por aqueles a quem o assunto interessa diretamente, já que são parte no processo para o qual a senhora juíza foi sorteada como juíza natural. No caso concreto, nada se sabe. Não se sabe o motivo do pedido e não se sabe o motivo da pronta aceitação do pedido", observa José Sócrates, que é arguido no processo em causa.
Na carta, o antigo primeiro-ministro salienta igualmente que "não se sabe também quais os critérios gerais que norteiam a apreciação de tais requerimentos, nem em qual deles, em concreto, se baseou a aceitação do pedido", acrescentando que, "em síntese, não se sabe nada".
Nas suas palavras, "como habitualmente, e dando expressão a uma cultura judicial que evolui e se aprofunda pelo hábito do facto consumado, o CSM acha que deve tomar estas deliberações de natureza administrativa, com incidência, mas à margem do processo penal e das respetivas regras, sem que os sujeitos processuais envolvidos se possam informar e pronunciar sobre exceções à garantia constitucional do juiz natural".
Desta forma - diz José Sócrates - "sob o manto de motivações obscuras e misteriosas, recorre-se a um expediente administrativo para substituir o juiz determinado pelo ato de distribuição processual por um outro escolhido administrativamente".
O antigo líder socialista adianta ver "tudo isto a ir perigosamente longe demais" e alega que a "distribuição deste processo ao juiz foi falseada desde o início, antes da prisão".
"Dito de melhor forma, a distribuição do processo foi manipulada para permitir a prisão. Agora, mais recentemente, o Tribunal da Relação, um tribunal superior, recusa-se a cumprir a lei e a sortear os juízes que julgarão um recurso neste processo. Afirmam que a lei não está em vigor, como se não houvesse nesta lei `normas exequíveis por si próprias que não precisam de nenhuma regulamentação complementar para serem aplicadas", queixa-se ainda o antigo chefe do governo.
Mostrando-se inconformado com a forma o CSM decide substituir a juíza do caso, "sem mais explicações", José Sócrates considera que o que "ocorre imediatamente a qualquer espírito é se o Estado Português designa juízes para casos concretos".
"Será que a regra, agora, é a de termos juízes especialmente escolhidos para processos considerados especiais? É este o nível a que chegámos? Será que o Estado Português decidiu, agora já sem disfarce, transformar o Processo Parquês num caso de exceção?, questiona Sócrates, alegando que neste processo "já por duas vezes foram nomeados juízes de forma absolutamente irregular".
"Este incidente de recolocação da juíza parece -- por enquanto, apenas parece - a terceira vez que o Estado designa um juiz especial para o processo. Não uma, não duas, mas três vezes", insiste o autor da carta ao CSM.
José Sócrates vinca que "não se pode conformar com o que está a acontecer", justificando que com a carta pretende dar inicio a um processo de esclarecimento "de modo a garantir que o sistema judicial aja com total transparência e integridade".
"Desejo ser informado, senhores conselheiros, das razões apresentadas pela senhora juíza ao requerer a mudança. Desejo ser informado dos critérios de ordem geral que são usados pelo CSM para decidir estes casos. Desejo saber, no caso concreto, qual foi o critério, dentro desses, que foi aplicado para deferir tal pedido. Seja como for, esta decisão do Conselho não contribuiu para reforçar a confiança dos cidadãos na independência dos tribunais nem na imparcialidade dos juízes", conclui Sócrates, pedindo uma resposta às informações por si pedidas.
Entretanto, no passado dia 20, foi divulgado que o Ministério Público (MP) requereu à juíza Margarida Alves que interrogue José Sócrates sobre as viagens que tem feito ao Brasil, uma iniciativa contra a qual já se insurgiu o advogado do antigo primeiro-ministro, Pedro Delille, que entende que a iniciativa do MP "absolutamente ilegal" e que Sócrates já explicou publicamente as viagens ao Brasil com o seu doutoramento.
José Sócrates foi acusado no processo Operação Marquês pelo MP, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas na decisão instrutória, em 09 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar José Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos.
"A mudança da juíza não é para outra comarca nem para outra região do país -- a mudança é para a porta ao lado. Mudança de tribunal, dentro do mesmo edifício. Absolutamente extraordinário", diz José Sócrates numa carta dirigida ao CSM, revelando que acabou de "saber pela imprensa que o CSM decidiu recolocar noutro juízo" a juíza Margarida Alves a quem "havia sido distribuído o processo 16017, ou seja, conforme explica, "o Processo Marquês na sua versão reduzida de pronúncia".
"As razões para que tal aconteça não podem ser frívolas, antes devem ser compreendidas por todos, em particular por aqueles a quem o assunto interessa diretamente, já que são parte no processo para o qual a senhora juíza foi sorteada como juíza natural. No caso concreto, nada se sabe. Não se sabe o motivo do pedido e não se sabe o motivo da pronta aceitação do pedido", observa José Sócrates, que é arguido no processo em causa.
Na carta, o antigo primeiro-ministro salienta igualmente que "não se sabe também quais os critérios gerais que norteiam a apreciação de tais requerimentos, nem em qual deles, em concreto, se baseou a aceitação do pedido", acrescentando que, "em síntese, não se sabe nada".
Nas suas palavras, "como habitualmente, e dando expressão a uma cultura judicial que evolui e se aprofunda pelo hábito do facto consumado, o CSM acha que deve tomar estas deliberações de natureza administrativa, com incidência, mas à margem do processo penal e das respetivas regras, sem que os sujeitos processuais envolvidos se possam informar e pronunciar sobre exceções à garantia constitucional do juiz natural".
Desta forma - diz José Sócrates - "sob o manto de motivações obscuras e misteriosas, recorre-se a um expediente administrativo para substituir o juiz determinado pelo ato de distribuição processual por um outro escolhido administrativamente".
O antigo líder socialista adianta ver "tudo isto a ir perigosamente longe demais" e alega que a "distribuição deste processo ao juiz foi falseada desde o início, antes da prisão".
"Dito de melhor forma, a distribuição do processo foi manipulada para permitir a prisão. Agora, mais recentemente, o Tribunal da Relação, um tribunal superior, recusa-se a cumprir a lei e a sortear os juízes que julgarão um recurso neste processo. Afirmam que a lei não está em vigor, como se não houvesse nesta lei `normas exequíveis por si próprias que não precisam de nenhuma regulamentação complementar para serem aplicadas", queixa-se ainda o antigo chefe do governo.
Mostrando-se inconformado com a forma o CSM decide substituir a juíza do caso, "sem mais explicações", José Sócrates considera que o que "ocorre imediatamente a qualquer espírito é se o Estado Português designa juízes para casos concretos".
"Será que a regra, agora, é a de termos juízes especialmente escolhidos para processos considerados especiais? É este o nível a que chegámos? Será que o Estado Português decidiu, agora já sem disfarce, transformar o Processo Parquês num caso de exceção?, questiona Sócrates, alegando que neste processo "já por duas vezes foram nomeados juízes de forma absolutamente irregular".
"Este incidente de recolocação da juíza parece -- por enquanto, apenas parece - a terceira vez que o Estado designa um juiz especial para o processo. Não uma, não duas, mas três vezes", insiste o autor da carta ao CSM.
José Sócrates vinca que "não se pode conformar com o que está a acontecer", justificando que com a carta pretende dar inicio a um processo de esclarecimento "de modo a garantir que o sistema judicial aja com total transparência e integridade".
"Desejo ser informado, senhores conselheiros, das razões apresentadas pela senhora juíza ao requerer a mudança. Desejo ser informado dos critérios de ordem geral que são usados pelo CSM para decidir estes casos. Desejo saber, no caso concreto, qual foi o critério, dentro desses, que foi aplicado para deferir tal pedido. Seja como for, esta decisão do Conselho não contribuiu para reforçar a confiança dos cidadãos na independência dos tribunais nem na imparcialidade dos juízes", conclui Sócrates, pedindo uma resposta às informações por si pedidas.
Entretanto, no passado dia 20, foi divulgado que o Ministério Público (MP) requereu à juíza Margarida Alves que interrogue José Sócrates sobre as viagens que tem feito ao Brasil, uma iniciativa contra a qual já se insurgiu o advogado do antigo primeiro-ministro, Pedro Delille, que entende que a iniciativa do MP "absolutamente ilegal" e que Sócrates já explicou publicamente as viagens ao Brasil com o seu doutoramento.
José Sócrates foi acusado no processo Operação Marquês pelo MP, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas na decisão instrutória, em 09 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar José Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos.