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Costa: "O país sente que os políticos não tiveram respeito pelos sacrifícios vividos"
Primeiro-ministro sustenta que Governo fez tudo o que estava ao seu alcance pela aprovação do OE2022 na generalidade.
"Eu não vou fazer nem análise política, nem processos de intenções, nem andar a abrir feridas, o que importa é sarar porque Portugal tem que sarar esta crise. O país não quer mais polémicas, não quer tricas políticas, quer que nos concentremos no nosso dever que é encontrar uma solução. O País sente que os políticos não tiveram respeito pelos sacrifícios que as pessoas viveram", lamentou. "Tenho-me perguntado muitas vezes se podia fazer algo diferente."
Para o primeiro-ministro, houve dois pontos que bloquearam uma solução. "Um tem que ver com o futuro da sustentabilidade da Segurança Social, e outro com o aumento do salário mínimo. Vivemos num país com salários muito baixos e temos que ter ambição para os aumentar." Costa recordou que desde 2016 o salário mínimo aumentou 39,6%.
"É realista pôr em perigo a solidez e recuperação das empresas? Era muito mais fácil ter dito que sim do que dizer que não. Estamos a falar da capacidade de sustentação das empresas", defendeu o primeiro-ministro.
Sobre o chumbo do OE2022, se foi uma surpresa, António Costa afirmou que "o que estava em causa" no desfecho da votação era "saber se as negociações prosseguiam na especialidade". "Tnha réstia de esperança que no último minuto alguém percebesse que o país precisava de Orçamento do Estado, de estabilidade, não podíamos perder oportunidade de sair da crise e de transformar o país nos próximos anos."
"Ao longo destes seis anos conseguimos construir uma solução que foi nova, que garantiu seis anos de estabilidade, uma solução pluripartidária mais estável até agora. Conseguimos que o país crescesse acima da média europeia. Apanhámos uma coisa única que foi a pandemia, tivemos que nos bater na Europa para responder de forma distinta ao que foi a outra crise", adiantou.
Costa sustenta que o Governo aceitou a antecipação do aumento extraordinários das pensões de agosto para janeiro, a gratuitidade das creches, e a passagem à reforma sem penalização, quando questionado sobre as negociações com os partidos. "Fomos ao limite dos limites, acho que não fomos longe demais, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Uma pessoa não pode, para se manter no poder, ceder a tudo, há o limite da razoabilidade. Podíamos estar hoje a negociar o OE na especialidade. Os partidos não deixaram sequer chegar à fase da especialidade", afirma. "A conclusão que tiro é que se tivesse havido vontade efetiva de dar continuidade à solução de 2016 o OE não tinha sido chumbado."
Nenhum partido votou "ao engano"
Sobre a atuação de Marcelo, António Costa defende que nenhum partido "votou ao engano" pensando que seria possível uma segunda versão do OE2022, porque o Presidente da República anunciou logo que "dissolvia a AR". "O PR teve a gentileza de me informar antes de o dizer publicamente, que se o OE chumbasse na generalidade, dissolvia."
Quanto às eleições e uma possível solução com os antigos parceiros de geringonça, António Costa disse que não gosta de "fechar portas". "Em eleições, temos que ter a humildade de perceber que nao somos nós quem escolhe os resultados. São os portugueses que decidem quem ganha e como ganha. A ambição do PS é ganhar com o maior número possível de votos."
Aos portugueses, Costa pediu "força para governar de forma estável nos próximos quatro anos". "Depois destas eleições nada será como antes. Vamos a eleições, e ou o PS tem maioria para governar sozinho, ou é claramente reforçado nestas eleições e isso implica que os nossos parceiros à esquerda também reflictam, 'fizemos asneira e temos que trabalhar com o PS com um espírito construtivo'", hipotetizou. "Eu não fecho a porta a ninguém."
O primeiro-ministro procurou evitar comentar a situação do PS e PSD: "À direita do PS, primeiro é melhor deixá-los arrumarem-se a si próprios. Estão num processo interno, a arrumar a casa e é um processo que lhes diz respeito."
"As pessoas têm por certo que o referencial de estabilidade é o PS. Se é o PS com apoio dos partidos à esquerda, os portugueses decidirão", adiantou. Mencionou ainda descontentamento de eleitores do BE e PCP. "Muitas das pessoas que em 2019 entenderam que dar força à geringonça era votar BE e PCP, muitas delas, eu sei que estão arrependidas, porque acabaram por enfraquecer a geringonça. A vontade dos portugueses em 2019 era que a geringonça prosseguisse com um PS mais forte para ser estabilizador e moderador. Nunca ninguém esperou é que tivéssemos que chegar a este ponto em que dizer não era deitar abaixo" a geringonça.
"Com maioria ou sem maioria não deixarei de dialogar", disse o primeiro-ministro, criticando no entanto declarações do PCP e BE sobre o fim da colaboração com o PS. Porém, referiu-se aos parceiros com que procurará "um entendimento duradouro" caso não obtenha maioria, PCP e BE.
Aumento extraordinário das pensões não acontece a 1 de janeiro
Sobre o aumento do salário mínimo, declarou que o Governo "fará tudo o que é normal fazer para aumentar" para 750 euros, mas que vão prosseguir as negociações na concertação social, o que também se aplica ao aumento dos funcionários públicos e atualização das pensões.
Quanto ao aumento extraordinário das pensões, é um caso diferente, porque "o Governo tem legitimidade política limitada" e "deve fazer decisões correntes". Ou seja, não deverá acontecer a 1 de janeiro.
Costa recandidata-se a líder do PS se vencer as eleições mas sai se as perder
Questionado sobre se vai recandidatar-se à liderança do PS em 2023, caso vença as próximas eleições e volte a formar Governo, o líder dos socialistas respondeu: "Obviamente, se estiver em funções como primeiro-ministro, claro que me candidato à liderança do PS".
Já confrontado com o cenário de uma derrota eleitoral do PS em 30 de janeiro próximo, António Costa declarou: "Se perdesse as eleições, é evidente que não ficaria na liderança do PS".
(notícia atualizada às 22:37)